sábado, 29 de dezembro de 2012

Amor, Almas Enganadas (Pedro Drumond)



Amor, Almas Enganadas
(Pedro Drumond)

Amor,
Frascos trocados
Almas enganadas
Venenos em taças opostas
Elixir da vida, bebido por que morreu
Findar da existência, consumido por quem
De amor viveu

O amor é um laço de desunião, desencontros
Tu és quem amas por dentro
E não sabes o que é ser movido pela própria essência
Já que tua alma não mora em ti

Sacrificando a posse de si para ser outro
Mau sabes que tua vida foi-se para sempre
Tu não conheces teu sabor, teu peso
Apenas alguém que por ventura já te amou
Carregando-te em segredo

Tua alma está aí, animada nesse ser
Por sua vez, tu és o sufoco daquele que respiras
Livre e insano de pactos presos

O amor só se torna algo louvável
Porque no fundo é a dor do ser amado
Tida como nossa própria, equivocadamente,

A vida? Uma passarela
Onde circulam vários transeuntes
Mau sabendo que seus corpos são apenas peças
De espectros espalhados
De almas que desconhecem suas nascentes
Separadas apenas pelo crivo do amor
Da ligação daqueles que não se unem

Se tu amas, jamais saberás quem tu és
Mas viverás sendo o alojo da alma amada
(Abandonada de si - sem consciência de causa -
 para viver através de ti, e vice-e-versa)

A verdade é essa: A vida arquitetou o amor
E o depositou em almas desordenadas!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Passando por Drummond...


Certa vez li em algum lugar que a felicidade não atravessa portas fechadas. Certamente uma alusão às almas reclusas. Pois bem, confiemos então no amor, esse sim é mais vil e direto - Arromba portas, destrói candiados, pula muros, ateia fogo nas almas, bagunça tudo, estabelecendo toda ordem de caos, somente para depois varrer o que restou dos bloqueios e do pó de nossas vidas. Assim, ele desloca a existência humana e passa a viver com liberdade. Se os animais são casacos de pele, nós, nós somos penas e plumas. Que nossas vidas sejam transbordantes de amor. Do amor que ama amar!


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Finada Esperança (Pedro Drumond)




Finada Esperança (Pedro Drumond)

Não consegui lamuriar o amor
Que não pôde exalar, como preferia,
O que restava da minha essência

Nem pude prantear, mesmo a minha finada esperança
Que há anos, até agora,
Encontrava-se sentada num banco de praça qualquer,
Suja e abandonada,
À espera de um encontro marcado, sem nenhum compromisso

Quando deu por perceber
Que a união ansiada não ocorreria de qualquer jeito
Partiu em silêncio, esquecendo-se rapidamente
Do que a levara até ali
De súbito, sem que me visse, eu a segui

A vida é uma união de mundos e almas
Que não pertencem às mesmas galáxias nem verdades
Aglomerando-se acidentalmente no mesmo espaço
Encontrando umas às outras, qual bando de refugiados
De todos os campos, de todas as guerras
De todos os sonhos, de todas as esperas

Assim a esperança foi se afastando do seu templo
Eu testemunhava tudo, escondido
Não havia pranto - Chorei em silêncio
Então ela, qual espectro, de repente desapareceu!

Consigo levando a tão aclamada resposta
Para todas as perguntas
O bálsamo
Para todas as angústias
E o encontro
De todas as procuras
Que em nada sucederam

Pois seu amor, tão claramente exposto
Foi tido como ininteligível pelo seu principal leitor
Podia-se dizer que havia indicado caminhos
Aos perdidos que andavam sem saber caminhar

Mais uma vez a esperança cantou
Tanto para o vulgo popular quanto lírico
E por nenhuma de ambas as partes foi escutada
Resolveu então partir para outros rumos
Levando a sua grandeza
Sabendo que seu amor maior
Não pôde ser abraçado às almas pequenas

(E foi justamente esse o seu penar. Ela queria apenas se dar
Para quem achava que valia à pena)

No entando a piada que viera em reposta
À sua tão séria declaração de amor
A fez concluir que nada mais lhe comporta
Tornou-se uma fada mais risonha
E a mim, testemunha ocular, o mesmo ser triste de sempre
Contudo, insento de dor

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Nós, Meros Poetas - Antologia da União Cultural

A poesia "Nós, Meros Poetas", que se expressou através de mim, ganhou mais vida na Antologia da União Cultural - um livro com poesias livres, trovas, sonetos clássicos, crônicas, contos, cartas, traduções e minicontos. O objetivo de organizar essa antologia foi o de unir pessoas, através desta obra, de regiões e culturas distintas, cada uma podendo escrever com liberdade e no gênero que melhor as satisfizessem.

Obrigado a Renata Scarparo, minha eterna e amada amiga, também poetisa, que tão carinhosamente me convidou nesse projeto de seu interesse. E ao Luiz Antonio Cardoso, que idealizou e organizou a obra, por ter aceito me incluir nessa intensão.

Sem poesia o mundo não teria bons sonhos!





quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Mau de Mim (Pedro Drumond)






Mau de Mim (Pedro Drumond)

Era uma tarde tão serena
Que de minha parte seria ingrato, mera blasfêmia
Querer abrir mão da vida, da essência
Se tudo isso não incluísse você

Os olhos verdes de um, o silêncio tímido de outro
O ser que não pertence a sonho nenhum
A paixão leviana que condoída do amor
Dispõe o seu consolo

Se toda vez que eu me embriagar de êxtase
Não me der conta que o amor do mau de mim sofresse
Eu irei passar junto às rosas
O que restar da minha sombra de alma
Pois sou um oco casulo, cuja a esperança
Apartou sem destino toda magia, toda calma

Dois cacos de fonte percorrem abismo
Que as metáforas não figuram
O que sou? O que restou? Pra onde vou?
E a vida fingindo que não me escuta

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Celos de Artista (Pedro Drumond)





Celos de Artista
(Pedro Drumond)

Renuncio ao mundo, renuncio a mim
Desafio a vida, provo-lhe o seu fim
Minh'alma vai aos poucos desfalecendo, encontro-me na coxia
Na dimensão dos palcos em instantes estarei crescendo
Silêncio! Das profundezas do meu ser
Há alguma entidade que urge...
Oh! Celos de artista

Eis um ofício, que na verdade é um abismo
Do mais complexo, simples e não menos espiritual:
Ao surgir do intérprete, o personagem íntimo,
Não é que o bobo da côrte lucra acima do seu direito?!
Pois duas chuvas numa mesma gota é um mar colossal

Caço dentre mim a voz que nas cavernas há de ecoar
Caço dentre mim a outra vida - sentido da narrativa -
Sabe-se lá quantas almas eu tenho?!

Distancio-me de mim, nada temo. Ah... que prazer!
Sou apenas a testemunha vulgar do meu agora condutor
Esse espírito... Esse espírito... O que de mim fará esse espírito?
Sim... Ele... (trombones) Eis o trovador!

Disfarce. Verdade. Eternidade.
Espírito da arte, embriague-se de mim!
Roube-me! Desgrace-me!
Corte-me! Quebre-me!
Viva-me, mate-me!
Passe por cima desse meu cadáver

Ah, Invada-lhe! Consome-lhe! Estupre-lhe!
Provoque o meu "Não-ser" para existir logo de uma vez
Sob o estado "Grã de Magia"
Celos, celos... Oh, quantos celos... Celos de artista!

