sábado, 6 de setembro de 2014

Primeiros Raios duma Infindável Solidão (Pedro Drumond)




Primeiros Raios duma Infindável Solidão
(Pedro Drumond)

Ter uma vida para a morte assim como a eternidade em vão
É permanecer em busca fervorosa da sorte
No mesmo compasso que dá sentido a toda desilusão
Do que quer que desencante com facilidade,
Do que quer que dificilmente resgate
Os sonhos inocentes do coração.

Portanto não há de ser tão breve o meu fim
Algo um tanto diferente do que já me soa familiar até aqui.
Não haverá quem note a minha irrevogável ida,
Quem pranteie ou mesmo exclame:
"Oh, meu filho!", "Oh, meu grande amigo!"
"Oh, minha amada!", "Oh, minha doce querida!"

Não será logo mais uma noite sozinho
Algo mais ou menos dolorido
Para quem há tempos acostumou-se despertar
Aos primeiros raios duma infindável solidão.
Sempre insólito, inóspito,
Insidioso, insípido,
Já que incapaz de ter por preenchido
O frágil coração, não serão os anseios da carne
Prontamente atendidos que far-me-ão
Mais ou menos vazio... Logo eu, que sequer sei viver
Da própria verdade que proclamo... Ai de mim!

Neste momento o pranto meu
Convictamente volta-se aos sonhos de amor:
- Já vão embora? Não vão ficar?
Não há de quê, pois já vão tarde!
Ah, e não se preocupem... Não precisam mais voltar!

Veja que tamanha é a importância que me dão
Esses mesmos sonhos de amor,
Que eles se esvaem na bruma misteriosa da madrugada
Sem sequer me ouvirem, caluniarem os meus.
Os sonhos de amor se vão-se embora
Sem darem-se nem o trabalho de dizerem:  "Adeus!".

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