quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O Nojo da Vida (Pedro Drumond)





O Nojo da Vida (Pedro Drumond)

De tanto receber espinhos
Aprendemos a como lançar espadas.
O tempo constantemente passa
E aquele que se mantém bélico, íntegro,
É pisoteado pela tropa de seres indignos
Que num ciclo vicioso cruzam o seu caminho.

A mágoa é um tipo mais refinado de tristeza.
Como toda dor, é passageira. Logo,
O que embrutece a alma são as cicatrizes!
Elas sim - as cicatrizes - fazem dos homens
Tão ilhados quanto um arquipélago de infelizes.

Não sei de quem mais tenho nojo,
Se de mim ou daqueles com quem convivo.
Se são reflexos do que ecoo,
Ou se sou alvo dos seus desgostos.
Não podemos estar separados
Nem tampouco unidos.

A loucura de um prisioneiro aflito
Se dá quando as suas algemas
São as suas primeiras referências
Antes mesmo de ter tido contato
Com a menor sombra da liberdade.

Minha sede não é de vaidade,
Não é de bajulação, não é de eufemismos.
Pelos deuses, minha sede é de dignidade,
De valor, de consideração, de compromisso!

Ser o pilar dos mesmos que te arruínam com todo prazer.
Ser os restos que por obrigação hão de restaurar.
Ser aquele que não consegue contradizer
Os venenos, os sarcasmos, as humilhações pungidas,
Não por estar rebaixado ou condizente,
Mas por estar além de tais elegias,
Apesar de não ter conseguido
Sair do mesmo lugar de sempre.

E o medo do destino?!
Quando o exilado do campo de concentração
For separado dos seus anjos e algozes
Para ser direcionado à câmara oculta
Que dá passagem à fronteira entre a vida e a morte,
Estará em seguida imerso numa realidade melhor
Ou num castigo que mais lhe inferniza,
De modo que a guerra lhe torne saudosa
Como um paraíso eternamente perdido?

Escapo a cada dia, a cada hora do grande tormento.
Vivo em prol da hesitação, da inatividade e dos contornos.
Em compensação o que recolho durante esse tempo
São pequenos fragmentos de cacos e sonhos
Que se alternam no meu ser de um modo perigoso
Até não me repelirem e nem permitirem
Com que eu venha a repelir os outros.

(Ai de mim se parecer que assim prossigo porque quero!).

Uma ideia do que seja
E d'onde venha a pureza da vida
Finalmente se revela quando menos espero:
Diretamente do mundo das verdades,
A pureza é o nojo da vida.
Neste momento o pouco que posso significar
Seja um temporário símbolo da sua falta de esmero.

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