No multifacetado, cada personagem encarnado
É uma vida a parte dentro da sua vida
Cada canção é um destino que segue além do seu trajeto mundano
Cada vez que o palco lhe chamar, ele há de fitar aqueles olhos de Medusa
Da arte viva!

Deu-se o salto final, escorrem-se os aplausos
Ouçam! Vejam: A perfeição ali animando minha roupagem
E eu aqui, espionando-a envaidecida
Já que as luzes se apagam
E eu embora permaneça sendo nada mais que uma miragem,,,

Ora, cale-se, farrapo!
Ouçamos "Celos de artista!"


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Poeta Pálido (Pedro Drumond)





Poeta Pálido (Pedro Drumond)

Poeta Pálido
Cuja vida roubou os tons da alma
Cuja vida só lhe pôs no espaço
Para sufocar-lhe, esvaindo-se o pouco que restava

Poeta pálido
Que me dá a liberdade de ser
De escutar e principalmente...
Com sublinhas de intencionar o sentir

Poeta pálido
A quem se revela o passado
Visto que há de relembrar outras cores
Analisando qual frio redator
Dores aquelas que não passaram de amores

Poeta pálido
Quem me dera um abraço
Se na brisa eu também não evaporasse
Se de tão longe, meus versos aconchegam-se ao seu lado

Temo, dentre tantas confessas crises existenciais
Que o tema de temor desencarnasse uma verdade
Por ter vindo à superfície das palavras
Caso todo amigo, todo navegante
Só por ficção, utopia
Indubitavelmente te amasse

domingo, 4 de novembro de 2012

Verdades Inconfessas (Pedro Drumond)




Verdades Inconfessas (Pedro Drumond)

Paradoxo
Infernal, celestial
O açúcar, o sal
A secura, a umidade
De dois olhos fitando um único abismo

Que é encantador pelo seu infinto
Preenchido quanto mais vazio
Entendido quanto menos respondido

Por mim passaram as verdades inconfessas
Por mim que viu o limite do eterno
Por mim nada resta
Um parto para cada poesia
Um sacrifício para a nova vida

Do amor que sobreveio à margem
Somos seres que foram despertos por outros
O sabor, a essência, a alma
Não é nossa por dentro do corpo

Guiado pela luz de outro caminho
Que sempre me ocultará meu verdadeiro destino
Eu sigo o rastro da fragrância jamais do meu
Mas de outro até mais avesso espírito - o Amor

sábado, 3 de novembro de 2012

Sangue numa Página em Branco (Pedro Drumond)





Sangue numa Página em Branco
(Pedro Drumond)

Se eu sei para que me surgira o amor?
Não descobri ao certo se para me expandir ou reduzir
Mas de fato seu único intento fora silenciar minh'alma
Instalá-la ao silêncio
Nada de guizos nem glórias
Apenas... e só apenas, sentimento

O amor fora tão primordial na minha vã história
Que por se tratar de sangue numa página em branco
Não tivera qualquer impressão, tradução
Portanto só me restara ser meu próprio significado
Meu único alento

Mil fantasias de um lado
Já d'outro a previsível dor
Nada que antes não tivera sido passado
Na goteira jazente e asfixiante da realidade, fez-se amor

E se for para falar de algum privilégio, confesso
É muito mais cômodo, pois nada custa ao hesitante aprendiz
Ser-se mais um infeliz na vida

Pois quem, sem maiores intensões
Reanima as brasas da felicidade
Assim como quem ama, preza mais o que semeia
Contrariando o que cativa


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Arte, pura arte!




Sabe o que torna a vida compensatória? Sabe o que a torna válida? Consegue me dizer o que dá sentido a tudo isso? Qual seria o estado mais belo, profundo, singelo, divino ou celeste que reúnem os homens, transcendo-os e os purificando?

A arte!

A arte é um amor evoluído e o amor é um artista boêmio embriagado de humanidade, ou seja, de grandeza pelos seus mínimos e autênticos representantes.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Vestígios do Amor (Pedro Drumond)





Vestígios do Amor (Pedro Drumond)

Perdem-se as dúvidas, as buscas, as utopias
Finda-se na dimensão do viver as expectativas
Mas há algo... algo que se esclarecido, bom seria

Por isso pranteio uma doce tristeza
Que há tempos não me ocorre
Ah, quantas lágrimas, o amor e talvez você
Oh, estranha alegria! Amor, chore!

Chamo-o de amor, por não saber desqualificá-lo de outra forma
Nada acontece, as almas estão sempre seguras
Vagueando sobre as ruas, sabemos quem vai, quem vem
Juntos velamos o centro da vida, pois todos somos ninguém
E agora?

Orgulhe-se de seu pranto, ele é próprio de quem não é triste
Mas tem coração
O amor nunca estará por último nem poderá ser algo primeiro
Sinta-o, viva-o, mate-o, porque nada lhe ocorre pessoalmente

Aqueles olhos de mim fugiam, sempre fugiam
Agora esvaiu-se o que restava de alma
Sou um corpo sem vida, uma matéria inerte
Nada habita nessa carcaça que sou
A não ser vestígios do amor


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Ausência de Amor (Pedro Drumond)




Ausência de Amor (Pedro Drumond)

Que espécie de ser humano chegaria a esse dilema:
Não existindo vazio pior que a extinção de sua ilusão e angústia
Seu peito, enegrecido pela ausência de amor
Confessa a falta que lhe faz
Aquela que um dia fora a sua primeira dor

Minh'alma por hora é um cais deserto
Onde há muito silêncio
Tal qual a paz de um dia sem tempestade
Ah, maldita paz!
Agora não me há sequer lascas de esperança ou medo
Foi-se de vez o fino amargor de uma saudade voraz

O amor agora decaiu no abismo que sou
Ele não escuta meu chamado
Pois já começo a ter falhas na memória d'alma
No sofrimento pelo menos eu amava... ou achava que amava
E mesmo assim nesse ínterim a felicidade nunca foi dispensada

Mas nesse momento, depois do amor
Tal nostalgia mui vagamente me assola
Em mim presente tal ausência
Depois do amor nada mais vigora
E o que sou eu sem a minha essência?

Não mais encontrei o amor
Aonde o deixei pela última vez
Eu parti sem querer ir e só por isso não disse adeus
E hoje volto surpreso, sem encontrar outra dúvida
Que não seja eu

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Somos? O que? Pra quê?





Nós somos apenas rascunhos. Setor em análise. Nós nem vivemos, nem existimos, nem morremos, nós nem porra nenhuma. Estamos na instante no concurso de convencimento - quem realmente vai passar do papel para o edifício? E isso não depende de 
nós. Na realidade, a gente nasce por meio do processo de gestação. Nascemos. Mas ainda somos uma barriga em gestação. Nós somos a barriga. Gestação. Algo tem que explodir, emergir. Nós somos apenas essa ponte. Depois que esse algo atravessar o caminho ficaremos para trás.





