segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Profícuo Silêncio, Desafinado Consolo (Pedro Drumond)





Profícuo Silêncio, Desafinado Consolo

Somos incomodados que vivem numa luta diária para não nos acomodarmos
Aconselho a sempre contestarmos
Aqueles que dizem para nós e para si mesmos - "É tarde demais..."
Enquanto a morte não se consumou, mon ami, nunca é tarde!
Ainda há sempre o que fazer, ainda que a estagnação
Dê seu único prelúdio ao próximo ato
É justo ter esperança, todavia mui pernicioso
Que tipo de espécie é essa, o homem, responda-me, seu moço!
O que justifica esse ser que logo não será mais um ser?
O que justifica esse ser que há milênios vem promovendo confortos
E fez das crenças, das trovas e das disputas, suas algemas
E hoje derrama o fel da crítica mordaz, muitas vezes incoerente, como sua arma?
O que fez das vozes internas deste rádio sem estação, que é o homem,
Repousarem em profícuo silêncio e desafinado consolo
Sobre camas de pregos que lhe garantem uma era negra
Onde seus sonhos desdobram-se sobre fetiches lancinantes?

- Pedro Drumond

O Papel Que Ninguém Quer Interpretar (Pedro Drumond)





O Papel Que Ninguém Quer Interpretar
(Pedro Drumond)

Até que ponto sua fome é maior do que a sua integridade?
Até que ponto os crimes alheios lhe dão direito de arquitetar
Sua própria clandestinidade?
Até que ponto as vertentes obscuras da humana câmara secreta,
Infelizmente tão discriminadas por nós mesmos,
Se rebelam contra nossa moral duvidosa
Pela nossa falta em aceitá-las,
Pelo árduo trabalho que temos de entendê-las,
Fazendo com que nossas feras
Ao invés de agirem como se fossem nossas guias protetoras,
Desertem, qual trogloditas, nossa pacata suficiência
Por mera falta de opção?

Confio no processo de amadurecimento
Entretanto quanto mais maduro tornar-se o fruto
Antes fora ou depois será a sua podridão
Somente os tolos se contentam com o que pensam saber
Embora os sábios, julgados insanos,
Se regojizam mais pelo desconhecido
Sábio é aquele que nutre o amor pela inocência
E uma paixão voraz dedicada uma certa espécie de ignorância,
Salvadora do espírito

A vida jamais permite que os seus itinerantes
Sigam um percusso reto, previsível, sem desvios
Sua força é como um megalítico
Imposto na corcundas da consciência - Ela sempre fará
Com que você se curve e passe pelo funil de outros patamares -
A vida não permite a integridade, o bom-samaritanismo
Ela abomina aqueles que não se sujam nas poças de lama
- Por medo, por tolice ou por virtudes cravadas de hipocrisia -
Aqueles que não brotam certa paz interior em meio ao caos ao redor
Aqueles que não aprenderam a sorrir dos cortes causados a cacos de vidro

A vida sempre fará com que você se desvie,
Se complique, se boicote
A vida sempre fará com que você tenha
Um leque de lembranças para se identificar,
Porém jamais concederá o direito de que você seja
Excelso a princípio - Posto que são os puros, os abnegados
Mais ameaçadores do que os degenerados,
Para a vida os límpidos são os assassínios da humanidade
Ela jamais há de querer que alguém não tenha suas falhas
Porque se assim houvesse, tais sujeitos impediriam a descoberta do acerto
Suporiam-se serem mais importantes que os demais
E não teriam a mínima empatia por aqueles ao seu redor
Apesar de haverem seres tão mesquinhos por aí
Eles o são pela natureza, não por distinção
A verdadeira justiça da vida é muito fina para se justificar nos comportamentos

A vida sempre lhe dará o papel que ninguém quer interpretar
Ela quer lhe por diante do mais próximo precipício
Afim de conhecer o mistério que mesmo criou
A única opção que lhe resta é decidir - Erro ou Maldade?
E entre essas lacunas a diferença é enorme!
Qual dos dois há de escolher?
Ao fazê-lo, cuidado - Só não diga a verdade!

domingo, 20 de outubro de 2013

A Cachoeira de Águas Douradas (Pedro Drumond)




CONTOS DA MINHA ESQUIZOFRENIA:

A Cachoeira de Águas Douradas

Vou contar que sei de uma dimensão diferente. Simplesmente sei. Mesmo que jamais tenha ouvido falar dela. Nem jamais a conhecido pessoalmente. Talvez deem o nome disso de fé, imaginação aguçada ou me intitulem de demente. Que importa? Nada do que promulgo é menos egoísta, é de mim para mim, é do papel para a lixeira, da palavra para o silêncio, o que mais eu posso esperar?

