segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Vovó Euzinha (Pedro Drumond)



Vovó Euzinha (Pedro Drumond)

Ainda que o mundo tenha-lhe magoado
E que somente à dada distância
A felicidade tenha lhe acenado
Abissalmente no vagão dos passageiros
Resfolegante alarde me fora causado
Nunca me é um momento derradeiro
Perdido, tarde
Para dizer-te o quanto por ti, ó, Deusa
Sou demasiadamente grato

Ainda que as rosas
Tenham-lhe somente deixado vestígios, espinhos
Este ser que através de ti floresceu
Hoje sabe que não falece sozinho
Ainda que te sintas desiludida no centro ou pelas ladeiras
Perante às almas que tanto lhe impediram maior saída
Por favor, não te esqueças
Sou nada mais senão o filho das cachoeiras
Dos ventos,  trovões e da então chamada Vida
E que dessa mesma tu foste a soberana
Cosmológica, rainha

Ainda que juntos nos debatemos
E separados o quão precisados um do outro reconhecemo-nos
Por favor, atenda ao meu pedido
Sei que essas palavras muito lhe refazem
Pois doravante mereces, ainda que carecendo, o melhor
Mesmo que este não se colha ao nosso redor
Sob justa igualdade
Não te esqueças que enquanto eterna fordes
Mais que infinito é por ti, mestra avó
Meu único de tantos amores

Por favor, voltes a olhar o Sol
E te sintas refecida, pois será desatada a trépida angústia
Que sordidamente febril lhe ergastulara mediante tantos nós
Quando oro à Deus, dito cujo me apresentaste
Por ninguém menos é por ti que clamo
Quando sigo os passos meus
Alçados aos ávidos vôos que muito me comprazem
Sei que foste como és, mais que mereço
Não obstante a existência que mais amo

Quem me dera fazer o mesmo amor que tu me recordas
Figura resvalada ao teu íngrime coração e vida
Mas enquanto dispuser da divina magia
Serás tu meu maior encanto
Minha eterna e aureolada, vovó Euzinha, eu ta amo tanto!




sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sonhos Furtivos (Pedro Drumond)



Sonhos Furtivos (Pedro Drumond)

Não permitam que eu emudeça, confortando-me sozinho
Vejo uma doce luz perene no silêncio divino
O amor é simplesmente um vício
Nada adiantou vigiar-me para dele nunca precisar
Pois quando se espera por um alguém
Que sabe ser nosso bem
Tarde ou nunca essa alma irá chegar

Sinto certo eclipse reinando sobre meus dias
São essas sombras a iluminarem minha vida
Já não mais me resta uma fresta nostalgia
Posto que todo ataque findara meus sonhos furtivos

Finalmente tornei-se uma expressão sem significado
Ainda assim do amor não vivo separado
Uma vez que não há nada melhor que esse princípio
Para que quando recordamos dos tempos idos e tão marcados
Sermos de uma vez por todas explicados e esquecidos
Restando-nos apenas... sonhos furtivos.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sem Domínios Nem Reservas (Pedro Drumond)



Sem Domínios Nem Reservas
(Pedro Drumond)

Saudade não é nada mais que uma despedida adiada
Daquele ser, daquela alma
Mais uma lágrima num poço, mais um poço de lágrimas

Assim como estáticas permanecem com sua luz e brilho
Luz e Estrela, ambas fiéis solitárias
Quando o breu se põe a caminho
E quem renega um abraço para um outro alguém
Semeia a rejeição da vida
Assim sendo minha alma por aí também vagueia
Mas nesse mundo não fica

Imagino tuas mãos
Perpassando-se nas esquinas de qualquer corpo
Numa carícia sem domínios nem reservas
Incoerentes todavia, buliçosas noutras
Chego a sentir como se a mim fossem dirigidos
Tamanhos enredos
Ritimados, soltos
Numa entrega total e absoluta!