Porque é essa avalanche - que nos ensinaram ser suicida, clandestina, suja - quem realmente somos. É no selvagem que se encontra toda a pureza imutável do mundo. Nos ensinaram isso, aceitamos. Somos o que não somos porque se fizermos o contrário é como o rio que abre mão de sua pequenez porque só assim é que há o mar. O mar que invejamos e por tal jamais alcançamos.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Natureza de Incompreensivos (Pedro Drumond)



Natureza de Incompreensivos

(Pedro Drumond)

Deus...
Conhece quem o ignora
Amor...
Sente que lhe anestesia
Felicidade...
Dada por um encontro acidental de quem a porta
Solidão...
Amante das almas destemidas e dos seres sombrios

Vejam só, que pena! A solidão não me tem
Mas não me queixo de tê-la comigo

Ser encantador
É a única forma de oferecer riscos à vida
A luz do luar de espaço tão longínquo me chega
Intermediada por essa mesma escuridão
Que fez da lua minha vizinha

Se de cá ela é um reflexo
De lá eu devo ser a luz do dia

Eis o amor, como o único dilema que eu posso abordar
Sou o escolhido - Qual poeta, o amor posso expressar
Todavia com aquela única condição fatal
Onde a sabedoria só se é empregada
Quando não admitimos nossa natureza de incompreensivos
Nós que muito falamos
Porque no final hesitamos em entender
O que quer que fora dito

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Sábio (Pedro Drumond)




O Sábio (Pedro Drumond)

O sábio vivendo como tolo
É uma rara alegria universal 
Que passa sem ser percebido pelos transeuntes 
Seu véu é feito de desgosto

O centro do universo está implantado em sua alma
Mas ele não está cheio nem vazio
Fustigantemente nada lhe mata, nada lhe salva
Ele nem existe para ser sozinho

Ele fita longamente seu interior
Nem a solidão o faz mais de sua estadia
Ele recorda que ali outrora residira o amor
Do nível mais profano ao mais sagrado
Agindo como a visão de um orgasmo
Quando ao findar enquanto amor, explodira
Exibindo só ao fim da vida toda sua plenitude

- Reduzido ou expandido ao silêncio?
Indaga a respeito de si mesmo o sábio
Ele só não sabe que sua alma
É tão fugaz quanto o vento
Ele encravou-se separado de sua consciência
Ou seja, durante o sábio, a sabedoria não surge

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O Negro das Galáxias (Pedro Drumond)




O Negro das Galáxias (Pedro Drumond)

O amor não foi alguém que conheci
Mas algo que vivi
O amor passou muito perto de mim
Mas não olhou-me nos olhos
Amor que ofertei, tristezas que recebi
Lágrimas que na verdade eram jóias

Venho amando simplesmente por amar
Por não saber mergulhar em outra coisa
Sou celeste na máscara de um espírito vadio
O amor que sou não é endereçado a ninguém
Sinto-me completo porque sou vazio

Necessito de minha secura, meu silêncio
Tudo mais que preencher embaça
O que liberta, expande
Faz meu ser recheado de amor
Como o negro das galáxias

domingo, 19 de agosto de 2012

Lágrimas Cósmicas (Pedro Drumond)




Lágrimas Cósmicas (Pedro Drumond)

Amanheci com lágrimas novas
Sim, elas vieram me visitar, prestando-me o favor
Lágrimas que trazem lembranças de outrora
Lágrimas que são mais puras que a dor

Não vejo mau algum
Se a tristeza foi a minha intercessora
Se foi a única disposta a pegar-me pelos braços
E apresentar-me ao amor

Ele era meio austero
Mas pediu-me para chegar mais perto
Em seguida ela deixou-nos a sós
O amor tinha olhos tão negros
Um sorriso sem medo
O amor calou minha voz

Passeamos por uma existência
Onde desertos se floreavam
Porque éramos essência
Um filme eterno que passou em segundos

O amor partiu pra outro mundo
Mas não me esqueceu
Manda-me lágrimas cósmicas

"Eis minhas lembranças mais preciosas
Seu amor sou eu."

E a tristeza ainda vem me vistar
- Diga ao amor que eu o amo.
Quero também partir para não mais voltar.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Elo Perdido (Pedro Drumond)




Elo Perdido (Pedro Drumond)

Mais um vulto das sombras
Teu olhar pranteado
O que me conta?

Fragmentos de um'alma em pó
O fardo é só uma das bagagens da vida
Posto que o caminho não é só

A ilusão e o nada
Côrte e realeza
Coroa de ouro da vida
Onde a alegria é serviçal da tristeza

Encontro-me tão distante
Do propósito para com a verdade
Dos ecos de sentimentos

Que fiz-me um elo perdido do coração
E se questiono o destino
Toda resposta vinda é em vão
Basta! Eu sou o silêncio

sábado, 11 de agosto de 2012

Homens Formados (Pedro Drumond)




Homens Formados (Pedro Drumond)

Eu tinha asas
E quiseram ensinar-me a voar
Eu era inocente
Até encherem-me de conceitos
Padrões, deveres, sistemas, regras
Já dizia o velho mestre:
"Um bom menino entra nos eixos"

A sabedoria pôde ser dispensada
Posto que o intelecto já tinha formadores
Pensamentos prontos, pessoas acomodadas
Autoridade, títulos e controles

Seria nosso mundo diferente
Se tantas disciplinas
Não fossem catálogos para a mente?
Meus senhores, atentem-se!

Menos geografia
E mais a arte do correto viver
Menos história
E mais revelações sobre a alma do ser
Menos cálculos ou notas a galgar
Escola, pergunte a sua gramática
Se os homens são formados na área do amar

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Vencedor (Pedro Drumond)





O Vencedor (Pedro Drumond)

Livre não é aquele quem realiza renúncias
Mas quem encontra a si mesmo sem sequer aderir a busca
Uma conquista diverge de todas as metas impostas
Vencedor é a sombra do monte, o temor dos nébridos homens
Tendo-se a si mesmo como testemunha

Espetáculo de almas imundas:
Visiona-se nos que se sacrificam inutilmente
Nos campos de batalha, nos campos de religião
Tudo aquilo que haveria de ser nossa maior fuga
Resistindo em lamentos contra nosso sereno coração

Vencedor é o hesitante naufragador desses conflitos
Seja contra si próprio
Ou contra esses outros aflitos, quais distante observa

Vencedor é o descedor dos vales
Mesmo que tachado de covarde
O que por ventura não lhe causa desgostos
Este muito se orgulha por não possuir pobres tesouros

Afincando entre os cadáveres a bandeira branca de paz e união
Insígna da sua sagrada impessoalidade, fundo sem parâmetros
Torna-se perdido e desconhecido de toda constelação

O esforço degenerado é incompatível com a simplicidade
Quanto mais impoluta, favor não venhas a presumir
Que não se torne tal alma capaz de vir a ser mais pura
Quiçá mais que a minha, que a dele, que a tua.

sábado, 28 de julho de 2012

Olhos Petrificados (Pedro Drumond)




Olhos Petrificados (Pedro Drumond)

Quisera eu ter tristezas
Acredito que essas são felicidades pelo avesso
Até elas abandonaram-me

Sou vazio
Silencioso
Negro
Nada disso é pacífico

A medida em que me observo
Tão profundo quanto um abismo
Eu não existo

Sinto que se sou uma fonte de amor
Foi por ter vindo dos desertos
Do contrário já teria padecido

A maior tristeza das lágrimas
Vem de quando não as derramamos
Sagazes, chamam-nos atenção por meio de quem amamos

Deságue
Quem sou eu para ensinar-te a ser triste?
Se tristeza é obra de arte que a paz não permite

