sábado, 28 de setembro de 2013

Mate tudo o que se pensa por espiritual para vivê-lo!





Muitas vezes foi todo o condicionamento que te deram, foi toda a ideia estereotipada do considerado espiritual, ao qual as pessoas se agarram fortemente, por aquilo ter chegado à elas com tons melífluos, argumentações estruturadas (não necessariamente lógicas ou empíricas), que nos impede justamente de transcendermos o conhecimento dado, dos fatos conquistados. Portanto mate, limpe-se, livre-se, desapegue-se, esqueça, assassine, trucide, tudo o que te falaram que é espiritual. Esqueça a pintura que você viu exposta na tela, pinte por si mesmo! Esqueça todo o conforto, todo o crime que cometeram lhe livrando da inocência, da pureza, de estar apto a descobrir aquilo no qual você realmente chegou (e não o que os outros dizem ter alcançado). Mate o espiritual já detalhado para finalmente vivê-lo, completamente.

- Pedro Durmond

Absurdo, O Calabouço do Espírito (Pedro Drumond)




Absurdo, O Calabouço do Espírito
(Pedro Drumond)

O olhar superior de quem deu-se por entendido a causa de uma revolta
De uma inquietude, de uma aflição, de um comportamento amaldiçoado
É mais penoso por não ser imbuído de comoção

A natureza é fria, Deus é frio, a sabedoria é fria
Quanto mais compenetrado, mais se torna ilícito
O silêncio por respeito ou por simples falta de vontade, necessidade
Em chocar-se com a ignorância, com o caos, com a incoerência alheia
Como se tudo não fosse feito de reflexos do universo

Existe por trás do medo humano
Um calabouço do espírito que é mais peçonhento que a emoção
A isso se dá o nome de Absurdo

Como consentir com o fato de que criaram programas,
Metas de vida, metas de espírito
E os seres se contentam com qualquer coisa
Como se não fosse sabido a facilidade com que admiramos o irreal?

Como consentir que hajam pessoas estúpidas
Que querem se tornarem absolutas na felicidade
Sendo excludentes de outras essências?
Quero quebrar a corrente de tudo o que se une para me abraçar
Que eu caia no abismo do infinito, mas jamais fique a boiar sobre vereditos
Escolher algo ao mesmo tempo é abrir mão de todo o resto,
Perceba o quão somos atolados!
Toda conclusão é uma morte, mais do que da inteligência,
E sim da verdade

Mesmo que haja um certo tom de niilismo, sujo e barato,
Por detrás das minhas expressões, tudo o que não posso
É me dar por satisfeito, sanado de minhas frugalidades,
No que diz respeito ao extremismo, verdadeiro hálito de muitos mestres,
Não... eu quero continuar sendo um zumbi
À ter uma vida eterna com a alma empalhada ou banhada de verniz

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Máximo de Amor! (Pedro Drumond)




O Máximo de Amor!
(Pedro Drumond)

Não existem provas de amor - O amor já é, por si, a maior prova!
Serei justo com a existência:
Quantas vezes eu não evoquei a morte
Ao encontrar-me imergido em profundas tristezas e aflição?
Justo nesses momentos tão importantes que são
Por realmente imporem-se como densos e viscerais
Por nos sequestrarem rumo ao cativeiro de nossas almas
E por lá nos deixarem, desdenhosamente,
Afim de que vejamos quem realmente somos e podemos ser,
Quão estúpido, doravante, seria eu se me esquecesse dela
Nos momentos de paixão, de ternura, diria até de liberdade
Já que esses são ressaldos de brisas
Que possuem o dom de aliviarem as chagas
E nos tornam sequiosos da inocência, da pureza, do prazer
Cada vez mais, mais e mais...

De acordo com as peripécias do destino
Descobri que não existem acasos, senão somente o encontro
Daqueles que há tempos já se procuravam, mesmo sem saber a quem
Assim como aqueles que por ventura se separaram
O fizeram sabendo como viemos e partimos a sós deste mundo
E nesse ínterim, ninguém pode perder outro que também seja ninguém

Não, eu não esqueci dos meus extremos
Só porque hoje eu pude viver de uma intensidade sutil, há tempos ansiada,
Sou um ser humano, tão flagelado quanto divino,
Por isso não me redimo frente minha ameaça,
Meus álibis, minha sentença
Se a morte, como um sonho de um covarde, é um bálsamo
Para me livrar dos meus tormentos imaginários
Que também seja, no preço que se paga pela felicidade,
Uma apoteose para quem, como eu, já solveu-se demais
Dentro de suas próprias garantias

Que a morte me livre da dor ou da alegria, tanto faz
Mas que eu leve sempre comigo
O máximo de amor que puder da vida!
(Pois me recuso sair perdendo)
O máximo de amor que puder dessa vida, repito,
Pois sem cumprir com nossa presença
Nos resta apenas nos tornarmos a essência
Da esperança, da magia e da fé em nós mesmos
Cada vez mais, mais e mais...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

DA MORTE






DA MORTE

O que torna a morte mais corrosiva não são as percas, as separações, nem as saudades da qual é feita. O que torna a morte um espetáculo autêntico aos nossos sentimentos, é a ignorância e pequenez as quais ela, em partes, nos reduz. É o fato de você ver ali, todo um ser humano, toda uma história de vida, todo um alguém que abrigava em si alegrias, tristezas, complexos, banalidades, e dentre toda categoria de características/personalidades que temos a disposição, enfim, toda uma alma, uma estrutura, despedindo-se de todos e de si mesma, cabendo (humilhante ou gloriosamente?) nas medidas de um simples caixão, de uma minúscula caixa de pó, de um buraco na terra. Não é verdade? Esse é o primeiro ponto onde toda nossa indulgência é blasfemada. A medida de todos os nossos escrúpulos (ou a falta deles) cabem numa moradia derradeira sem luxos e nem precaridades, pois se fixam na dura visão que a natureza nos delegou de seu mais incorrigível extremo.