Pois bem, falarei de uma estupenda cachoeira de águas douradas. O cair de suas águas é composta de notas celestiais. Suas águas possuem uma certa condensação, mas ainda assim são espasmas, como todo líquido. E são brilhantes, como o são! Chegam ser ofuscantes - a beleza é uma névoa que requer cuidado na contemplação. Não pode haver o abuso, pois corre-se o risco de contrair cegueira. Mas uma vez cego é que se enxerga a verdade. Oh, dilatado negrume!

Eu vejo uma grande cachoeira de águas douradas. O céu, deus agasalhador, é uma tela de colorações rosadas, violetas e amarelas. Todas tênues. Existem ao redor desse espaço místico tantas luas, de variadas formas, tanta natureza explosiva; porém o que se vê não são estrelas, por acaso já ouviu falar da chuva de diamantes?

Alguns vivem nesse lugar, nesse patrimônio do infinito. Não consigo determinar quem ou como são, tudo o que me prende a atenção são as águas douradas. E essa fonte é sagrada. É dela que vem as vozes dos cantores, os talentos transcendentes, a magia do ser! É ao matar a sede da vida nela, contando com a quantidade que se toma, que se desenvolvem as almas e suas respectivas naturezas. Creio que toda alma que crie obras de arte, em específico, já bebeu dessa fonte para fazer o que faz. Mas certamente ela é para todos. O que me inculta as ideias é saber se os gênios foram aqueles que se embriagaram. Será? Teria sido por termos um dia bebido dessa fonte, que nos familiarizamos tanto com o álcool? Alguns beberam dela e outros ainda o farão. Nem posso supor o sabor exato, mas o néctar daquele sangue dourado da natureza é feito com extratos de nebulosas, é algo simplesmente dos deuses!

Eu imagino que um dia uma senhora vai me abordar, me oferecendo esse líquido. Será na Grécia. Ao tomá-lo pensarei que quero o sabor e o nível de todos os seres que já me emocionaram, que são a minha verdade. Quero ser uma mistura de todos, em seus absolutos, representados por mim, podendo contar, ainda com o privilégio, de aflorar o que eu tiver de singular, a sobressair-se de minha pessoa, por assim dizer. Quero fazer uma ode às pérolas da eternidade e assim conquistar meu lugar na transcendência. E traduzir uma nova pérola nesse cordão. Quero ser algo novo dentro das vertentes clássicas. É certamente dessa fresta que causamos orgasmos de todos os níveis!

Acabo de fazer uma coisa de fórum muito íntimo - que é revelar uma das utopias que me regem. De revelar a suposta alucinação que fiz como orientação da minha realidade. Não se trata de uma simples esquizofrenia. Denotaram um peso muito grave para esse aspecto que tornam seres, afins comigo, peculiares. É um mundo interino, nós somos seres interinos. Somos peixes e vivemos dentro das águas esquizofrênicas de nossos oceanos intrínsecos. Ninguém chega lá, nunca chegará, por isso essa frustração no final de tudo e a resignação com nossa solidão. Porque não abrimos mão desses sítios internos, e ninguém pode sobreviver lá, há páramos rarefeitos demais para qualquer um, e ao mesmo tempo, profundas e densas fossas, até para nós... Somos peixes livres e incorrigíveis, a sós no útero de nós mesmos.