Minha vida é uma tela em branco
Na minh'alma loucos me guiam
Não podem ser vistos
Quero morrer na profundidade dos meus olhos
Olhos petrificados, garantias de meu eterno carinho

sábado, 21 de julho de 2012

Nós, Meros Poetas (Pedro Drumond)




Nós, Meros Poetas (Pedro Drumond)

O amor pode ser eterno, caso verdadeiro
Por conta disso jamais há de permanecer o mesmo
Dedico a dor ou o amor a quem souber reconhecê-los
Nas paragens mais sórdidas do deserto

Lá estava eu, qual eremita, brigando pela vida num contínuo desabrochar
Lá eu me encontrava para ser resgatado pela alma vaga, intuitiva
Por conta disso minha natureza não me desmente
Sou um ser que nasceu chorando poesia
Sempre questionando todos que estavam vivos
Sem saberem pra quê serviam-lhes a vida
A lição é mais que amor: Haveremos de deixar de desamar

Nós, meros poetas, jamais vivenciamos suspiros e temores
Nossos corações permanecem soltos, livres em chamas
Com sentimentos tão mais sublimes quanto que arrebatadores
Sem ilusão, sem machucados
Sem Sol, sem estrelas
A mente nos engana enquanto o amor nos emana
Colhemos do poço mais penumbrante
Lágrimas que a alma de tão condoída clama
Até perder as forças e titubeante dizer - Por favor, chega!

domingo, 15 de julho de 2012

O Que Será Amor? (Pedro Drumond)




O Que Será Amor? (Pedro Drumond)

O amor não é o milagre do começo nem o disfarce do fim
Não é o encontro da alegria nem a tristeza é sua consequência
O amor deixa de ser não, mas não deixa de ser sim
O amor não é o deslize da vida nem o percurso da morte
Não é a história de mentira nem a verdade prometida pela sorte

O amor não é a voz sufocada tampouco o silêncio a gritar
O amor não é o descarte do possível nem a sujestão do impossível
Não é o indício nem o mistério resolvido
Não é a amplitude das perguntas nem o limite das respostas
O amor é simplesmente o aqui e o agora

O amor não é a recordação de ontem nem o sonho do futuro
Não é a evidencia do acerto nem a prova do erro
Portanto nem se engane pensando que é o desencanto da virtude Pelo encanto do defeito

O amor é essa inenarrável Criação
Nós somos de longe sua mera forma de expressão
O amor não está na ambiguidade que nós tanto conhecemos
Não está situado nesses contrastes onde perecemos
Certamente há de estar na beira do espaço que o vento beijou
Ele chega quando menos se deseja
Ansiando ainda mais por quem não se pôs ao seu dispor

O mais desafiante do amor é chegar a permanecer na sua profundidade
Mas quando sua essência exala-se na alma escolhida
Sua vibração vigora além dos anos
Lembrando que não é o ser humano que é movido pelo amor
E sim o amor que é movido pelos humanos

Pois somos inegavelmente partes dele
Mas não caiamos na asneira de achar que ele é nosso
O amor se utiliza do que temos, nos dando uma breve visão
Daquilo que por hora não compreendemos

O amor puro e elevado ver-se acima das alegrias e dores
Pois encontra-se envolto em nosso meio, sendo a regência soprando sua própria voz
O amor ao nosso redor é esse vislumbrante invisível
No qual eu, tu ele, ela - Nós,
Estamos plenamente incluídos
O amor é a tua garantia para a união com Deus, em ti vivo!

sábado, 7 de julho de 2012

Fonte do Amor, Torne-se!





Enquanto um ser ainda precisar que a vida, de bom grado, ponha sempre em seu caminho alguém para despertá-lo (para o) amor ou mantê-lo neste, este ser estará fadado a sofrer. Nós temos, antes de tudo, a urgência necessidade de reconhecer que aquela incrível fonte, mágica, tão especial e divina - o justo amor que somente nós tivemos juízo de realidade, por não obstante amarmos em condição de eremitas - é NOSSA, está dentro de NÓS, e cabe a NÓS mantê-la fluente, COM OU SEM alguém, com ou sem pedras no caminho.

Se precisar de alguém que lhe traga água, você jamais beberá a fonte e sempre permanecerá com sede, pois o alguém que trás o que já não se conquistou está destinado a ir embora. Entretanto, torne-se a fonte do teu próprio princípio de amor e assim sendo quem sabe alguém lhe chegue e contigo fique? De uma coisa podemos nos certificar: Somente quando estivermos aptos para sermos amados, após nos tornarmos a única fonte que recorremos, saberemos o que significa o amor ágape - o único amor que ama simplesmente amar!

Pedro Drumond



domingo, 24 de junho de 2012

O Encontro Com O Eterno

Tudo o que se apresenta-se diante de  nós sob o julgo da grandiosidade (virtudes, religião, sistemas, felicidade, etc) e que se apresenta sob a forma de um grande portal (Siga-nos!) infelizmente te levará para não menos que o ponto ordinário da limitação. Na verdade caso queiramos nos  defrontar para com a eternidade, a princípio prefiramos trafegar pelos nossos pontos minúsculos ou "negativos" (defeitos, erros, fraquezas, instintos). Sim, aqueles que sejam eles quais forem nós em maioria consideramos os ditos responsáveis pela diminuta visão que em menor ou maior grau temos de nós mesmos.

Isso pode soar absurdo, mas digo que é através da transição entre a nossa sede de apoteoses e as coisas minimizantes que chegaremos ao grandioso portal da eternidade. Se começarmos pelo conveniente, adornado e coletivo, estaremos de fato caminhando para o fim. Nossa busca espiritual é solitária porque a vida insiste em estar ao nosso lado, nem que para isso tenha de nos afastar de nós mesmos.

- Pedro Drumond




sábado, 23 de junho de 2012

Torpe de Ciúmes (Pedro Drumond)




Torpe de Ciúmes (Pedro Drumond)

Desafiei todos os limites
Como répobro sagaz, apossei-me de ti
Ah, cabocla, se tal amor tu sentisses
Teu destino guiaria-te só para mim.

No entanto quando menos desconfio
Do meu lar já foste embora
Ah, quem me dera desvendar-te a íntimo
Minha amada tu serias como nos sonhos de outrora.

Dói-me teu tamanho escárnio
Fazendo de mim um reles homem miserável
Tu que para meus anseios nada promoteu
Diga-me, quem velarás em teus braços?
Quem amar-te-á abandonado assim como eu?

Se acaso nada houvesse rompido nossa aliança
Tua, somente tua, seria minha total confiança
Agora, torpe de ciúmes, ameaço-te
Enquanto sutilmente o amor me consome
Hei de matar-me com bárbara mágoa do teu olhar
Eu que por infelicidade te amei
Morro sem saber se algum dia chegaste a me amar.

sábado, 16 de junho de 2012

A Donzela & O Nobre Cavalheiro (Pedro Drumond)




A Donzela & O Nobre Cavalheiro
(Pedro Drumond)

Cá estou, abrace-me e repare se eu deixei pedaços de mim pelos caminhos
Cá estou, e se sobrevivi foi para desfrutar por último do teu carinho
Chuva forte que cai e eu que cá estou, mais adiante temos o cais
A saudade foi uma donzela não amada que ao me ver amou-me demais

Depois da fantasia, depois da realidade
Depois de sofrer, depois de alegrar-me
Depois de viver e mesmo depois de morrer
Se o amor vela na minha cicatriz
Foi por eu esperar tuas lágrimas que me poriam um fim
Um fim que me daria paz

O amor foi um nobre cavalheiro
Que não beijou-me para eu amá-lo ainda mais

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mistério (Pedro Drumond)




Mistério (Pedro Drumond)

Não é de se estranhar que fosse madrugada
Quando, farta do seu penar, despertou minh'alma
Previsivelmente eu não detinha mais resistência
Passei a fala da vez à essência

Que mistério será esse que tanto venho calhado?
Só por fugir-me a compreensão, seria de fato mistério?
Que haverá no homem enquanto ser
Que lhe imprime um caráter nunca antes sentido?
Minha alma pôde confundir-se una ao amor
Haveria então de fragmentar um coração já partido?