De igual forma, como é fundamental reconhecermos a importância da morte! Se tudo o que vivemos e o que somos, fosse obrigado a durar ou insistir em tempo ininterrupto, ficaríamos sem fôlego interno para suportarmos nós mesmos e o leve peso das condições, que mesmo passando por transformações constantes ao longo da vida, são por nossos espíritos absorvidas de forma infinita. Se um doente eternamente fosse doente, se um drogado eternamente fosse drogado, se os alegres e tristes perdurassem sem prévias nesses ânimos, se os prazeres e dores durassem mais que segundos ou anos, se pessoas consideradas de boa ou má fé/índole tivessem que assumir eternamente esses papeis, que fardo o seria! Tudo na verdade estaria isento de sentindo, carente de autenticidade, desprovido de confiança.

A morte lenta, a morte longa, a morte súbita, a morte deformadora, a morte bela, a morte periódica, o suicídio, a morte acidental, a morte proposital, a morte aliviadora, a morte desamparada... temos mais tipos de morte do que tipos de vida. Assim como podemos reconhecer a qualidade de um relacionamento amoroso, mais pela forma como ele termina do que pela forma que ele se segue (visto que nesse momento nossas verdadeiras pessoas estão desprovidas de máscaras), podemos dizer qual a verdade a respeito de uma vida, nos baseando na forma como o sujeito se entrega, consciente ou inconsciente, à sua aniquilação. Extraímos daí a percepção frente ao grau da natureza humana que lhe foi própria. E é nesse espetáculo final, no último grã ato, que devemos superar todas as nossas cenas precedidas, que devemos abrir nossas almas com chave de ouro, ao invés de sermos trancafiados por ferrugens baratas feitas do medo e paralisia.

Vivamos com os nossos companheiros de estrada ou precipício, para depositarmos no antro da despedida mais que lágrimas pungentes ou rosas diáfanas. Vivamos com quem estimamos, para enterrarmos nossos corações, mesmo comprimidos de saudades e dor, em estado leve de ligação, de união. Sem peso na consciência. Deixar um coração pesado ou receber o mesmo, em via do que foi ou deixou de ser feito, isso sim, é o que é a morte. E ficamos aqui, durinhos da silva, sendo esculpidos por essas proezas de nenhuma forma artísticas. É por isso que tantos sentem o peso dela. Pensemos, enquanto estamos presentes e também em companhia de outros, em como gostaríamos de carregar e que carregassem nossos afetos ou memórias, de forma leve, sutil, harmônica. Em quanto a maior riqueza que podemos nos desfazer é essa deixada ao detrimento do extremo, do irrevogável.

Não sonhemos com histórias perfeitas. Elas são o cúmulo da aberração. Orgulhemos de sermos protagonistas de histórias humanas, cheias de altos e baixos, de coisas admiráveis e outras nem tantas, de ganhos e perdas, de ausência de tudo, de convivência com o nada.... Enfim, mostremos o brilho da nossa medalha por termos ganhado a vida, mesmo que ela seja ofuscante por depreciações. Pelo menos é humano, é verdadeiro.

Enquanto alguém sobreviver no coração de outra pessoa, será vivo. Se deixamos obras que permaneçam a surtir efeitos, continuaremos a atuar por meio delas. Pense, portanto, naquilo que você tem depositado nas almas alheias por aí. Naquilo que tem edificado. Seja seletivo quanto aquilo que também depositaram em você, o que você realmente quer levar na sua bagagem, no seu despacho. (Lembre-se, o peso custa, e muito!). E no final desse tratado só recomendo uma coisa - a mais perigosa e gratificante de todas - viva por aqueles que morreram e morra por aqueles que viverão. Viva e morra pela coisa mais importante da sua existência - Você mesmo!

- Pedro Drumond

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Nada de Nada (Pedro Drumond)




Nada de Nada
(Pedro Drumond)

Eis-me lá - Grande para o mundo
E eis-me aqui - Pequeno para mim...
Que tortura é essa de sair lá fora
Afim de me transpor nas distorções impostas, nos absurdos
E permanecer exilado, no mundo interno da esquizofrenia espiritual,
Quanto mais posso abrir as câmaras da minha mente e coração
Mais por de trás das celas passo a viver, na verdade...

Cadê o impulso da vontade, da fibra, própria dos desbravadores?
Não, não... não existe espaço para covardia
Nem nas fantasias, tampouco nos terrores
Por acaso existirá um espaço logo para mim?
Que base sustentaria uma alma povoada de silêncio
De olhar vago, gestos trépidos, perdida ao horizonte das suas ideologias?