- Pedro Drumond

Seres da Mesma Espécie (Pedro Drumond)





Seres da Mesma Espécie
(Pedro Drumond)

Por que somente os estrangeiros, os fakes, tão difundidos na vida real,
Somente os anônimos, os intocáveis,
Os distantes, os moradores do horizonte,
Por que somente personagens podem chegar até nós
E nos fazer sentir aquela chama ou brisa da verdade?
Por que somente quem no fundo é uma mentira ou mera utopia,
Pode nos fazer sentir, ainda que em imaginação,
O que temos velado de mais puro ou verídico?
Por que somente os desconhecidos são capazes de nos revelar,
Conscientes que são de nossa natureza, ao contrário daqueles
Com quem por destino convivemos?
Por que somente quem não pode fazer nada, faz melhor?
Por que eles nos cantam o que tanto sonhamos em ouvir
E nos fazem, como ninfas, vibrar?
Enquanto aqueles, polidos de instintos e interesses supérfluos,
Encenam de forma tão barata e desqualificada
Um certo romantismo abrupto, todavia farjuto
Para nossa percepção quiça apurada
Sem ao menos nos convencer a sair do lugar,
Alguém me diga, por quê?!

Suspiramos o mesmo pranto. Seres da mesma espécie.
Vidas tão distantes, porém unidas na glória e na miséria
Assim como tudo se funde nos quadros abstratos
Tatear o mesmo escuro. Ser cético quanto a mesma luz
Disfarces tão bem mascarados, mas facilmente descobertos
Letras e mais letras. Todo o sangue das almas traduzido em letras
Não temos vida. Somos indignos disso, até parece...
Só nos restam os contos, as músicas, os êxtases
Que só existem na cabeça dos lunáticos,
Desiludidos dos prazeres e jornadas mundanos.
Infectamos, de tanto que já fomos infectados.
Não queremos mais isso
E o grande nada ainda é muita coisa para se pedir
Nos deixe apenas em silêncio, em nosso cantinho, por favor...
Fim!

sábado, 19 de outubro de 2013

Fracasso, Marionete dos Desenganos (Pedro Drumond)





Fracasso, Marionete dos Desenganos
(Pedro Drumond)

Conhecemos um homem mais pela maneira
Como ele lida com os seus fracassos
Do que com suas vanglórias,
Porém o que dizer daquele que é marionete dos desenganos?
Aquele que não dá para se conhecer
Na medida em que desaprende a viver
A cada passar de ano?

Preciso roubar do armazém dos deuses
Uma dose de narcisismo - Esse que me impedisse de desfrutar aventuras
Com pessoas que não sejam iguais a mim
É vero que as misturas complementam e até transcendem o ser
Mas o desmistifica e desintegra de todas as formas

Vou juntar-me aos seres da minha espécie
E pode ser que essa obsessão
Me leve a me namorar ou aturar-me por tempos intermináveis,
Fazendo com que eu morra sem ninguém e até sem eu mesmo
Mas só sei que não posso mais me misturar
De muito estou infectado, portanto creio
Que me tornei um parasita - Passei a infectar -

Quando foram me avaliar
(Seja acompanhado de Anúbis para o mundo das penas, das balanças,
Da verdade de Maat, da fome demoníaca de Ammit, ou seja pela peçonha
Que escorre nos lábios dos parentes, dos mestres
Dos amigos, das divindades interiores), eu já estava um tanto atônito
Absorto no silêncio espantado e resignado
De quem só fracassou, mesmo tendo salvo vidas, arquitetado amores
Dado conselhos disfarçados de sabedoria, sido um porto-seguro

Já tive o "privilégio" de me testemunhar no extremo do ridículo
(Todo o meu bom-senso não passa de disfarce)
Sou uma farsa. Uma completa farsa!
Sinto-me bem em mim, mas digo que não sou o melhor cômodo
Para servir de exílio, para o bom repousar
Do amor, dos estudos, da arte, da família,
Das coisas mais banais às mais importantes - Mero fracasso! -
Cometo erros onde tenho facilidade para o êxito
E com facilidade cometo acertos aonde haveria de ser errado
De que adianta ser tão avançado interinamente na vida
E um atrasado para o mundo?