Mas o que segreda-se numa certa presença
Que nos arremata para tão profundo íntimo
Já que meu mundo ilustrado vive num ser fora do retrato?
Sinto tanto, não menos nada sinto
Que sentirá, portanto, a vida quando nos repara - nós, meros abrigos!

Amor, que tanto voa e dos céus tem descido
Amor que por amor trás a dor que encontrou no caminho
Amor que para também não encontrar a solidão
Fez de mim um ser de coração

Amor que de tão interior não viu melhor forma de me matar
Amor, o verdadeiro amor, encontrado por mim na forma de rubra rosa
Se tal rarefeita rosa é sublime nas camadas outrora gastas por mim
Imperará doravante sua vida sobre solo desértico?

Por isso não temo mais a morte - assim sentindo e assim fazendo sentir -
Talvez seja-me mais provável esbarrar com Deus no inferno...

Mistério?

sábado, 2 de junho de 2012

A Dama & A Cigana (Pedro Drumond)




A Dama & A Cigana
(Pedro Drumond)

A dama anda pela rua
Tal qual uma plebéia
Precisa de máscara, pois não suporta-se quando nua
Frente a um cavalheiro, uma corte e uma platéia

A cigana, rainha de todas as rosas,
Perambula nos cemitérios como erva daninha
Passa por entre lágrimas com o perfume da morte
Somente para arriscar um palpite - Quem de fato seria?

A dama, suja de lama
Passa por entre os guerreiros
Que lhe roubaram o corpo em noites de vitória
Outrossim percebe a derrota de seus escravos
E sente-se tal qual a cigana de outrora

Agora, com as máscaras que lhes foram impostas
Suas almas feminis vivem dentro de um caixão de pregos
Aproximam-se nobres príncipes e boêmios vadios
Sem notar-lhes nenhum valor

A dama e a cigana vagueiam em desalinhos
Ambas amando sem nenhum amor

sábado, 26 de maio de 2012

Cabrocha do Poeta (Pedro Drumond)


Cabrocha do Poeta (Pedro Drumond)

Oh, cabrocha leviana
Tu choras, mas por ora só sabes que ama
Procuras num dado coração
Ou talvez num poço profundo
Uma alma para se dar

Aconselho-te, no entanto,
A procurar a madrugada
Que ainda em penumbra lhe chama
Vá, mas saibas, cabrocha
A Lua ainda te ama!

Oh, cabrocha das mais inocentes
Teus castanhos olhos não me mentem
Provam-se incapazes de decifrar
Tudo aquilo que seu coração sente
Tudo aquilo que eu tenho a ofertar


Oh, cabrocha
Bem o sei que há tempos não desabafas
O mundo também pena afim de lhe entender
Se viveres doravante em aventuras noctívagas
Não regresses tristonha na alta madrugada

Sejas fantasiosa
Tal qual as estrelas em seu transcorrer
Sejas a ilusão, se preciso for
Pois em teu silêncio as estrelas vivem a morrer

Sou poeta que na vida não existiu
Por isso mesmo ao lhe deixar
Teu amor de mim não sumiu
Só pude com teus abraços contar
Para amenizar-me dos falsos amores
Cabrocha, ser teu amado pôde me bastar
Para não ser um poeta que versejasse só de dores!


sábado, 5 de maio de 2012

Eterna Poesia (Pedro Drumond)



Eterna Poesia

(Pedro Drumond)

Ah, como poeta já nasci chorando
Não menos pude viver, senão amando
Para finalmente morrer, sorrindo

Nesta vida de cicatrizes aconteci-me em letras
Sem sequer saber que um dia
Certamente tornar-me-ia o ser mais feliz do planeta

Numa manhã sorrateira
De céu tão sublime - ora, quanto frio!
Chegaste-me tu, muito bem acompanhado por sinal
Vinhas com olhos tão flamejantes
Pares esses amantes de um sorriso luzido
Expressando ao todo inigualável ternura
Qual nunca antes convidou-me a bailar contigo

E eu ali - céus, que loucura! - Quase partindo
Mas pude, contudo, salvar-me a ficar
Lembrei-me de dada canção
Melodias de linda história de amor
Mas em seguida desatou-me no peito certa dor
Havia quase esquecido-me: Juntos não podíamos cantar

Ainda atônito, meio desacreditado
Pareceu-me bem, se não estiver enganado, de avistar teu coração
Para mim se abrindo

Sem titubear, lancei-me em teus braços
E tu, tal qual querubim enamorado, surpreendeste-me
Prostrando em meu rosto um beijo simples e delicado
Mau sabias que nesse instante havias de ter me tornado:
"O Purificado"

Oh, Deus, diz-me, por quanto tempo com isso venho sonhado?
Quantas vidas tivera eu de morrer na espera desse bem-amado?

Sobretudo, o improvável provara-se irrefutável:

Regressando ao meu lar, cambaleando
Já embriagado de amor eu parecia estar, dispensava o pranto
Até que, subitamente, dei por mim desfalecido
Sim, em pouco tempo eu morria, todavia da forma mais magista

Nosso amor até então de oculto nada havia
Vou-me embora para além dos horizontes
Morrendo justamente no dia mais feliz da minha vida
Seu beijo em meu rosto foi bem claro ao dizer:

- Te amo, poeta! Não esqueça: Sou eu tua eterna poesia!

sábado, 14 de abril de 2012

Emocionar, Eis a Missão



Emocionar é algo muito mais emocionante que ser emocionado.

Provocar lágrimas ou simples marejas que fazem o canto de outra alma novamente ressoar é mais tangível e deslumbrante que tudo aquilo que você mesmo possa vir a experimentar, visto que por conta disso possuímos certa acentuação para sermos dissolvidos pelas nossas débeis distrações e apagões de consciência, nos lautos acordeões do tempo ancião, abdicando portanto do nosso verdadeiro êxtase de Ser, justamente nos exatos momentos que haveriam de nos ser eternos.

Tal qual os rastros deixados nas areias do deserto, nada de fato permanece sem a nossa impressão. Tudo se eterniza e não obstante vemos rasurados e implícitos  pelas superfícies dos ventos adunais as nossas secretas nostalgias. É vero que quanto mais nos aprofundamos na vida, mais esta nos prova ser pura e virgem e de todo modo impenetrável. Por que então não assumimos então  a nossa singela inocência?