Findo-me neste teu campo de concentração, oh vida!
Conheço bem os teus mistérios, tuas fórmulas, tuas magias
Tudo só de murmúrios, pra variar...
E mesmo que fosse o contrário, da onde que logo a tua soberania
Decairia-se sobre mim?
Existe sensação mais andrógina que mencionar
Os milhões de pessoas espalhadas por ai,
Com seus sonhos, suas chagas, suas estórias,
E minusculamente ver-se dissipado de uma atenção maior?
Existe sentido em exigi-la?
O que é meu grito ao lado de um coro? Pode ser que nada seja
Todavia é de suma importância que eu nunca me cale
Mesmo que venha a ser silenciado pelos precipícios que mesmo elaboro

Que tapa mais ardente é o da morte em nossas faces
O que mais nos corrói a respeito desse fato,
Não se trata das percas nem separações
É ver toda uma história, uma vida,
Toda uma alma, um ser que sobrepô-se durante a brevidade a si mesmo
Reduzido a um simples espaço, esdrúxulo por sinal
(os ocos de madeira ou as fugacidades do pó )
Eis a morte, uma grande necessidade da natureza,
Por que não se dizer benção?
Mas justo sendo um princípio de fim...
Escarniante, irônico, audaz, hediondo

Hilário é viver nestas celas, nestas distorções, nestas zonas
E ser nada de nada... nada de nada... e é tudo...

sábado, 21 de setembro de 2013

Um Único Verso, O Sangue da Alma (Pedro Drumond)



Um Único Verso, O Sangue da Alma
(Pedro Drumond)

A cada gole de vinho, o sangue da alma,
Sinto encher-me mais de sequiosidade
Como eu quisera provar o beijo deste homem
Tamanhos são os áridos desertos pelos quais tenho passado
Porém de quais méritos poderia eu me resvalar
Uma vez conseguindo enfeitiçar esse sonho
Pelo qual apenas me resta encontrar, esperar, amar...

Minha alma, que já ofereceu tanta poesia em troca de solidão,
Ao sonhar com um único amor, digno de ser plausível,
Ter ouvido às distâncias ímares, um murmúrio, um soneto, um carinho,
Sentiu-se honrada em ter desperto algo de sublime
Em um único coração que seja - Por quanto ele tem almejado tal peripécia! -
Fazendo de mim, um ser que até poucos instantes
Estava a beira do suicídio, um amante com vontade de viver

Dê-me, oh, vida, a chance de me deparar com ele um dia,
Pois somente um miserável andarilho como eu
Pode surpreender-se ao encontrar, estupefato, tantos tesouros perdidos
E, uma vez o fazendo, nada mais reconhecendo como valioso
Senão o amor, a gratidão, que por eles pode nutrir
A arte é feita para o silêncio, assim como o amor é feito para o impossível
Almas como a minha e a tua, ah, essas já são feitas uma para outra...

Dizes ser pequeno, amor? Oh, não...
Pequeno sejas para o mundo, na ilusão do que torna-te para ti mesmo,
Mas para mim só podes ser grande, o grande amor
Feito de mistério, de muros, de meias-verdades
De um reflexo ao espelho da cegueira, da fantasia, da insanidade

Em meus sonhos lhe dei o mais apertado dos abraços
Encarei, perigosamente, os seus dois abismos, o seu profundo olhar
Em seguida, te findei no beijo mais sútil,
O qual jamais provara em minha vida,
Depois... ora, depois tudo desvaneceu...
Porém antes disso deixei em seu coração
Um bilhete de gratificação, anterior ao adeus

Ambos temos duas facetas,
Duas consciências, duas dimensões
Nem sei quantas vezes precisaríamos nos encarar
Afim de diluirmos pretextos, seja na ilusão de um dos poetas, anônimo,
Enquanto o outro, tão disfarçado de Fernando Pessoa,
Finaliza a história em sermos um só, um só...
Um único verso... Um pelo outro... O sangue da alma..

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Eixos do Meu Falho Destino (Pedro Drumond)




Eixos do Meu Falho Destino
(Pedro Drumond)

Felicidade sem causa, tristeza sem motivo
Amor sem justificativa, vida sem sentido
Vazios a competirem com o infinito
Assim como profundo se faz o poço carcerário
Tido por orfanato a algumas tantas almas perdidas, como a minha
Para que um princípio? De onde partiu a raiz?
Por que ser a angústia da dúvida, nunca instigada,
Se jamais se contenta em ser contida? Todo questionamento é uma rebeldia
Não quer ser respondido, quer sim, antes e apenas, ser ouvido

Isenta-me de todo e qualquer significado que apraz a aflição
Pois não existe mais razão de ser
Talvez eu assim pense por ter buscado a lógica
Ao contrário da consciência
Mas se eu tivesse por esse beco adentrado
Seria tenebrosa o que me reservasse a visão ampla, expandida,
Impassível, denegrida de mim mesmo
Eu veria o negrume do abismo
Mais do que um simples esconderijo da alma
Mais do que as marcas no pulmão, cravadas pelo cigarro
Eu veria o tamanho da fome era de Deus
E como ela é saciada mais pela trituração dos sonhos humanos
Do que pela satisfação dos cantos de júbilo

Perdi a minha voz
O único sopro de amor que me restava na alma
Mais que desafinado, meu silêncio agora é a rouquidão
Que somente olhares vagos como o meu
São capazes de penetrarem
Senti-me mau, avisei que estava de saída
Disse, com desdém, que haveria de morrer
Mas depois, caso resolvesse, voltaria
Eles riram, mais por nervoso do que por graça
Deveras pensaram - "Como pode tamanha presunção?"
A autonomia da vida nunca é algo apreciável
Pois requer uma transferência a um ponto
Que impede qualquer um de te tocar, de te penetrar
Apenas deixando outros à beira de serem invadidos
Pelo espírito do nosso coração...

