domingo, 24 de junho de 2012

O Encontro Com O Eterno

Tudo o que se apresenta-se diante de  nós sob o julgo da grandiosidade (virtudes, religião, sistemas, felicidade, etc) e que se apresenta sob a forma de um grande portal (Siga-nos!) infelizmente te levará para não menos que o ponto ordinário da limitação. Na verdade caso queiramos nos  defrontar para com a eternidade, a princípio prefiramos trafegar pelos nossos pontos minúsculos ou "negativos" (defeitos, erros, fraquezas, instintos). Sim, aqueles que sejam eles quais forem nós em maioria consideramos os ditos responsáveis pela diminuta visão que em menor ou maior grau temos de nós mesmos.

Isso pode soar absurdo, mas digo que é através da transição entre a nossa sede de apoteoses e as coisas minimizantes que chegaremos ao grandioso portal da eternidade. Se começarmos pelo conveniente, adornado e coletivo, estaremos de fato caminhando para o fim. Nossa busca espiritual é solitária porque a vida insiste em estar ao nosso lado, nem que para isso tenha de nos afastar de nós mesmos.

- Pedro Drumond




sábado, 23 de junho de 2012

Torpe de Ciúmes (Pedro Drumond)




Torpe de Ciúmes (Pedro Drumond)

Desafiei todos os limites
Como répobro sagaz, apossei-me de ti
Ah, cabocla, se tal amor tu sentisses
Teu destino guiaria-te só para mim.

No entanto quando menos desconfio
Do meu lar já foste embora
Ah, quem me dera desvendar-te a íntimo
Minha amada tu serias como nos sonhos de outrora.

Dói-me teu tamanho escárnio
Fazendo de mim um reles homem miserável
Tu que para meus anseios nada promoteu
Diga-me, quem velarás em teus braços?
Quem amar-te-á abandonado assim como eu?

Se acaso nada houvesse rompido nossa aliança
Tua, somente tua, seria minha total confiança
Agora, torpe de ciúmes, ameaço-te
Enquanto sutilmente o amor me consome
Hei de matar-me com bárbara mágoa do teu olhar
Eu que por infelicidade te amei
Morro sem saber se algum dia chegaste a me amar.

sábado, 16 de junho de 2012

A Donzela & O Nobre Cavalheiro (Pedro Drumond)




A Donzela & O Nobre Cavalheiro
(Pedro Drumond)

Cá estou, abrace-me e repare se eu deixei pedaços de mim pelos caminhos
Cá estou, e se sobrevivi foi para desfrutar por último do teu carinho
Chuva forte que cai e eu que cá estou, mais adiante temos o cais
A saudade foi uma donzela não amada que ao me ver amou-me demais

Depois da fantasia, depois da realidade
Depois de sofrer, depois de alegrar-me
Depois de viver e mesmo depois de morrer
Se o amor vela na minha cicatriz
Foi por eu esperar tuas lágrimas que me poriam um fim
Um fim que me daria paz

O amor foi um nobre cavalheiro
Que não beijou-me para eu amá-lo ainda mais

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mistério (Pedro Drumond)




Mistério (Pedro Drumond)

Não é de se estranhar que fosse madrugada
Quando, farta do seu penar, despertou minh'alma
Previsivelmente eu não detinha mais resistência
Passei a fala da vez à essência

Que mistério será esse que tanto venho calhado?
Só por fugir-me a compreensão, seria de fato mistério?
Que haverá no homem enquanto ser
Que lhe imprime um caráter nunca antes sentido?
Minha alma pôde confundir-se una ao amor
Haveria então de fragmentar um coração já partido?

Mas o que segreda-se numa certa presença
Que nos arremata para tão profundo íntimo
Já que meu mundo ilustrado vive num ser fora do retrato?
Sinto tanto, não menos nada sinto
Que sentirá, portanto, a vida quando nos repara - nós, meros abrigos!

Amor, que tanto voa e dos céus tem descido
Amor que por amor trás a dor que encontrou no caminho
Amor que para também não encontrar a solidão
Fez de mim um ser de coração

Amor que de tão interior não viu melhor forma de me matar
Amor, o verdadeiro amor, encontrado por mim na forma de rubra rosa
Se tal rarefeita rosa é sublime nas camadas outrora gastas por mim
Imperará doravante sua vida sobre solo desértico?

Por isso não temo mais a morte - assim sentindo e assim fazendo sentir -
Talvez seja-me mais provável esbarrar com Deus no inferno...

Mistério?

sábado, 2 de junho de 2012

A Dama & A Cigana (Pedro Drumond)




A Dama & A Cigana
(Pedro Drumond)

A dama anda pela rua
Tal qual uma plebéia
Precisa de máscara, pois não suporta-se quando nua
Frente a um cavalheiro, uma corte e uma platéia

A cigana, rainha de todas as rosas,
Perambula nos cemitérios como erva daninha
Passa por entre lágrimas com o perfume da morte
Somente para arriscar um palpite - Quem de fato seria?

A dama, suja de lama
Passa por entre os guerreiros
Que lhe roubaram o corpo em noites de vitória
Outrossim percebe a derrota de seus escravos
E sente-se tal qual a cigana de outrora

Agora, com as máscaras que lhes foram impostas
Suas almas feminis vivem dentro de um caixão de pregos
Aproximam-se nobres príncipes e boêmios vadios
Sem notar-lhes nenhum valor

A dama e a cigana vagueiam em desalinhos
Ambas amando sem nenhum amor