Pedro Drumond

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pomar da Vida




POMAR DA VIDA

Uma vez eu assistia o sol em pleno amanhecer. Conseguia fixá-lo sem nenhuma contração nos olhos. Sua fronte me parecia ser nada mais que uma capa, um pouco mais escura e bruxuleante. E em sua volta, percebia-o como um aro fulminante e fragoroso, tendo sua luz circulando em inequívoco disparate. O céu parecia um quadro certamente de um pintor excêntrico - Azul era o fundo chambre das tímidas nuances alaranjadas, que sutilmente traçadas e bifurcadas eram anagramas espasmos e dourados de esplendor. Foi um lindo e bárbaro espetáculo.

A natureza é interessante, não é mesmo? Ela nos dá várias lições, mesmo sendo tão silenciosa...

Por exemplo, na minha janela falta entrar uma grande árvore que me viu crescer. A maioria de suas folhas é de um colorido escuro e pasmoso, um verde melequento ou menos luzido. No entanto, no meio de algumas, há um cadinho aqui e outro acolá de folhas mais verdes e cintilantes.

Isso sutilmente me remete às pessoas na vida, onde a maioria encontram-se em profundo estado torpor, sonolento, inconsciente. Todas essas pessoas meramente pacatas são pedregulhos para seus próprios caminhos. Outras, no entanto, como as folhas  mais verdejantes possuem um mistério mais luminoso, consciente e vívido. Irônico, não?

Esse contraste é uma simples ressonância. No entanto se você separar um grupo do outro, ambos se tornarão insignificantes. Se você retira da árvore, do Todo, o verde mais pálido e escuro, que sustentáculo teriam o êxtase e a celebração das outras folhas cintilantes? E se você acaba com essas folhas tênues, como podemos identificar a culminância das outras sombras, essas mesmas que estão em processo de iluminação?

Isso tudo parece a alma humana - Feita de luz singular, porém, incomensurável, infinita acompanhada, outrossim, de milhares de outras sombras dentro e ao redor de si. Penumbras dissipantes e limitadas por natureza.

Todas fazem parte de uma mesma obra. Todas acentuam um mesmo significado.

Todas são duais caminhos que te conduzem a uma só chegada, a uma só conclusão.

Todas, porém, são oriundas das mesmas raízes, o mesmo tronco as protege, os mesmos galhos as enlevam.

Todas são cortinas e baluartes artísticos dos mesmos sabiás, das mesmas borboletas dançarinas. Todas recebem a mesma chuva, o mesmo sol e são bravamente despidas no mesmo outono.

 Todas são todas e todas ainda assim são nenhuma. Diferentes entre si até como nós somos e não obstante seguidas de um mesmo brilho e significado!

Pedro Drumond

terça-feira, 3 de abril de 2012

Por: Edvaldo Pereira Campos Nettos



PEDRO DRUMOND

O cheiro, o jeito, a flor
Encanto em pétala e luz
Cosmos em si reproduz
Beleza e força interior.

Um anjo despencado
Caído em tenro jardim
Solo fértil e um fim:
Broto da paz semeado.

Caule, folha e flora
Seduzindo abelha
Em sua boca de amora

Cítrica, sucosa, vermelha
É poema polinizador, Ora
Com riso da fruta à orelha.

domingo, 1 de abril de 2012

Lua, A Iluminada (Pedro Drumond)




Lua, A Iluminada
(Pedro Drumond)

A Lua sim é iluminada, vagueante das sombras
É venérea, é sagrada
Iluminando o caos das trevas dos homens
Sem nem sequer lhes exigir contas

 Seria então o Sol essa glória toda?
Mas que importância teria tal glória
Separada do cume de sua própria devassidão?

Há mais divindade nos turvos olhos
Do homem quem chora
Que do acomodado descrente
Do seu próprio coração

A Lua sim é gloriosa
Mas são de fato naqueles lunares
Tão subjugados pelos ditos "ascensos"
Que residem a egrégia completante da vida
No decorrer dos milênios
A Lua que candeia no escuro
É a mesma luz no fim do nosso túnel

O dia com seu astro maior realmente é mui belo
Mas se comparado à expectativa que temos da liberdade
A Lua, tímida em suas penumbras, cachoa - Oh, simples vaidade!

Não confio em um Deus no seu soberbo trono
Mas creio na Lua - real prova de amor da existência
Deusa que realmente nos revela o celeste que somos (em essência)
E que todavia é nossa verdadeira guia, melhor que qualquer cruz
Não aquela quem salva a vida
No entanto essa outra: A Lua, que em sombras nos conduz!



sexta-feira, 23 de março de 2012

Do AMOR - O Profeta Khalil Gibran - Rosacruz AMORC

Razão de Viver (Pedro Drumond)



Razão de Viver (Pedro Drumond)

Eu não vim a essa vida para ser um missionário
Não vim a esse mundo para descobrir a luz ou sair do escuro
Para saber de Deus nem tampouco para livrar-me de mim

Eu não vim a esse mundo para me purificar ou deixar de ser sujo
Não vim com o intento de salvar a humanidade
Não vim para conhecer os segredos da noite nem do dia
Da vida  e da morte
Não vim para ganhar nem perder algum valor
Eu não vim a esse mundo viver a vida para falar a verdade
Eu vim a esse mundo só com um único intento em vista - sentir amor!


É preciso esquecer-se para reconhecer-se
É preciso livrar-se do nosso único vício
Não falo de tóxicos, falo de dor
Por que precisaria a vida ter algum sentido?

quinta-feira, 22 de março de 2012

Felicidade, Por Onde Foi?



Saiba antes de tudo que a real felicidade não consiste em razão. É como querer que a lei do raciocinio prepondere sobre a lei da emoção. Ponha e reconheça na sua mente que você já é feliz, que você já tem tudo o que precisa, quer e procura.

Não ponha obstáculos para abraçar a felicidade. Esses obstáculos eu chamo de sonhos/metas/razões/motivos. Tanto a felicidade quanto o amor acontecem independentemente deles. Assim como se você cair num rio ele não parará de correr, continuará fluindo. Assim é a vida, com ou sem você. Só você tem o direito da escolha inteligente de fluir com a vida, ao invés da escolha das trevas, da ignorância. Motivos para sorrir você já tem e de sobra, você simplesmente EXISTE, o que você quer mais?

Não interponha mais nada no seu caminho, essa é a chave para a verdadeira obtenção de nossos anseios. Mas somente aqueles que estão preparados para isso podem atestar o que digo. Passo essa mensagem porque você certamente já está mais do que na hora de sair do ponto. Se não está, ponha-se! Todos podem por suas faces e enxergarem as plácidas margens de um rio, no entanto somente poucos podem, a partir do mesmo lugar, enxergar a sua real profundidade. Olhe para o seu interior e enxergue-a!

Pedro Drumond

sexta-feira, 16 de março de 2012

Porto da Tristeza (Pedro Drumond)



Porto da Tristeza (Pedro Drumond)

Eu existo na vida e você vive em mim
Digo que o amor na minha alma reside nos vácuos, nas lacunas não preenchidas
O amor se encontra naquilo que não enxergo, que não palpo
Naquilo que não seguro, nas minhas lágrimas escorridas

Eu sou o canto da vida e você é a poesia em mim
Dói-me ter a sua tamanha importância
E saber que essa distância não revelar-te-á a essência
Não revelar-te-á que você é o amor que não deu conta de si
Por ir além de minha presença

Sei que não existe mais um "eu" para que eu possa discorrer
Sei que morto não posso falar de mim quanto mais de você
Sei que dissolvi-me na vastidão do universo
Sei que não existo mais, por isso agora vivo
Sem ter onde chegar, já estando
Sem ter por que chorar, mas no porto da tristeza perambulando
Onde finjo que te espero, onde acredito que estou te amando

Aqui na minha vida me sinto dicotômico - quem saberá que aconteço bi-locado?
Quem saberá que caminho no mundo na falta do ser amado?
Quem saberá que quando em silêncio esfumaço no que seriam suas palavras?
Quem saberá que quando em sorrisos suponho que você esteja em lágrimas?