Espírito do coração, espírito da arte
Espírito do universo, espírito da verdade
Espírito do amor, espírito da dor
Espírito do vazio, espírito do ser
Todo o nó existente já desbotou
E assim termino por colher os fiapos que restarem
Afim de tecer os eixos do meu falho destino

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Os Segredos do Universo (Pedro Drumond)




Os Segredos do Universo
(Pedro Drumond)

Não é possível que a minha mente seja assim tão ligada no automático
Tendo eu justo um coração tão indivisível, como pode?
Com que fim dos sonhos da noite tenho-me despertado
Afim de passar o devir, vislumbrando com obsessão
Os sonhos impossíveis de serem vividos

Não me identifico com nenhuma definição religiosa ou não-religiosa
O que sou apenas é humano, apenas isso me interessa ser
Sou a mais medíocre espécie de poeta que existe, ressaltemos,
Pois nada além de mim consigo abordar
Sou vivo o bastante para ter que me redigir
E inexistente a ponto de nada argumentar

Cade a utilidade, cadê o sentido?
Desorientação é o vento do caminho
Apenas tenho a mim mesmo para descobrir
E privar todos da menção desta catástrofe
Apenas tenho essa alma, por mais que o resto me falte,
Com ela me debruço a ouvir os segredos do universo
Terminando por fingir que de todos acabei esquecendo

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Um Machado de Dois Gumes (Pedro Drumond)



Um Machado de Dois Gumes
(Pedro Drumond)

Não me há respostas, para quê agarrar-se às respostas?
Responder seria um crime, uma afronta a essa vida inescrupulosa
Não deixo de reconhecer o que lhe é de valor
Mas hoje percebo que a vida é tão infantil como todos nós
E se ela também quisesse há tempos ter findado e não conseguido?
Reparem quantas histórias vivem se repetindo
Ao longo dos séculos, dos milênios...
Quantas coisas hoje ditas aqui, já não foram antes percebidas
E não serão depois?
Ser humano é dividir-se num machado de dois gumes:
Sentimos dentro de nós todo o vazio que suga o absoluto, o incomensurável
E ao mesmo tempo tudo se esvai, como a expiração
De uma essência volúvel
Sentir-se inteiramente completo de tudo
E no entanto viver de nada
Ter conseguido se expandir a tal ponto
Que o que apenas restou foi ter ficado em pedaços
É estranho, sumamente estranho
Ilógico, irreal
Não é o que somos, não é nada que se quer
Não é, mas é!

Mágoa Silenciosa (Pedro Drumond)



Mágoa Silenciosa
(Pedro Drumond)

Mágoa silenciosa
Da própria falta de ar
Dos irredutíveis limites
Da natureza da mente
Mágoa silenciosa
Que não ei de enxotar
Por mais que a vida seja insistente

Mágoa silenciosa
De saber o tamanho do infinito
E não conseguir preenchê-lo senão com a pequenez
Mágoa silenciosa
De desconhecer o destino
De me travar em tantas inutilidades
De ver que a beleza que venero
Não é a mesma que reconheço em mim
Mágoa silenciosa que se instala de uma só vez

Mágoa silenciosa
De ter o coração aberto para o divino
E de só poder ser comum
Sonhos infantis de um anjo em desalinho
Desfilam na tela do seu pensamento
Por já ter escolhido o seu veredito
Sem a chance de decair por uma transgressão
Que ao menos lhe trouxesse conforto

Mágoa silenciosa
De ter tido o privilégio de embalar o amor ágape
E viver no inverno dos encontros
Que não duram mais que um gozo
Mágoa silenciosa
De ter feito de religião a arte
E não ser mais que um mero figurante
Num mundo por fora encantador, mas por dentro oco

domingo, 15 de setembro de 2013

Regresso (Pedro Drumond)



Regresso (Pedro Drumond)

Estou prestes a me colocar diante de ti
Depois de tanto tempo em que minhas juras de amor
Ficaram lá atrás, ditas, esquecidas... lembra-se?
Depois que somos lançados ao crivo do tempo
Não saímos um todo iguais, embora em busca dos mesmos lamentos
Estou prestes a me colocar diante de ti
Antes mesmo que o amor, outrora meu ápice
Me convença do que me recuso a aceitar - O fim

Quero surpreender-te com a minha presença
Ou talvez nada fazer acontecido
Sabendo bem que intimamente permaneço a te esperar
É mais que provável que eu venha me buscar contigo
Estou prestes a me colocar diante de ti
E descobrir se lá estará aquele muro intransponível
Ou se serei recebido pelo teu abraço, por aquele calor do teu corpo
Se serei de vez curado pelo teu doce carinho
Ou se toparei a fronte com a minha própria morte

Estou prestes a cruzar a mesma esquina que um dia nos desviou
Prestes a amar ou odiar a vida, irrevogavelmente
Tudo depende dos instantes, do futuro ainda não previsto
Seguir viajem em prol dos nossos anseios
É percorrer um caminho sem voltas
Mas assumo o risco, qual foi o que eu já evitei?
Apenas nós somos a grande ameaça da nossa vida
Sendo assim não há o que temer justo logo no amor

Estou prestes a ir em busca de quem um dia me desalmou
Sei que estou abrindo mão da minha salvação
Burlarndo a minha sina, esquecendo as minhas leis
Porém estou irredutível por saber se diante dele
Meus olhos ainda brilharão
Se meu coração vazio, soprano
Ainda sufocará com os arroubos da eternidade
Que tão bem me alastraram
Meu coração que um dia abrigou a alma amada
Sem nem que ela se desse conta

Sou um sujeito iludido com a saudade
Que prefere fazer regresso ao amor já findo
Do que prosseguir de cabeça erguida rumo aos mistérios do destino
Sim, sou um corrupto da minha própria dignidade
Mas me por diante de ti, amor, é mais uma tentativa
De me reencontrar comigo mesmo
De descobrir se a vida é um sonho ou é de verdade

sábado, 14 de setembro de 2013

Minha Medeia Interior (Pedro Drumond)




Minha Medeia Interior
(Pedro Drumond)

Nada é natural na natureza
Aquilo que for contemplado
E tido por natural, já estará morto
Sob o julgo da simplicidade,
Do desmérito e da cegueira
Repito, nada é natural na natureza
Tudo o que encontramos é antes um claro sinal
De que ali habita o divino, caso não habite, por ali já passou,
Deixou o seu rastro, o seu silêncio,
Seu cheiro de erva-daninha, qualquer indício...
Tal é o espetáculo... tal é o grande espetáculo!