Vai-te nas almas sem igual
Dos becos obscuros
Volta e encontra-me ilhada dizendo:
 "Meu amor, cá estou, ainda sou tua"

Deixo que nesse momento
Meu pensamento amargo
Crie imagens de espectros e abandonos
Ouço murmúrios, são teus fatigados sonhos
Sem decências, não me há medos, não possuo limites
Deveras foi-se em vão o meu esforço de tanto buscar-te
Arrebatado na intimidade estreita do teu desprezo
Coro lamentável das minhas inquietações, fato de amar-te.

Geronilson, Anjo Divino (Pedro Drumond)



Geronilson, Anjo Divino
 (Pedro Drumond)

Vinha-me há tempos sendo mais um desacreditado, como tantos outros
Não me convinha em hipótese alguma aceitar a idéia da existência dos anjos
Mas e se eu contar que a vida, de tão imperiosa que é, provou-me que sim, eles existem!
Apesar de serem poucos - mister observar - dentre os muitos de nossos enganos

Porém é bom que reconheçamos suas vindas
Até nossas ínfimas vidas, sempre auspiciosas
São com eles os minutos, eternas vivências e sabedoria
Trazem-nos uma singela saudade com a lucidez dos fatos ocorridos
Somente em tempos idos de nossos itinerários incompreendidos
Anjo divino: Um conto feliz, guiando os tristes da vida

Esses anjos possuem uma luz tão celestial
Que se a enxergássemos nos tornaríamos cegos em seguida
Nós, ainda incessantemente repartidos entre o bem e o mau
Rogamos nossas súplicas diante dos céus
Enquanto que esses guias
Varrem solitariamente nossos passos sob a luz do luar
Estamos muitas vezes mais interessados em lamentar nossas perdas
O que nem sempre nos faz notar o ganho de suas presenças

Eu, que até então só acreditava no homem "puro e apaixonado"
Dentro da literatura, da poesia e magia
Incluido na alma turva, com claro rubor e anomalia
Tal qual o autor que procura sentido em seus sóbrios reflexos
Mas que visa não ser tão escuso de pequenas alegrias
Chego a contar a história de um anjo divino
Impregnando seus amores
Como se real fosse o meu pelos versos

O que os humanos certamente enxergariam como plumas
Numa espécie de asas próprias de um anjo acolhedor
Eu apenas enxerguei por volta dele a sua linda aura
Qual a forma mais sutil do que é o meu amor

Eu, que projetava as almas humanas
Como se fossem simples troncos de árvores: Imorredouras todavia em suas densas indumentárias
Que uma vez cicatrizadas do passado tornavam-se insuportáveis,
Compreendi doravante a importância do choro temido entre a raiz e o alvorecer
Presenciei, junto a esse anjo divino, as folhas do meu espírito
Com suas inúmeras vidas e personagens
Até que apupei o estado esplêndido do verdadeiro ser
E me dei conta de ele viera então a servir de respaldo
Aos inúmeros desamparados que por ventura o buscassem

Esse anjo negro, indescriptível que era de tão enternecido
Possuía olhos vivos, abrigos de minhas esperanças mortas
Relatava-me sem qualquer desvelo suas fantasias, suas histórias
Sem imaginar que eu, filha do fogo, fosse ali presente
A sua própria dor ausente

E na roquidão de sua voz eu ouvia a ópera dos fariseus
Eu olhava esse anjo e pensava - "Céus, estou com Deus!"

Venho aqui garantir as demais cabrochas
Que não duvidem sobre a existência de um anjo divino
Anjo que o é sob a vergadura de um singelo homem
Um poeta, um menino ainda perdido
Oxalá que lhe guie ao melhor dos caminhos!

Mas zombam de mim as vadias:
- Aonde se esconde esse? Onde? Donde?