Na escuridão sorrio, na claridade não te sinto
Se em meditação sou presença, em solidão por onde andará sua ausência?
Percorro no mundo, mas estranhamente sem sonhos
Nessa prosa em que me conto, nessa minha simultaneidade
Quem saberá que sou um pedaço de amor incluído com o dissabor da saudade?


quinta-feira, 15 de março de 2012

Voz do Silêncio (Pedro Drumond)




Voz do Silêncio (Pedro Drumond)

Confesso, não deixo de apreciar a voz do sentimento que for
Mas para ser sincero eu gosto mesmo é de produzir os meus próprios ecos
Visto que a expressão do som torna-se mais adornada que os dizeres da palavra
O que expressa-se no som das admoestas fadas trata-se da voz do silêncio
Outrossim daquilo que em parte sou

Portanto caminhando agora pouco
Notei o quão o infinito finda-se por onde vou
Avistei rostos à procura de quem deveras não conheço, mas sei que espero
E só me falta uma coisa... não, falando a verdade, não está faltando nada!

Uma bala pode sim passar por mim, mas não me atinge
Estou além dela e nunca cheguei a dar ouvidos às minhas meras crendices
Portanto ela se trata de quem desfalece no meio caminho
Não me corroendo doravante em falsos lamentos
Logo após despenca-se no abismo pênsil
Dos meus insólitos e recônditos sentimentos

Assim sendo nesse silêncio com o qual você me lê
Crie suas próprias forças para só depois pensar em se esbanjar
O verdadeiro sábio jamais provém daquilo que sabe que  é
A força está contida naquele que nem capaz é de nela penetrar-se
Por isso Deus não precisa das migalhas de minha fé

O silêncio faz-se totalmente distinto da hesitação
Vejo muitos que por aí vagueiam
Não sei realmente o que pretendem experimentar
Por onde anda a vida? Por onde anda a verdade?
Possuo eu mesmo um digno coração?


sábado, 10 de março de 2012

Débeis Distrações (Pedro Drumond)

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Débeis Distrações (Pedro Drumond)

Fazia-se mais um cálido dia
Onde um céu nublado, prateado, envolvente e pasmoso
Abria alas para mais uma dessas chuvas finas
Não obstante eu já despertara
Com a minha mente a fazer-me mais uma de suas exigências malditas:
- Por que estar aqui? - questionava
- Não me pergunte, não quero saber - retruco - Por favor, não insista!

Olhos de ressaca, cabelos devastados
Requentando meu café amargo na companhia de uma dócil cadela
Sabendo que um nobre cavaleiro chegará em instantes vindo dos altos montes
Somente para trazer-me nada mais que um cigarro, feito de jasmim
Esse alpendre sinuoso mais parece um belo convite ao suicídio
Mas tristeza mesmo é saber que não me-há fim!

O mais curioso da liberdade
É que o homem não sabe sê-lo sê fragmentado, desconexo
O frescor das límpidas águas cai-lhe rente à pele em brasas demasiado
E o ardor das frêmitas paixões instantaneamente torna-o gélido

O mais intrigante da saudade
É saber que permanece outrossim vivo
Algum sentido de nós que acontece perdido
E ao pousar os secos olhos em quaiquer pérolas da natureza
Pergunta-se assim: "Aqui, cá entre nós...
Será que lá do seu orbe, aonde quer que ele seja
Também caem-lhe gotas de mesma tristeza?"

O mais doloroso da saudade
É estar aqui e permanecer a respirar
Sabendo que a vida abre igualmente suas asas
Aquecendo nossos amados num lar desconhecido
Enquanto que em meu interior das galáxias só me chegam o vazio

As pessoas não querem o amor como dizem
Elas querem sim é livrar-se da dor
As pessoas vivem uma vida inteira e estupidamente mortas
Mortas de medo, mortas de preocupação
Mortas de cansadas, mortas de alegria
Mortas de saudades ou mortas de paixão

Creio eu que assim sendo
Essas supostas dores que existem "aparentemente" na vida
Sejam apenas débeis distrações que os elfos nos pregam
Afim de que fiquemos no oceano com nossas faces submersas
Atentos à morte cá de dentro e ignorando a vida que há lá de fora

Pois se alguém nos puxa pelos cabelos
Trazendo-nos à margem do aqui e agora
Deveras não faltará quem de nós dirá: "Ó Deus, passou-se o tempo!
Já podes me levar embora".

quarta-feira, 7 de março de 2012

O Pior dos Vilões



Futuramente, ao relembrar esta presente encarnação, direi que fui uma flor desabrochada na aurora boreal dos cosmos, semente de inexpressíveis nebulosas. Certa vez, ao cair da noite, espinhos que rodeavam meu solo petrificaram-me numa prateada e pálida rosa, que morri sendo.

Direi que não fui ladrão, que não fui milionário, que não fui padre, que não fui político, que não fui prostituta. Direi que fui sim o pior dos vilões, que não obstante inventara de querer ter o coração de Deus, visando num equívoco surreal ou total ausência de sobriedade, brincar nas poças movediças das mais complexas emoções - O ser que amou de alma pura!

Pedro Drumond

Coração Maduro (Pedro Drumond)


Coração Maduro (Pedro Drumond)

É, tenho que aceitar, meu coração cresceu
Mais forte, mais seguro, mais pulsante
Mais amor, mais tudo! Menos eu

Fazem-me desfilar no jardim das flores virgens
E não me tiram você da memória
Falo dessas constantes oscilações lunares

Embora agora eu deva admitir
Que em meio a tantas vertigens
Descobri que nunca serei na sua vida
A mais pura das saudades

Meu coração não diz que te esqueceu
Mas também alçou longo vôo, dizendo-me até adeus
Meu coração que agora está separado de mim
Cuja tantas lágrimas eu mesmo lhe fiz destilar
Provoca imensa paz nos corações desesperados, perdidos
Mas nem mesmo me apóia na mera ilusão ou capricho
Onde ancorado no desfiado nó da risonha crença
A vida faria todo sentido
Se acaso aqui eu estivesse vivo, disposto somente a te amar

segunda-feira, 5 de março de 2012

Tristeza (Pedro Drumond)

  


Tristeza (Pedro Drumond)

A tristeza é uma forasteira perdida
Anda tanto por aí, pulando de galho em galho
Mas ela confessou-me que sente saudades de um abrigo
E é com aconchego que ela acanha-se junto a minha vida

Ah, tristeza
Você não cresce nunca, menina!                                            
Tão risonha, tão tristinha
Vai, se perde e sonha
Que na realidade você será sempre minha

Existem tantas coisas nesse mundo
Dentre as quais não posso dizer que discuto
No entanto tenho pensado
Como tanta gente faz questão de fazer da tristeza um fardo
Não, não, tristeza também é beleza, por que não?