Aprendamos com as sementes,
Que renascem a partir do interior
E desabrocham numa obra incontestável,
Produto do surreal
Tudo o que é realista, portanto, é mítico,
Assim como o mítico é o todo realista
Nada é natural...

Os deuses nos amam, assim como nos odeiam
Nos lançam num caminho que nos levará
Senão ao desencontro com o que seja mesmo nosso
A questão é - Até quando os erros e desvios serão mandados
Para nos indicar a rota correta, o melhor caminho?
Quantos nos serão pertencidos ou serão furtados, digo esses erros,
Como as pedras e cruzes que se levam sobre as costas, quantos?

Deuses, em grande escala existem, vejamos nós mesmos!
Assim podemos nos convencer facilmente
De que não há Deus algum... E se houver, que importa?
Tal apenas se pode viver e jamais concluir-se,
Afim de que se finde nos giros antagônicos, paradoxais,
Todavia interlaçados, artimanhas atribuídas à deusa Eternidade...

Assim disse o centauro através dos meus sonhos
Assim disse o sagitário, cuja a voz não era
O silêncio do Sol nem o canto da Gaia,
Mas me revelara aos cochichos o pouco que restou
Das cinzas, dos mantos e do sangue escorrido
No punhal que ousou perfurar as minhas crias, Inocência e Pureza

Minha Medeia interior... Como posso explicá-la?

Traz o Hades no interior frágil da alma
Em seguida o alastra ao redor de tudo que lhe cerca
Sua razão é o caos, por isso torna-se destruidora de tudo,
O desespero é o seu princípio de vida
A mesma vida que foi impedida de viver

Calmamente assassina, mas jaz carbonizada interiormente
Com o amor tirano que resolveu fincar em si mesma
O que começou a partir de uma simples algazarra ou pacto
Sobre um tal Velocino de ouro
Sim, minha Medeia matou o seu amor depois do abandono
Antes já estava morta veemente,
Mas a morte não lhe era o bastante
A vingança sim é o elixir daqueles que vivem
Não por vontade própria, mas por atrevimento maior
Quando não resta nada mais que sucumbir às emoções
A vida é uma tempestade numa taça de vinho
Medeia está vazia, liberta, rendeu-se ao desvario
Envolvida numa liberdade inóspita, insípida e insossa,
Diga-se de passagem, uma especie de pós-mortem,
Nada mais a abala, tampouco a surpreende

Medeia é um monstro como eu, por amar angelicalmente
Petulante, altiva, feiticeira, ela segue o chamado do seu abismo
Com a cabeça erguida para as estrelas
Afim de não vislumbrar os sonhos mortos
Sobre os quais anda pisoteando no caminho
Medeia não nasceu para andar sobre as águas,
Como o fazem os fracos e principiantes a excelsos,
Medeia sim dança valsa, tango e bolero
Em meio aos cadáveres de amores
Que lhe aplaudem petrificados
Acaricia, cheia de mimos e gracejos,
Todos os monstros alados que lhes forem simpáticos,
Não se importa que eles sejam criados em páramos alheios
Medeia por isso é constantemente vigiada
Por sombras fantasiosas, olhos negros, bem o sabe,
É dosada por aqueles que lhe atacariam ferozmente,
Caso ela fosse o espelho d'água sobre o qual se debruçam
Os deuses vaidosos e egoístas, repletos de veleidades
Ao espirro das fragrâncias brumais e dementes

O fato de eu já ter visto a maldade bruta
Nos olhos de um assassino, de um ladrão,
De um mendigo, de um corrupto,
O fato de eu ter contemplado a maldade humana
E nenhum pouco ter demonstrado qualquer avesso à ela,
Muito pelo contrário, ter sim me reconhecido nesses reflexos
A ponto de abraçar o verdugo, ainda que estando além da sua infante tirania
Faz-me crer que aqueles que pedem  a paz, em verdade,
São os grandes amantes da guerra
A melhor forma de me vingar da vida
É ser, enquanto alma e dama, a mais bárbara e amável das tragédias

Como é que é? Eu sou Medeia!
Eu sou Medeia! Eternamente viva!
Do secreto tratado do amor dispensado, traidor,
Renegado após a glória, farei-me vingado
Ainda que escorram lágrimas secas
E placidamente assassinas, lágrimas secas, frias,
Vindas da minha Medeia interior

Do Amor, uma vez sendo, já outras mil, não. (Pedro Drumond)




Do Amor, uma vez sendo, já outras mil, não.
(Pedro Drumond)

É uma absurda ignorância de minha parte questionar o que os outros definem por amor. Logo eu que na minha saga, o capturei por raízes de verdades duvidosas, para ver se alcançava ao topo, o fruto de sua compreensão. Quem sou eu? Menos que ninguém para isso.

Mistura-se contudo a natureza emocional com o que não é de natureza humana. E isso não me segura a polidez, portanto lá vou... Encerra-se com um ponto final mais um caso de amor. Logo inicia-se em seguida o próximo, com tamanha verossimilhança, que não se sabe se o amor é mais um conto ou uma história verídica. Intensamente, exaurir-se sempre intensamente, contudo fugir às naturezas que já não ecoam tal nivelamento. Desdobra-se o quão puder e mais além...