Digo-as que ele não era próprio nem para mim quiçá pra elas
Pois estamos falando do coração de um verdadeiro homem
Um anjo fraternal em busca de sua essência perdida
Um anjo que me falava de ilusões
Sem se dar conta de sua rarefeita pureza
E por isso não entendendo com a mesma razão
De tantas almas incompletas que não o compreenderem

Mas quando estive com ele era como se Deus me falasse:
- Viu, meu filho? Eis um ser que conheceu o recíproco
Mas que no entanto relata as mesmas dores
Que à sua vacilante alma tem compungido

 - Ele viveu de amor, mas de amor não morreu
Tu morreste de amor e ainda blasfêmeias revoltado
Por conta de que do teu amor não viveste
Seria tudo isso um plano meu?

- Compreendes agora que o sofrimento
Não é algo nem melhor nem pior
Nem nem maior nem menor
Porém um mesmo fantasma presente entre quaisquer extremos?

- Saibas que aquele que sorri
Aprendeu de antemão a lição de quem chora
E aquele que chora há de se purificar ao máximo
Para descobrir o gosto de pela felicidade se sucumbir!

- O que há nele também é escola pra ti, e vice-e-versa
Os dois vieram para mesma lição: Terão lá suas dúvidas e carências
Enquanto ambos, Anjo e Demônio, não assumem de bom tom e grado
O peso de uma cruz, de uma solidão

- Os seres que não mais exigem por liberdade
Estão mais próximos de verem abertas as celas do amor
Pus justamente este anjo divino em teus caminhos
Para que não permaneças sendo aquela tua antiga e vitimizada dor

Portanto, agora te digo, Anjo Divino:
Vai meu refolho, meu ser, meu carinho
Vai meu imorredouro, meu viver
Meu outro eu sozinho

Vai meu irmão, de versos e martírios
Vai que eu te amo e que Deus lhe guarde
Vai, mas me leva no âmago
Oh, meu querido, Geronilson!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Caminhos Opostos (Pedro Drumond)



Caminhos Opostos
(Pedro Drumond)

A vida é um tanto imperiosa
Devo-lhe tamanho crédito e respeito
Cada passo em vão num boeiro qualquer
Segreda-me uma rosa
Silênciosa, vazia
Nada mais que um simples segredo

Vigorantes seriam as almas
Que livremente encaminhariam-se
Ao ergástulo do amor
Que outrossim mantêm por si
Já não dispersariam-se tanto
Quando, sob o comando dos segundos latejantes
Tivessem sido acorrentadas que nem gazelas
Tais como prisoneiras de uma estadia sem fim

Mas dignas mesmo, diga-se de passagem
São as estradas que a vida separa numa encruzilhada
Isso é um desaforo bárbaro
De sua própria ambição
Causa essa da explicada aptidão
Que possuem tantas almas afins
Para viverem separadas

São comboios esses que mereciam estudo fatalístico
Se no vigente mistério do existir almejante
Não fôssemos sentinelas de intímos perdidos
Vulneráveis às tantas estradas
Que a vida há de bifurcar

O amor verdadeiro nessa hora
Traria-me mais que o deleite fragoroso
Não obtendo recompensas nem regalias
Pois minha satisfação já se conteria
Na presença assaz e pueril de amar

Sem sombras de dúvidas
A vida é majestosa, tirana simpática
Ao contrário do prazer
Sua dor não precisa de máscaras
Uma sacerdotiza que profecia destinos
Onde ninguém sai perdendo
Uma vez que em caminhos opostos, meus amigos
Aquele que não acaba ensinando
Sai aprendendo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Simples Tarde no Jardim (Pedro Drumond)





Simples Tarde No Jardim 
(Pedro Drumond)

Uma tarde diante das flores
Uma tarde sob a companhia das margaridas
Relembrando segredos, plantando amores
Uma tarde retirando da alma as mais murchas feridas

Uma tarde questionando a vida: - Por que diabos justo agora decidira revelar-me a sua magia?
Uma tarde de céu nublado e a vida lá fora me respondendo
Que o amor permanece assim mesmo simplesmente calado
Exceto aos ouvidos daqueles que não temem seguir seus mais nobres sentimentos