Não sei viver!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O Problema de Ser Humano (Pedro Drumond)






O Problema de Ser Humano
(Pedro Drumond)

Depois que você revela os segredos do amor
E passa a se distinguir das almas que ainda vivem atormentadas
Sendo engolidas por plantas carnívoras, raízes peçonhentas e ervas daninhas
Sem perceberem do alto de um topo
Qual é a verdadeira fera que as ataca - Elas mesmas -
Fica a imaginar que existam mistérios maiores e ainda mais obtusos
Que não são acessíveis ao nosso saco vazio chamado alma,
Devido o problema de ser humano
- Sim, pois o amor é só um dos efeitos colaterais desta categoria,
Por sua vez uma loucura que escapou do controle universal -

Imagine que haja acima da vida, da morte e do amor
Complexos que poriam mais em risco a sua insanidade
- Quem abriria mão da inconsciência, sabendo que a grande resposta
é uma ofensa seca, fria e sem coração? -
A verdade é que a vida é um encanto feito com a intensão do desencanto
Que se regojiza, num prazer mórbido, em saber qual será aquele
Que se retirará por si mesmo
Ou se deixará levar pela mão de uma força maior
Que te reduzirá a ser cada vez menor, pior ou um apunhado de nada

Entre aqueles que vivem na fantasia, que vivem na realidade
E aqueles que de nada mais vivem - Pois é esse o final de onde começa a estrada
A vida seleciona seus petiscos entre aqueles que divagarão em sonhos
Ou vegetarão na realidade - Todo controle está fora de cogitação!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Epílogo (Pedro Drumond)






Epílogo (Pedro Drumond)

Um dia sei que assistirei a minha vida como um filme
Seja ela dirigida pela memória, pela consciência ou pela alucinação
Eu já não poderei fazer mais nada, nem ser o que quer que almejava
Estarei incapaz de sentir terremotos ou brisas no meu íntimo
Eu me verei de fora, de longe, de forma tão sóbria, distante...
Sei que me escarnecerão tantos atalhos,
Tantos sentidos antes não reconhecidos
Sei que me darei conta de que a verdade
Dançava seu balé de baixo do meu nariz
E eu, irascível, não acompanhava o seu singelo enredo

Me encantarei pela beleza, pela raridade que em tudo havia
Pelo fato de que nada tem mais volta e encerra-se irrepetível
E de que os itinerários só nos levam rumo ao imprescindível

Perceberei que por mais que houvessem-me extremos - da estagnação ao progresso -
Nada era tão absoluto quanto o infinito que em tudo me acompanhava
Sem nenhuma expectativa sobre mim, sem nenhum julgamento
E torcendo em segredo para que eu finalmente percebesse
A inutilidade dos sonhos, das ilusões
Das metas, da pressão, do controle, dos medos
Eu poderia simplesmente ter aceito o meu vazio
Ter assumido que ninguém sabe o que fazer da vida,
Apenas se envolve no que se descortina
E ter sido nada mais que uma pluma ao ar
Eu não me tratava de sorte nem de azar
Não passava senão de um simples órfão do universo
Até ter sido inundado por uma bravia correnteza de amor
Tardia que só sendo, pois não me restava mais eu
Nem a mais ninguém para amar

Passagem Soturna (Pedro Drumond)




Passagem Soturna
(Pedro Drumond)

Por que se por à janela
Quando a vida inteira já está esquecida?
Os dias se passam e os fluxos do meu espírito
Estão completamente invertidos
Adormeço somente quando todos estão no frenesi do ir-e-vir
E desperto quando não posso mais encontrar uma alma viva
Conseguintemente passo a testemunhar o infinito sombrio
A essa altura já isento de sua máscara
E perplexo percebo o quão tudo é pequeno, intocável, visceral
Mas a quem poderei convencer do que descubro?
A solidão nos deixa a mercê de loucos
Que não fazem a mínima ideia do que sentem...

Os anjos alados agora se põem a chorar copiosamente
Enquanto as bestas, as feras, estão soltas, livres e contentes
E aproveitam para me visitar nesse período de passagem soturna
Os fantasmas que devido o tormento que causam
Um dia ei de incorporar
Pois sou uma alma que vaga pelos trilhos,
Em desalinhos, sob devaneios, por desatinos
Uma alma que sempre vai, sempre se verá seguindo adiante,
Mas sem jamais chegar a lugar algum
E os rastros deixados por mim
No fundo só significarão uma coisa:

Apresentem-me a mim
Somente quando eu já não for mais eu,
Agradecido

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Profundo Ser (Pedro Drumond)






Profundo Ser
(Pedro Drumond)

Profundo ser
De vida rasa
Escondido a viver
Na margem, nas bordas, na superfície amarga
Profundo ser que a tudo corrói
Asperamente pela crítica, pela briga
Pela violação da realidade

Tua face irrevelável
Tua ojeriza ao próprio sabor
Quando tantas donzelas vivem a esperá-lo
O que esperas? Torna-te inconfessável
Indisposto a te exterminar
Pobre, aguardas o amor...
Mau sabes tu, que esse veste-se com o manto da morte
Não queira-te ir antes de afogar
A louca, a profusa, a Diana dos bosques
Que findou por amá-lo, vespa, amaldiçoado!