O amor, uma vez diagnosticado pelo funil da nossa consciência, pode ser extremamente invicto, sem precisar da posse ou da relação. O amor se descobre amor só quando deixou de ser um acontecimento atuante. A questão é que precisamos da realidade, mas teimamos em deixar o amor a correr no abstrato, no virtual. Os sabores que a vida apresenta não têm valor perto daqueles que preferimos acreditar que haviam de existir. É humano. Mas controverso. Chama-se de inferno o que é céu e de céu o que não passa de inferno. Dá-se mais facilmente a alma desnuda para quem não possui visão sensível e apurada, esperando que essa seja bem interpretada. E toma-se por veneno o que deveria ser cura, tantas pérolas aos porcos já atiradas, mas não polidas o bastante a ponto de ver o próprio reflexo do ser, precisando mais de uma aceitação ao invés de uma entrega deliberante. Chama-se muito cedo de amor como se facilmente perduramos na convicção até depois que já foi tarde. Assim mitiga-se a natureza do amor. E não condiciona-se na essência disso. É a diferença entre boneco sem vida e o homem crente de sua alma. Ambos, contudo, manipuláveis.

Temo por quem não consegue desassociar o amor da desilusão da qual todos são feitos. Por maior que seja, nossa relação mental e emocional, com esse nível de espírito, não deve se equivocar. Havemos de transpor as dores, esses entulhos ou móveis empoeirados e esquecidos num canto, pois é o abrigo quem os contém, não o contrário. O amor sendo abrigo, como sentir-se dono de si mesmo situando-se nele? Muitas vezes fomos mau compreendidos ou nem perto disso até digamos. Agora quantas vezes também não soubemos entender o que o amor esperava de nós? Como merecia ser de fato reconhecido e não opinado? E nos pusemos a sair por aí, muitas vezes tendo por axiomas, nossas blasfêmias, do que as esperadas verdades relevantes. Permaneceremos a avaliar o amor, mais por não termos sido capazes de conter a sua totalidade, sermos incorporados por ele, que o contrário.

Amor quando não é amor, mas assim tido. Quando, não podendo sê-lo, dito feito acaba por torna-se amor! Que loucura poderia ser essa do amor, uma vez sendo, já outras mil, não?

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Intensidade (Pedro Drumond)



Intensidade
(Pedro Drumond)

Gosto das novidades, do desconhecido
Pode ser que eu viva de glórias e fracassos vãos
Por ter nunca me estabelecido
Ainda que eu nunca encontre meu porto-seguro (E ele de fato não exista)
Saberei que a minha missão é mais do que cumprir a meta
E sim aderir a busca
Digo essa busca incessante que nunca me levou a lugar nenhum
Mas também não me deixou estático, pálido, insosso

No meu caminho encontrei deuses e demônios
Virei noites na paixão de uns, no amor de outros
Sobressair-me em não ter tomado apenas goles de vinho
E sim ter suado menos que com o meu próprio sangue

Minha razão é a prova concreta de que sou um ignorante
Diante das minhas emoções, do que as tingem
Sempre que você se deparar com alguém assim, alerto-lhe, não o admire
O que se exibe pode ser parte de uma verdade sua sim, mas não toda por completo
Prosear sobre sentimentos pode ser um bel canto
Mas deste canto urge muitas vezes o silêncio
O silêncio de quem é mais vulnerável do que se pensa!
Toda armadura é mais fácil de ser perfurada
Por ser feita de metal e não de pétalas de flor

Não viva muito, viva, sim, bem! Viver bem, é a essência...
Ponha-se mais preparado para morte do que para vida
A natureza nos fez sem medos, sem amarras
Sem distorções, sem pormenores
Devíamos ter por vontade sair dela da mesma forma que entramos
Se a morte chega até nós e já não somos assim tão escravos da vida
Tendo-nos dito que somos homens que decidem aonde vão
Ao invés de seguirmos os caminhos que simplesmente nos reserval
Então teremos superado os nossos destinos, mesmo nas suas imutabilidades
É isso! É inútil chorar pelo tempo não vivido
Ou pelo tempo que não vai se viver
É inútil viver sem chorar igualmente o que se vive.
Não se acanhe, chore! Chore porque mau é a ignorância
Do que o pranto tem a lhe ensinar
E veja como se pode sorrir sobriamente, pois o bem é ter aprendido essa ciência...
Busquemos o infinito no limite de cada dia
Se a morte chegar e eu estiver ausente
Então ela não me driblará nem eu serei-lhe mísero, apenas estaremos quites!

Eu nasci do amor, é sim ao amor quem devo grande parte da minha essência
Não tem haver por quem eu senti, mas sim por quem eu me tornei a partir de então
Amadureci primeiro e somente depois pude ser menino, beato, infantil
Já a maioria das pessoas, paridas da desilusão, optam logo por chutarem o pau da barraca
(Não posso dizer que estou inteiramente ausente desta categoria)
Mas se esquecem que seus corações
Podem ter seguido destino juntamente com tal ato deliberado
(Sim, confesso, também cheguei a perder o meu coração
Na feira das ilusões, mais eis aí um ocorrido
Que me fez sentir-me mais dono de mim que o contrário, creia-me...)