Garças inocentes nesse instante vociferaram uma divina orquestra
Respirei o perfume da alegria me vendo tal qual diamante, aliviado do peso das pedras
Tal como prisioneiro livre de seu arquitetado calabouço
Voltando a embarcar nas estradas ulteriores a sua jornada na letargia
Abandonado de suas tramoias, pois a riqueza que em si continha nos outros não havia
E agora regojizando-se como se nunca fosse outro
Sentindo-se dono de seu próprio destino
Vê-se liberto da única túnica que abafava seu espírito
A chamada desesperança, digna daqueles muito covardes para se afogarem no vazio

Anoitecia e eu já me recordava de que ao despertar
Não haviam quaisquer lábios trepidosos a fim de me vivificarem
Anunciando-me o dia que deveras lá fora havia de estar
Perante a essa hoste das virgens manhãs
Meu café solitário borbulhava ao mero trepidar das tristezas
Dissolvendo-se quase todo em seu amargo obscuro como açúcar sem doçura
Era o que me sorvia de alma pura
Sabendo que nenhuma devassidão deixaria de me prestar
As mais solenes realezas

Vim portanto aqui buscar o que sempre me pertenceu
E que a duras penas ousou do meu peito se escafeder
Tal qual essas flores ao vento, minhas dadas maestras
Lágrimas ruborizadas e os sonhos nefados a beça
Que do alto vieram rever-me depois que meu peito feneceu
Prometendo-me a paz de que tanto pretendia sucumbir antigamente
Sugestionando-me até que eu cantasse só por cantar
Em qualquer escuridão vinda de um rastro de luar
Até vir saber onde foi parar aquele amor tão meu
E sair por ai afora que nem fera louca
A perguntar qual seria o caminho mais próximo
Que me conduzisse a sua mente
Dando-me por aí então plenamente convencido
De que se assim permanecesse estaria a distantes léguas de cá onde estou
Isso é mais que uma simples tarde no jardim, pois vivi até então sem saber o que seria de mim
Enterrado a sete palmos de um estéreo solo do meu peito
Esquecido de ter-me dito quem realmente sou.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Por: Charlotte Bourvié - "Anjo Poeta"





Seus dedos, leves e serenos, entrelaçam a caneta para escrever...
Ele escreve-me, vem voando, são atentas as mãos do poeta,
Jovem poeta, com os olhos de anjo
E as asas de íbis negra. 
Eu sussurro um acalanto para guiá-lo entre o sono e o sonho.
Dorme rasante rumo às águas amnióticas das fêmeas: cama.
Encontra minhas pontes pênseis na névoa, finos lençóis, de veleidades tempestivas, 
Entre a nudez do meu corpo e a sombra que este faz na alma, 
Perdidas, à mercê de ventos estúpidos com natureza de paixões inventivas.
O coração calcinado pelo ardor de desejos insanos 
É umedecido pelo visitante que traz o orvalho da noite em forma de saliva.
Emergem segredos dos lagos ferventes,
Flor-de-lótus cospe fogo nas águas,
É um espetáculo o adejar dos anjos sobre as serpentes.

-Oh, meu Poeta Menino - digo a ele, baixinho: 
"Sou uma Naja - Quando me fere, pico. 
Um celo - quando me toca, soo. 

Em silêncio, sou um mudo cedro.
Sou um poema quando por ti é escrito...
Sou tua 'La Dame Des Catacombes', Pedro,
Envolvida apenas dos noturnos chambres,
Vivo em teus sonhos e em meus sonhos
Você vive comigo."