Não adianta te soterrar
Não adianta sentir o sabor da grama
Tendo uma essência feita a mel
Nada faças...
Nada faças...
Só peço que observes - A Lua amanheceu no céu!

sábado, 12 de outubro de 2013

Palavras de Uma Vida Jogada ao Vento (Pedro Drumond)





Palavras de Uma Vida Jogada ao Vento
(Pedro Drumond)

Como ter o espírito preparado
Se a vida nos vira de cabeça para baixo
E nos sacode violenta e brutalmente
A ponto de nossos sonhos e amores
Caírem despedaçados ao chão?

Estatuas se fazem para os homens
Que mantinham convicta e fortemente
O olhar em direção a distância do futuro e sua esperança
Como entendê-los?
Talvez não era a esperança que tanto almejavam
Era somente o desespero
Que lhes caracterizavam um ar displicente e vago

Quantas vezes regressamos?
Qual foi, de fato, o verdadeiro passo que demos
E que não nos fez voltar para trás?
E se nos restar apenas nos acomodar
No calabouço da alma, prisão pior
E mais torturante que essa - a Vida - onde nos encontramos
A dividir nossos sonhos pungentes e lágrimas carcerárias?

Sinta o inexistente, antes de tudo,
Mergulhe mais uma vez no profundo abismo do nada
A vida é uma causa perdida,
Mas não podemos perdê-la por qualquer causa
E loucuras sempre clamarão atenção às outras loucuras
Elas se entendem, passam a mesma fome,
Mas jamais saberão suprir o que lhes faltam, por mais que se deseje.

A mim só cabe atender os chamados - dos mais urgentes aos mais inúteis -
Desde o copo d'água àquele que vem dos desertos,
Desde o remédio ao enfermo, desde lavar as fezes que banharam o chão,
Até os corações que estão a batalhar no campo
E pedem uma brisa que os alivie, alguém que esclareça o significado da dor
Um excerto sobre os complexos do universo
E mais algumas palavras que restarem, pois são tudo o que tenho -
Palavras de uma vida jogada ao vento.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Festins Desfeitos (Pedro Drumond)






Festins Desfeitos
(Pedro Drumond)

O que o tempo fez conosco?
Vez ou outra ainda ponho-me a seguir os teus rastros
Encontro-te sereno e todavia festivo nos estardalhaços
E mesmo assim ponho-me a escrever-te - para nunca ser lido...
Como são ingratas as doses dos longos suspiros e vasta inspiração
Advindos que são das ausências mais pungentes, mais clamantes,
Das correntes pressionadas de destinos incoerentes, oriundos da solidão
E aliados às revoltas mais desgastantes

Confesso que fico a imaginar
Se um dia em ti fiz-me cicatrizado
Repousando no cálido silêncio daquilo que fingimos por esquecido
E que seria, nesse ínterim, algo só teu... só teu - Eu! -
Sim, vez ou outra tenho saído dos festins,
Dos êxtases, dos prazeres
Tenho estado com tanta gente,
Mas ainda assim nunca troquei de lugar
Nunca pude contactar outra alma que não fosse a minha
Nunca pude desbravar a liberdade de pular minhas cercas,
Ultrapassar as grades, desventurar outras ilhas,
Ser cuspido das cavernas,
Nunca pude tocar e ser realmente tocado

Os arroubos da juventude são tudo o que enfim me resta
Mas ignoro os disfarces - Romance não pode ser Amor -
E não são de tapa-abismos que prefiro viver,
Porém, por neons de infinitos minha alma vem se arrastando
Indagando em meus sonhos, temperados a sal e ácido,
Se tu gozas dos mesmos brios que os meus
Se os meus são tão vazios quanto os teus
Se todo o jargão da vida se baseia nos diálogos irrepreensíveis
Que tecem a dúvida, o desencanto e as vontades
Quando continuam a palestrar após o adeus