Digo que vivi o amor assim como o sexo, separadamente
Cada qual em suas formas puras, íntegras
Tive o privilégio de viver o amor, puramente
E deveras foi isso o que me deu o nascimento d'alma
Hoje minha alma continua a crescer
E a depender para alguns lados (Fazer o quê? Acontece...)
Enquanto segue a degustar os êxtases, oriundos do ritual da vida
Ambos os aspectos só me favoreceram numa virtude, direi-lhes qual:

- Devemos aprender que na vida não existe felicidade ou liberdade
Existe sim in-ten-si-da-de, digam bem alto: Intensidade!
É com imenso júbilo que finalizo alguns dos meus dias (Não todos, logicamente)
Concordado que fiz jus de ter levantado-me da cama, visto que pelo menos os vivi intensamente
Assim, não há porquê temer a morte nem preocupar-me
Quanto a qualidade da minha biografia - Eu morrerei antes eternizado em mim
E naqueles em que me deixei afetado, doce ou cruelmente...

domingo, 8 de setembro de 2013

A LUA & VÊNUS, UM LINDO CASO DE AMOR! (PEDRO DRUMOND)



A LUA & VÊNUS, UM LINDO CASO DE AMOR!
(PEDRO DRUMOND)

Eu presenciei um lindo caso de amor nos céus
No justo palco dos anjos e dos demônios
Que cantavam os agudos e os graves
Repletos de nuances coloridas
E encenavam, todavia, o sereno silêncio
Das óperas cósmicas
Sim, meu caros, eu presenciei
Um lindo caso de amor nos céus, Ah!

A Lua e Vênus estavam como que abraçados, um ao outro,
A Lua e Vênus estavam ali, vendo os mortais,
Do alto de um infinito exclusivamente deles
A Lua e Vênus às vezes choravam, às vezes riam das odisseias
Que por fim definiam os nossos sentimentos

A Lua, estava com um véu, a cobrir sua beleza, porém sem deixar de expô-la
Junto ao resquício de um beijo vindo do seu derradeiro amante - o Sol -
(Então, era-se minguante ou crescente... Eram duas em uma...
Milhares são os portais do único e misterioso caminho
Que é uma mulher, assim como a Lua)
E Vênus, para mim, podia ser só uma estrela,
Caso eu ignorasse sua natureza,
Mas era mais do que isso, bem se sabe...
Vênus era uma vida inteira, majestoso, glorioso
Vênus era o amor planetário que na sua pequenez,
Destacava-se grandiosamente, ao lado de um monumento
Com o qual consumia da sua mesma glória e fracasso
Vênus era o amor na sua humilde marcação
E presença marcante frente a uma grande platéia
Na dimensão mágica que reveste os palcos

Assim como é a vida e a morte
Assim como são os homens e o Deus que inventaram
Assim como é a magia, a fantasia, o absurdo,
Os sonhos e as realidades concretas
Aquele espetáculo era apenas uma alternância de essências,
Uma variação das obras de arte - qual a picada venenosa de um inseto
E a carbonização vinda das chamas que se alastram no corpo lentamente
A consumirem a carne não separada da alma de um homem,
O nascimento de emergência, de um ser que nada era,
Porém doravante possuiria um futuro prometido
Afim de que se tornasse o que bem ou mau quisesse
Ou o nascimento previsto, ensaiado, confortante
De um ser que nem sabia quem era
E do que fizera para ser exilado do reino esquecido
Para conviver com o resto da humanidade
Inconformado pela falta de utilidade .

Assim a Lua e Vênus deram um espetáculo aos nossos olhos
Ora, admitamos, os deuses existem!
A Lua e Vênus me fizeram ingenuo, comedido
Arrancaram-me até um sorriso de menino...
Ah, quão bom é presenciar uma milagre
Ao invés de somente imaginá-lo
A Lua e Vênus me imbuíram revelar um anseio primitivo
Curvando-me até ao que não me sujeito - a prece -
A Lua e Vênus despejaram sobre mim o gozo do seu amor
E eu o ingerir, confesso, mas saibam que não existe sabor
Mais intransmutável e delicioso que aquele
Enquanto eu via aqueles dois universos
Se acasalarem num universo só,
Eu pedi aos deuses, então amantes, que escutassem os suspiros
Os suspiros de um apaixonado há tempos exaurido de si mesmo:

"Assim como a Lua & Vênus,
Que se cruzam na distância universal
Somente para respirarem o mesmo ar
E provarem que o impossível não existe
Que a vida me traga o meu amor Venusiano!
Sim, o meu amor Venusiano, foi isso que eu disse...
Furte-o d'onde quer que ele esteja,
Furte-o, pois também sou uma Lua,
Mais que cheia, mais que minguada,
Sou uma Lua eclipsada de estar há tempos
Na profundidade dos oceanos solitários
Sem ter sequer quem me lumie...
Que a vida traga o meu amor e que o nosso elo
Assim como a união da Lua & Vênus, se eternize!
Que o meu coração jamais desacredite no amor, jamais,
Pois até os astros formam seus pares um dia
(Ainda que tenham que contar os milênios para isso)
Ainda que a solidão seja o desgaste das minhas juras aliançadas
Que eu encontre ou volte a me deparar com o amor - caso seja ele o meu futuro ou passado -
Que eu ame em companhia dos silêncios e dos versos
Que eu ame dos grandes aos pequenos momentos
Que eu ame, simplesmente, mas descubra a glória que é ser amado
Amar e ser amado... Assim como a Lua & Vênus".

Da Doce Inocência Da Entrega (Pedro Drumond)



DA DOCE INOCÊNCIA DA ENTREGA
(PEDRO DRUMOND)

Eu poderia me esconder num pretexto natural, casual, idealista e romântico
Que tornaria mais belo o que quer que eu chamasse de princípio,
Eu poderia me gabar de que o amor, o meu amor, não é desse mundo
E sim me espera em outras esferas, não havendo tão cedo por essas bandas
De ter comigo...
Eu poderia ser um sonhador, um ingênuo enamorado
Mas não há como persuadir o tempo
Que me levaria com antecedência ao meu "grã finale"
Nada pode ser feito em nome do amor a não ser que nos tornemos
Nem mais nem menos que inexatos seres humanos

Pois viver é mais do que acordar e adormecer
Viver é mais do que ganhar ou perder
Viver todos sabemos, inconscientemente
Agora, encarnar em si mesmo, num momento de comunhão
Com o insubstituível estado solitário da alma
Fixando as suas raízes numa terra diáfana
Dando-lhe o ensejo de incorporar em si mesmo
E imprensar o mecânico e convalescente ir-e-vir
E por fim na ausência de tudo que se pensa ser, dizer-se presente
No que é muito complexo para ser ignorado, eis aí - O verdadeiro nascimento do homem!