CHLOE*


                                                           *:La Dame Des Catacombes                                                                   

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

La Dame des Catacombes (Pedro Drumond)



La Dame des Catacombes
(Pedro Drumond)

Espetáculo trágico, bárbaro, hecatoédrico da vida
Sentimento realizado, perdido, restante
Jóia rara na liga decorrente da vaidade humana pelo sangue
Caber-me-ei em teu sótão, cara poetisa

Quem me dera o mundo fosse assim tão seguro
Quem me dera, amada, tu fosses apenas mais uma rosa
Cujos espinhos fossem doudejados e mais profundos

No entanto és poetiza, magna das palavras proibidas
E das minhas elucidações mais reprimidas
Não és mero crepúsculo de águas rasas

Nem cabes no ulular madrugo de raparigas notáveis todavia
Quero dizer, neste férreo momento estou a ter com quem menos era de se esperar
- La Dame Des Catacombes das ilusões mais que vivas!

Ah, poetisa ou ma dame, se preferir, mas saibas
És voz e decripte da alma, da minha
Da que foi e da que será - De quem mais seria?

Recorda-me os bálsamos das músicas antiquadas
Debandadas ao mais hostil cair-do-sol sobre minha sensibilidade noturna
Minhas fitas ainda rodam bem nesses gravadores antigos
Disfarço minha nudez diáfana, aguardando-te coberto pelo véu mais inefável
E com quem mais poder-me-ia conceber senão contigo?


Queria deparar-me com teus olhos no ponto de fixá-los
Levado ao chão, estupefato tal como cadáver
Ao ponto de refratar o espelho de teu íntimo
Por então aprisionar minh'alma
Enquanto dizes para mim:

- Me corrói na certa, tal como fera suja
Toca e dê vida a ditosa melancolia de seu violino
Sou Cibele, meu caro poeta menino
Visto que sou um ser solitário de corpo, alma e coração
Não obstante sou tua

"Tua", La Dame Des Catacombes
"Minha", opulenta poetiza amada
E amante sonhada, "nua".

domingo, 8 de janeiro de 2012

Melancolia (Pedro Drumond)



Melancolia (Pedro Drumond)

Ah, Melancolia!
Possuis tu mãos macias, mas de nervos duros
Agarras meu coração e o atormentas pela solidão
Sua fiel companheira e escudo

A melancolia uniu nossas vidas
Em um laço comum e estreito
Podíamos por pouco chegar a ouvir na voz um do outro
Os ecos de um singelo segredo

Ah, e aquela melancolia que paira sobre ti
Aumentando-lhe a beleza
Inegavelmente torna-te mais digno de minha veneração
Confesso que foi pela insinceridade do teu sorriso
Que me apaixonei pela tristeza
Assim como pela frieza de tua alma
Em tantas chamas ardeu meu coração

Os corações unidos pela tristeza assim o permanecem
Para todo sempre!
Posto que o laço da tristeza é mais consistente que o laço da alegria
Um lhe dá a paz enquanto o outro por essa vende até a vida
Portanto faço disso um dilema certo
O amor que as lágrimas consolam
Torna-se mais puro, perene e no fim, mais belo!

Indecisão (Pedro Drumond)







Indecisão (Pedro Drumond)

É muito triste nascer para alguém
Morrendo ao lado da sombra de ninguém
O que são minhas lágrimas perto do oceano devasso 
Que pranteia o resto do mundo?
O que é minha solidão
Perto daqueles que buscam um amor mais profundo?

Sou a certeza, mas quem eu amo de fato chama-se Indecisão
Morro escutando seu silêncio que não diz sim
E de igual forma não é digno de dizer não

E que venha o amor de tantas vidas passadas
Pode ser eterno, mas se vivido na brincadeira da dor
Desfalece minh'alma arrastada
Mesmo que permaneça intacta 
Sobrevivendo distante de quem espero

Sabe, decifrei a verdade sobre nós dois
Verdade essa que não fez minhas lágrimas
Consolarem-me depois

Tu és mesmo, meu amor, o carinho mais doce
Que ainda sem toque e sem abraço eu pude deleitar
Mas tua indecisão faz de mim mero refém da solidão
A espera de algo que tu nunca poderias me dar


Lágrimas Idosas (Pedro Drumond)



Lágrimas Idosas (Pedro Drumond)

