terça-feira, 8 de outubro de 2013

Festins Desfeitos (Pedro Drumond)






Festins Desfeitos
(Pedro Drumond)

O que o tempo fez conosco?
Vez ou outra ainda ponho-me a seguir os teus rastros
Encontro-te sereno e todavia festivo nos estardalhaços
E mesmo assim ponho-me a escrever-te - para nunca ser lido...
Como são ingratas as doses dos longos suspiros e vasta inspiração
Advindos que são das ausências mais pungentes, mais clamantes,
Das correntes pressionadas de destinos incoerentes, oriundos da solidão
E aliados às revoltas mais desgastantes

Confesso que fico a imaginar
Se um dia em ti fiz-me cicatrizado
Repousando no cálido silêncio daquilo que fingimos por esquecido
E que seria, nesse ínterim, algo só teu... só teu - Eu! -
Sim, vez ou outra tenho saído dos festins,
Dos êxtases, dos prazeres
Tenho estado com tanta gente,
Mas ainda assim nunca troquei de lugar
Nunca pude contactar outra alma que não fosse a minha
Nunca pude desbravar a liberdade de pular minhas cercas,
Ultrapassar as grades, desventurar outras ilhas,
Ser cuspido das cavernas,
Nunca pude tocar e ser realmente tocado

Os arroubos da juventude são tudo o que enfim me resta
Mas ignoro os disfarces - Romance não pode ser Amor -
E não são de tapa-abismos que prefiro viver,
Porém, por neons de infinitos minha alma vem se arrastando
Indagando em meus sonhos, temperados a sal e ácido,
Se tu gozas dos mesmos brios que os meus
Se os meus são tão vazios quanto os teus
Se todo o jargão da vida se baseia nos diálogos irrepreensíveis
Que tecem a dúvida, o desencanto e as vontades
Quando continuam a palestrar após o adeus

Quantas fontes já não venho bebendo?
Quais de minhas curvas já não foram contornadas?
Quanta fantasia, quanta ilusão
Quantas histórias, quantas alegrias!
No entanto para onde foi parar a candura?
Como restaurar a inocência perdida?
Quais são os fundamentos humanos
Que já não estejam tolhidos de bobagens?
Quais orgasmos apoteóticos
Que já não estão enraizados em idiotices?
Agora não posso me tornar esquivo,
Pois a cada final e início de um próximo capítulo
Ei de retornar à sua gravura - Tendo meus lábios comprimidos
Meus olhos rasos d'água, as serpentes do amor envenenado
A asfixiarem-me o peito... O que o tempo realmente fará de nós,
Que não sabemos mais um do outro
E só permaneceremos a viver de festins desfeitos?

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