quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Anjos da Despedida (Pedro Drumond)



Anjos da Despedida (Pedro Drumond)

Não é de se surpreender que a lua não me visite todas as noites
Que eu nem esteja mais aqui a absorver
As mais insepultas e murchas flores
A garganta ainda me mata. O frio me embala
E a fumaça que me cura é meu espectro
Saindo de mim de forma compulsiva e tragada.

Tantas palavras para compreender o infinito vigoroso do silêncio
Tanta vida para perceber que nada nunca existiu
Tampouco eu. Quanto mais você
Quanto mais sensações, menos sensibilidade.
Quanto mais verdades, mais distante torna-se a realidade

Um vazio que nem mesmo qualquer lásia de solidão contém
Uma inexistência animada e bastante vitalizada
Se nasci para voar com essas asas foi somente para andar com os pés no chão
Vivendo sabendo que não existo. Tanto existindo que fico sabendo o muito que vivo

Se eu  chegar a fechar meus olhos, sentir a brisa, talvez ouça meu canto
Se souber mencionar o quanto prezo pelos ciclos da vida
Saberei que na correnteza dos rios
As águas translúcidas evidenciam aquele quem amo

Meu amor pelos anjos da despedida é assim mesmo
Sem correntes, sem prisões
Por isso ele não se arrebenta nem nunca fugiu de mim
É tão livre quanto o ar
Ele vem, eu sei ficar. Ele vai, eu sei andar
Ele não está aqui comigo. Mas estou com ele lá.


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