As lágrimas abundantes dos jovens transbordam de seus cheios corações
As lágrimas idosas são o restante da idade que escoem dos olhos
Sem precisar de muito pretexto
Vivem nos últimos sobressaltos da vida em corpos já enfraquecidos
E as gotas de ovalho que caem nas rosas como brinquedos
Ainda são como as lágrimas dos jovens tão embevecidos

Mas as lágrimas sobre a face de um idoso
São como as folhas de outono amareladas
Que os ventos levam daqui quase escravizadas
Tornando-as espelhadas, mas sem o sentido iludido de outrora
Onde bom era viver um grande colosso

Minh'alma velha está cansada
Volta ferida da vida que teve e chora
Quem me dera se ela tivesse autonomia
Para negar a derradeira partida, mas já passou da hora

Deixo para trás alguns cigarros
E uma taça de vinho antiquado com pequenas doses restantes
Sempre preferi por ficar mesmo com os venenos mais amargos
Que os remédios baratos que fossem aconselhados às minhas feridas
Em cima do criado há esses versos de um poema um tanto malescrito
Mas quem deixo na verdade é a sombra do meu ser enfermo
Que dentro em breve tornar-se-á mero cadáver
Salvo, porém, o que restar desse meu tal coração vadio

Pesaroso Desengano (Pedro Drumond)



Pesaroso Desengano
(Pedro Drumond)

O verdadeiro amor não nasceu para ser correspondido
Nasceu para ser sentido
Sonhos são como nuvens, se desfazem
Mas quando em nossos corações se acumulam
Que nem a força da natureza eles agem
Desaguando em lágrimas tão carentes e turvas
Esperanças acabam tornando-se secas de consolo
Mortas nas tristes neblinas das chuvas, das ruas
Na tumba esquecida, no vale marémorto

Ah, pesaroso desengano
Quando minha respiração é leve
E o caminhar me prossegue
Sinto-me anestesiado vejo o quanto lhe amo

Ah, pesaroso desengano
O amor que eu lhe dou é o mesmo que não conheço
O amor que eu lhe dou é o que de ti não mereço
Busco corresponder-te a medida do impossível
Encantando-me anarquistamente
Na medida em que mais me foges o olhar
Pois já me amiguei pelos lados da tristeza
Mas vez ou outra fico pensando - E se meus sonhos fossem realizados?
Tenho dúvidas, haveria toda essa certeza?
Será que eu iria mesmo te amar?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Oceano Da Minha Dor (Pedro Drumond)



Oceano Da Minha Dor
(Pedro Drumond)

O mar é uma gota no oceano da minha dor
Amar nunca foi uma escolha
Era pela felicidade que eu estava esperando, mas essa não chegou
E agora não sou o mesmo que o de outrora
Pois forte sou para permanecer em silêncio
E fraco como ninguém porque as lágrimas não ouso libertá-las
São muito mais que palavras, muito mais que alma
É simplesmente essa indigente que se fez minha cria, a tal dor
Teimosa em rimar com meu mais honroso hospéde, o cujo amor

Minha risada se faz em escândalo, pois que meu choro é contido
Aonde quer que eu vá com a solidão vou caminhando
E a cada passo em falso que dou com quem me deparo? Contigo.

A vida é o cartaz de uma grande ironia
O que se pensa ter nas rosas
Não se esconde nada mais que em venéreas margaridas
Não possuo eu quaisquer requisitos que fariam-te ebulido
Sob paixão de maiores declínios
Para esse amor tão cheio de anseios
Cujo o mesmo tantas batalhas travei
Sem quaisquer fossem lá os meus medos
Hoje sei que o restar de esperanças não muito breve perderei

Noites de Tristeza (Pedro Drumond)



Noites de Tristeza (Pedro Drumond)

Assim os dias se foram como sombras
E se desvanesceram em neblinas
Deles nada restaram senão lembranças feridas