Caminhando na relva noturna
Converso mentalmente com a também solitária, Lua
Ela diz que só brilha no escuro porque a tristeza a fascina
Diz que cada estrela trata-se de suas lágrimas
Que também lhe prestam companhia

Ouço um chamado, apago o cigarro, tocam a campainha
É a tristeza novamente
Lhe convido a entrar, cordialmente
Sim, meu peito é abrigo para tudo
E nada deixa de ser perfeito nesse mundo
A própria dor é tão magnífica quanto o prazer
Ambas em suas faces estamos debulhados, aptos a viver

E  eu lá sou besta de fechar a porta  pra ela na cara dura?
A tristeza também é bem esperta, vai acumulando, acumulando
Escondendo-se ao nosso redor
Até que numa distração qualquer ela entra de uma vez só
Divertindo-se da sua torpe vingança e ventura

Assim sendo eu lhe pergunto: Tristeza, por que rejeitá-la?
Se ela sempre traz um novo sentido de alegria
Não obstante ainda assim uma amiga, só que magoada
Que anda tantas vezes por aí em quartas de cinzas pela rua
Tristeza, tão querida
Quem dirá que não será ela quem nos atura?

domingo, 4 de março de 2012

Mago Poeta de Rosas & Bilhetes



O poeta gosta de explicar a tristeza. Tristeza que possui seu nome no Livro do Julgamento. O poeta gosta sim de versejar sobre lágrimas. Lágrimas que tomam formas de letras. Letras códigos de tristeza.

O poeta aparece na janela, no alpendre, no caramanchão. O poeta é o mago que invade o quarto da dama em solidão. Envolvida, nua, de corpo e alma (desfeita) ele a assusta. Cobre ela seus lábios e deixam à mostra somente seus olhos. Dois mares turvos, dois infernos onde Deus não põe a sola dos pés. Ela acha que aquela figura é mais um dos fantasmas vindo de sua mente.

O poeta se aproxima. Indefesa, ela não tem por onde escapar. O poeta que na penumbra do canto do quarto aparentava-se um réprobo, se desmascara na medida em que o plenilúnio lhe serve de ribalta. O poeta traz dois olhos que também choram.

A dama em desespero inenarrável já sente as dores de uma invasão proibida, seu ventre vibra. Mas o poeta só encosta suas lágrimas em seus marejados olhos. O rosto da dama serve de escudo para a cachoeira que se forma. Lágrimas de dois pares diferentes se beijam. O poeta agora modifica seus olhos. Eles afundam-se e finam-se com a alegria. O poeta tira da sua capa uma rosa e um bilhete. Uma rosa e os versos que desmistificam a tristeza e a rosa. Beija-a levemente. A dama em sobressalto finalmente acorda.

Pedro Drumond

sábado, 3 de março de 2012

Amigo dos Céus (Pedro Drumond)



Amigo dos Céus
(Pedro Drumond)

É tarde singela. O mundo lá fora baila ao som de uma vangloriosa orquestra
Mas cá deste salão reparo minuciosamente nas pessoas
Estão todas muito bem adornadas, mas com sorrisos pouco ou nada convincentes
Minha taça de champanhe grita meu nome, olho-a soslaiamente
No fundo dela um intrigante filme se passa...

A solidão tem uma forma de convite
Um convite sujo de lama
Mas sua mensagem é bem clara
Diz que foi preciso assim ser para disfarçar
Sim, essa solidão que apresenta-se na forma de um mau-trapilho
Na verdade diz tratar-se de uma venerada imperatriz
Diz ela que sua identidade foi feita especialmente para mim
Portanto somente eu poderia lhe aceitar

Diz que lá fora a vida também está nos bosques, sozinha
Pede-me com que eu repare no grande vácuo entre o Céu e a Terra
Pergunta-me se eu não me disponho a ir lá invadi-lo
E prestar a vida igualmente companhia
Bom... nada custa tentar...

Assustado, dou umas tantas piscadelas
"Será que já estou embriagado?" - penso
Mas do canto do salão reparo que ninguém nada percebeu
O mundo deu cambalhotas e só quem sentiu fui eu?
De certa forma concordo e ponho-me a sair

Lá fora tudo é um deserto
A noite ingrime é um convite à meditação
Reparo que eu sou um micro dentro de um macro
E assim dentro de mim também existe um oceano
Onde nele vejo que igualmente deságuo

- Outro surto, meu Deus! Estou eu ficando louco?
Até há pouco tempo acho que estava num subúrbio
Como vim parar aqui há tão pouco?
E por dizer em estadia, onde será que estou? Que lugar é esse?
Estou... estou... estou imerso no mar?
Mas como?! Como isso é possível? Céus... eu posso respirar!

Reparo que meu corpo ganhara certas tonalidades
Cores e raridades que partem de mim
- Que será que está havendo? - cá penso
Nado... flutuo... e sinto-me mais etéreo
- Uai, virei alma penada?
Sigo indo, não sei o que espero...

Depois de certo tempo já enfeitiçado pelas águas que percorria adentro
Sem prever com qualquer noção, sou embalado por duas melífluas mãos
A água discorre do meu corpo
Se aquela maravilha lá era o que chamavam de morte, quem ousou me tirar dela?
Mas calma aí, não estou vendo ninguém...
Fui conduzido ao que seria uma paradisíaca ilha, mas por quem?

- Hey, hey! Tem alguém aí?! Hey, hey!
- Pare de gritar tolinho, veja, estou aqui!
Bruscamente me viro. Quem seria aquele anjo de cabelos anelados?
Esboçou-me um puro sorriso, sorriso esse que clareou toda minha história
Reconhecia nele um conhecido amigo, mas onde estaria ele até agora?

Novamente ele usa de suas mãos, deslizando-as com mansuetude sobre meu rosto
Não entendo o que me dá e eu lhe dou um impenetrável abraço
Ele sorri e como sorri!
Enquanto estou eu debulhado em profundo choro

Não entendo, minhas lágrimas soam diferentes
Choram de alívio? Mas enfureço-me rapidamente
Por que este luzido homem sorri assim tão descaradamente
Enquanto eu brigo com soluços? Sacanagem...
Mas seus olhos negros, negras órbitas, me perfuram os escudos
Parecem ler-me o pensamento
Ali me vejo repartido por dentro e com total ingenuidade

- Não estou entendendo nada pra falar a verdade - explico-me
- Lembra-se de quando revelava às estrelas - por sua vez indaga -
que sempre sonhava em ter um amigo dos céus ao seu lado?
Alguém que não lhe visse, mas te conhecesse de cor e salteado?
Alguém que te completasse em seu caótico vazio
Que nem mesmo você saberia reinventar tantos "Obrigados"?
Pois então, Deus não aguentava mais sua tenaz insistência
E decidira me mandar.

- Mas... (fantástico) como te chamo? - timidamente pergunto - Você que mais parece um anjo
E possível aniquilador de todos os ceticismos! Mas é... é você mesmo, o meu tão sonhado amigo!
Mas como chamar essa que quiça seja a melhor obra que Deus já tenha inventado?
Mas responda-me - pergunto ainda incrédulo - isso tudo é de verdade mesmo?
Não é de jeito maneira algum delírio... devaneio... alguma espécie de fantasia?

- Claro que não! É a mais pura verdade, caro fidalgo, creia!
E bom, como queira, chame-me de Thiago.
- Thiago? Uau, Esse é o nome do anjo que pedi à vida?
- Sim, e melhor dizendo - galanteia-se - chame-me quando por completo, Thiago C Silva!