Quantas fontes já não venho bebendo?
Quais de minhas curvas já não foram contornadas?
Quanta fantasia, quanta ilusão
Quantas histórias, quantas alegrias!
No entanto para onde foi parar a candura?
Como restaurar a inocência perdida?
Quais são os fundamentos humanos
Que já não estejam tolhidos de bobagens?
Quais orgasmos apoteóticos
Que já não estão enraizados em idiotices?
Agora não posso me tornar esquivo,
Pois a cada final e início de um próximo capítulo
Ei de retornar à sua gravura - Tendo meus lábios comprimidos
Meus olhos rasos d'água, as serpentes do amor envenenado
A asfixiarem-me o peito... O que o tempo realmente fará de nós,
Que não sabemos mais um do outro
E só permaneceremos a viver de festins desfeitos?

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Peso Da Existência (Pedro Drumond)





O PESO DA EXISTÊNCIA
(PEDRO DRUMOND)

Sim, eu findei. Mas fiquei para ter que escutar
O que vem após o adeus - tortura -
Isso é pior do que a partida, prolongada ou curta
Eu me deparei com a fragilidade da minha alma
E vi o quão ela não é límpida, e só pode chorar lágrimas de lama
Eu não tive pena de mim, o que aliás nem quero, mas fiquei perplexo
Desculpa, Vida, desculpa... Sou grato por tu seres maior do que eu
Por ignorar minha ignorância, minha covardia
E por não me dares o que eu quero - Sim, sou grato -
Sua indiferença me livrou da minha auto traição
Eu quis me entregar ao último suspiro
E fiquei aqui, intacto, para ver o quão ainda resisto (a tudo)
A glória da vida é sobreviver a si mesmo
Mas há sempre o outro dia, o outro dia...
Onde você, mais centrado, dimensiona o tamanho da sua pequenez
Gostaria eu, enquanto ser humano e logo poeta,
Trazer palavras que fizessem olvidado, o peso da existência
Gostaria de não ser denso, de não ser mau interpretado
Eu gostaria apenas, na verdade, de ser abraçado...
Abraçado...
Sim, abraçado....
Mas vou terminar como um mendigo
Não aceito a resignação, mas estou reduzido a dizer - É a vida...

Fraco

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Os Marasmos da Vida (Pedro Drumond)




Os Marasmos da Vida
(Pedro Drumond)

As pessoas amam ideias, dificilmente amam os fatos
Será que eu vou ser, até o findar dos meus dias,
Uma saudade viva? Perdida? Sem memória?

Um tiro no escuro, a audaciosidade de largar tudo
E então, cautelosamente, se arriscar
Com que razão negligenciamos os nossos limites
E nos atiramos em abismos para alcançar amores
Que não hão de amortecer as nossas quedas?

Que fazem esses sonhos de mim
Quando resolvem desfilar em minha mente
E de forma inadvertida cospem, com prazer, sobre as minhas vísceras
E me atiram de lá para cá, ora numa vida sem sentido,
Onde não haja força plausível que sustente a minha pessoa,
Ora para uma vida totalmente relevante, imprescindível
Cujo o maior ensejo é eu não ter sido excluído da categoria
E ter por conhecimento que existem estrelas
E outros tantos milagres da natureza e que por fim eu existo
(Quando é que eu ia me imaginar?)
Acompanhado da estranha sensação de trazer o mundo por dentro
Sem excluir o fato de que a vida humana segue seu destino
Na apaixonada procura dos buracos negros


Há dentro de nós, uma espécie de Ser
Que quer ser maior do que nós somos
Sempre nos pressionando a nos sentirmos em dívida conosco
A espalhar culpas que foram simplesmente expectativas
Que nunca deveriam se associarem à nossa imprevisibilidade
Eu não sou nada de ninguém
Eu não pertenço a mim
O que posso ser é somente isso - Um desdenhoso da minha consciência
E um deslumbrado com os marasmos da vida e suas invalidades
Abandonemos o "Conhece-te a ti mesmo"
E fiquemos com o "Inventa-te a ti mesmo"
O que nos resta afinal senão a vida lançada aos ventos?

(Bobagem! Não falo nada com nada, admito...)