Hoje esses olhos que viam a beleza da primavera no entardecer dos campos
Nada mais enxergam senão a cólera das tempestades e seus invernosos prantos
Esse ouvido com qual ouvia a canção das ondas
Não me transmite mais no íntimo senão as lamentações das profundezas
E o ulular do abismo qual me atirei por pura temosia e afronta

Essa alma minha que contemplava respeitosamente o trabalho dos homens
E a glória do progresso no seu mais alto pico
Agora não mais sente senão a desgraça da pobreza
E a infelicidade dos decaídos

Como são belos os dias de amor com seus sonhos tão suaves
Como eu daria tudo para voltar a vivenciar neste meio
Mas no território do hoje me são muito amargas as noites de tristeza
E seus inumerosos receios.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Cabrocha dos Cosmos (Pedro Drumond)





Cabrocha dos Cosmos 
(Pedro Drumond)

A mente cria, o coração realiza
Sim estou de volta e ainda por cima apaixonado
Nunca pensei que por isso o fim já tivesse me demarcado
E tive então de sentir as catarses de um grande amor
E descobrir que no caso um amor
Que não me dá guarita no futuro nem fosforece do meu passado
Fortemente comigo nasceu e no fusuê dos dias
Alguma espécie de anjo ou simplesmente andarilho
Esbarrou no meu destino e teve a impeta pretensão de despertá-lo

Se por acaso em outros casos essa fonte fenece, o fruto apodrece
Ali garanto que só fora presente a chispa da flor de camurça
Podendo exalar a paixão, mas jamais o amor da alma cônscia, pura
E graças a Deus sem nem chegar a tatear esses mentirosos espinhos
Percebi que minha simples respiração já era motivo de sobra para amar
E com coração resfolegante sob pena de um propósito fui sufocado
Para que dentro dos meus chiliques eu viesse a ser apaziguado
Pelo ferronho portão da dor que em sortilégios viera me descambar

Não existe posse, não existe sonho, não existe expectativa
Não existe morte, não existe o confronto, vivi sim um grande amor
Como os verdadeiros amantes que nunca consagram suas estórias
Dos ditos cujos que com seus amados não perpassaram suas últimas horas
- Ora essa, quem diria?

Não sou surrealista, sou sim de longe o melhor assunto que conheço
Por isso abandonei o pensamento
Filosofia é experiência de quase morte
Enquanto ensejo real de viver foi redescobrir o silêncio
Continuando a zapear por dentre os fiados do meu ser poeta, vadio
O amor que o mundo constituiu barreiras
E que portanto não prossegue na continuidade
Tem a sorte de desvendar qualquer respaldo que vai além das fronteiras
Fui signo dos sonhos mais noctívagos e incautos em matéria de sobriedade
Amor do tipo inconcebível, portanto quase um pecado de se desperdiçar

Os verdadeiros românticos jamais vivenciaram seus grandes suspiros ou temores
Por isso seus corações permanecem soltos, livres em chamas
Com sentimentos tão mais sublimes quanto que arrebatadores
Sem ilusão, sem machucados
Sem Sol, sem estrelas
A mente engana, o coração emana
Colhi do poço mais penumbrante
Lágrimas que a alma de tão condoída clama
Até perder as forças e titubeante dizer - Por favor, chega!

E cá estou eu, a cintilar nesse pedaço pequeno de esquina, de palco
Assentindo que óbvio, estou mais que amando, mais que apaixonado
Varejando minha verdadeira busca, o anjo da alma, o ópio da orgia
Não confabulo mais com as tramoias de aspecto dual, pois que a matéria é antissentimental
E assim sendo exsurge de mim belamente o verdadeiro amor do espírito
Confesso ter desacreditado que podia ter menção do que seria isso um dia
Mas cá estou eu para dizer que atingi
O que há muito viera pedindo ao Divino Sagrado
Estou amando e Céus! - Estou sendo ineditamente amado
Por ninguém mais nem menos que essa usurpadora anedota
Essa escaldeante Cabrocha dos Cosmos cujo nome se dá por Vida
- Ufa, minha querida! Chegou há tempo, já não via a hora.