sábado, 26 de maio de 2012

Cabrocha do Poeta (Pedro Drumond)


Cabrocha do Poeta (Pedro Drumond)

Oh, cabrocha leviana
Tu choras, mas por ora só sabes que ama
Procuras num dado coração
Ou talvez num poço profundo
Uma alma para se dar

Aconselho-te, no entanto,
A procurar a madrugada
Que ainda em penumbra lhe chama
Vá, mas saibas, cabrocha
A Lua ainda te ama!

Oh, cabrocha das mais inocentes
Teus castanhos olhos não me mentem
Provam-se incapazes de decifrar
Tudo aquilo que seu coração sente
Tudo aquilo que eu tenho a ofertar


Oh, cabrocha
Bem o sei que há tempos não desabafas
O mundo também pena afim de lhe entender
Se viveres doravante em aventuras noctívagas
Não regresses tristonha na alta madrugada

Sejas fantasiosa
Tal qual as estrelas em seu transcorrer
Sejas a ilusão, se preciso for
Pois em teu silêncio as estrelas vivem a morrer

Sou poeta que na vida não existiu
Por isso mesmo ao lhe deixar
Teu amor de mim não sumiu
Só pude com teus abraços contar
Para amenizar-me dos falsos amores
Cabrocha, ser teu amado pôde me bastar
Para não ser um poeta que versejasse só de dores!


sábado, 5 de maio de 2012

Eterna Poesia (Pedro Drumond)



Eterna Poesia

(Pedro Drumond)

Ah, como poeta já nasci chorando
Não menos pude viver, senão amando
Para finalmente morrer, sorrindo

Nesta vida de cicatrizes aconteci-me em letras
Sem sequer saber que um dia
Certamente tornar-me-ia o ser mais feliz do planeta

Numa manhã sorrateira
De céu tão sublime - ora, quanto frio!
Chegaste-me tu, muito bem acompanhado por sinal
Vinhas com olhos tão flamejantes
Pares esses amantes de um sorriso luzido
Expressando ao todo inigualável ternura
Qual nunca antes convidou-me a bailar contigo

E eu ali - céus, que loucura! - Quase partindo
Mas pude, contudo, salvar-me a ficar
Lembrei-me de dada canção
Melodias de linda história de amor
Mas em seguida desatou-me no peito certa dor
Havia quase esquecido-me: Juntos não podíamos cantar

Ainda atônito, meio desacreditado
Pareceu-me bem, se não estiver enganado, de avistar teu coração
Para mim se abrindo

Sem titubear, lancei-me em teus braços
E tu, tal qual querubim enamorado, surpreendeste-me
Prostrando em meu rosto um beijo simples e delicado
Mau sabias que nesse instante havias de ter me tornado:
"O Purificado"

Oh, Deus, diz-me, por quanto tempo com isso venho sonhado?
Quantas vidas tivera eu de morrer na espera desse bem-amado?

Sobretudo, o improvável provara-se irrefutável:

Regressando ao meu lar, cambaleando
Já embriagado de amor eu parecia estar, dispensava o pranto
Até que, subitamente, dei por mim desfalecido
Sim, em pouco tempo eu morria, todavia da forma mais magista

Nosso amor até então de oculto nada havia
Vou-me embora para além dos horizontes
Morrendo justamente no dia mais feliz da minha vida
Seu beijo em meu rosto foi bem claro ao dizer:

- Te amo, poeta! Não esqueça: Sou eu tua eterna poesia!