domingo, 20 de outubro de 2013

Seres da Mesma Espécie (Pedro Drumond)





Seres da Mesma Espécie
(Pedro Drumond)

Por que somente os estrangeiros, os fakes, tão difundidos na vida real,
Somente os anônimos, os intocáveis,
Os distantes, os moradores do horizonte,
Por que somente personagens podem chegar até nós
E nos fazer sentir aquela chama ou brisa da verdade?
Por que somente quem no fundo é uma mentira ou mera utopia,
Pode nos fazer sentir, ainda que em imaginação,
O que temos velado de mais puro ou verídico?
Por que somente os desconhecidos são capazes de nos revelar,
Conscientes que são de nossa natureza, ao contrário daqueles
Com quem por destino convivemos?
Por que somente quem não pode fazer nada, faz melhor?
Por que eles nos cantam o que tanto sonhamos em ouvir
E nos fazem, como ninfas, vibrar?
Enquanto aqueles, polidos de instintos e interesses supérfluos,
Encenam de forma tão barata e desqualificada
Um certo romantismo abrupto, todavia farjuto
Para nossa percepção quiça apurada
Sem ao menos nos convencer a sair do lugar,
Alguém me diga, por quê?!

Suspiramos o mesmo pranto. Seres da mesma espécie.
Vidas tão distantes, porém unidas na glória e na miséria
Assim como tudo se funde nos quadros abstratos
Tatear o mesmo escuro. Ser cético quanto a mesma luz
Disfarces tão bem mascarados, mas facilmente descobertos
Letras e mais letras. Todo o sangue das almas traduzido em letras
Não temos vida. Somos indignos disso, até parece...
Só nos restam os contos, as músicas, os êxtases
Que só existem na cabeça dos lunáticos,
Desiludidos dos prazeres e jornadas mundanos.
Infectamos, de tanto que já fomos infectados.
Não queremos mais isso
E o grande nada ainda é muita coisa para se pedir
Nos deixe apenas em silêncio, em nosso cantinho, por favor...
Fim!

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