Não chegarei nunca a me conhecer, a saber quem sou
A ter as respostas da vida, a preencher o negrume da existência
Estarei livre desse fardo, graças aos duendes, gnomos e fadas (Obrigado, amigos!)
Pois eles me confessaram que é mais precioso permanecer no mistério
A ignorância rude é bem distinta da doce inocência da entrega, da confiança interna
Assistimos o desfile dos nossos sonhos e emoções
Justamente no momento em que fechamos os olhos
E mergulhamos na escuridão oculta
O que podemos esperar dela? Coisa alguma!
Testemunhar uma deusa sem em nada solicitá-la é o ato mais nobre de devoção
Quem pode dizer que a vê? Quem pode dizer que sabe sê-la?
Quem pode nomear-se escuridão? Ninguém...

Nós somos vistos, nós somos sentidos, sugados, escravos, tolhidos
Meios de vida, de lá para cá, quer se queira ou não
A verdade sobre nós mesmos é que jamais chegamos a viver
Quem realmente somos, do contrário somos nós os vividos
Por algo pelo que não nos cabe conciliar à razão
Mas ser fidedignamente transmitido - Algo cujo nome não foi inventado,
Mas a vida, como concepção, até chega perto...

Que mané Deus, amor, espírito, releia o que foi escrito!
Escute novamente o que não foi dito...
Sim, sim, é isso mesmo, meu amigo!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

MINHAS ESTAÇÕES NÃO-PASSAGEIRAS (Pedro Drumond)



MINHAS ESTAÇÕES NÃO-PASSAGEIRAS
(PEDRO DRUMOND)

É madrugada de um dia sem lei, sim, de um dia...
Os corvos ganham as ruas,
As luzes vindas dos postes fazem um balé de sombras laterais,
Serem um divino espetáculo sobre as calcadas...
Sobre os itinerários, por d'onde se pode escutar tantos passos
Ao ritmo dos encontros e desencontros com suas digitais
Balé de sombras literais...
Por onde se vêm perdidas tantas almas, umas de mentes mui cheias
Outras fora de órbita, desoladas... Por que diachos não quiseram olhar o céu
E enxergarem a forma mais evidente do nada?
Me disseram, certa feita, que meu avô tinha ido para lá...
Sendo assim eis o mar que há de encobrir-me das trapaças de minha autoria

Os últimos comércios já fecharam as suas portas
Existe algo de belicoso na solidão das estradas
Um vagueante ou outro passa por elas
E através da escuridão, mau iluminada, possui-se a ilusão do ópio
Do sentir-se poderoso
Alguns gritos boêmios são ouvidos, não sei de onde
Outros suspiros de amores, desfarelados em incêndios, são sentidos
Não sei de onde...
Alguma adrenalina corre por entre as veias, vê-se as pupilas já dilatadas
Olha-se para trás, não há ninguém,
Arqueja-se rapidamente a cabeça a diante, quem?
Petrifica-se um instante, profusa viajem interna é feita
Como quem desvela a alma no fundo de um poço
Ou em areias movediças, ou salas secretas de bibliotecas...

O que aconteceria se eu pudesse reunir os cinco de mim?
Se a vida, eternamente celada, com o passar dos tempos
Tivesse desfeita sua artimanha, por ora enferrujada, e posto adiante:
A criança, o jovem, o adulto, o velho e o cadáver, que me compõem...
Seria esse o apocalipse ou a Terra deixaria de girar?
Que visão teria minha alma de si mesma
Se viesse a ser fragmentada, mastigada, repartida?
Se eu fosse catar junto à pá, eu mesmo?
O que eles diriam de mim, tais drenagens,
Que emolduraram-se no devir de minha neutralidade?
Precisamente, as perguntas que me instigo a fazer
Me levam mais além de qualquer coisa, se comparadas à verdade

Sentei na praça, ora, como vais, Lua Minguante?
Míngua minha insolência, minha fome, minha insônia
O que chamarem de essência... Míngua-me
Na matriz, no motriz, na sola dos carrapichos
Permita que sigam iluminadas, após o encontro utópico
O que colheram nas próprias visões que deram
Uma à outra, digo, dessas minhas estações não-passageiras, que tanto guardo sem preservar...

Vivo o hoje, saboreando-o de forma distinta, a observar tudo
Com muita distinção, pois sei que amanhã, maturado como outro
Eu voltarei às minhas lembranças dos fatos de cá
Afim de expandir a minha cegueira de emoções
Ou seu equívoco ideal.

Fixo meus olhos aos céus, d'onde pincha-se as pistas do nada,
Pois sei que futuramente, quando isso aqui, agora, for passado
Os meus olhos, maquiados de seus sonhos, voltarem para cá
Surpreender-se-ão, uma vez que eu já esteja a ponto de encará-los
Tal qual a travessia dos tempos sancionou-me:

Não viva do presente, não exista no futuro, nem permitas seres enterrado
Sim, enterrado, no passado
Meu cárcere muitas vezes são os versos da vida, que eu levo a contá-la, Escrita à pena de minhas alucinações
O que é a vida? (Sempre pergunto isso a qualquer um
por falta total de curiosidade em saber)
Enfim, aconteço...
Só aconteço... Aconteço só...
Talvez, sim, por que não? Aconteçamos!