terça-feira, 24 de setembro de 2013

Nada de Nada (Pedro Drumond)




Nada de Nada
(Pedro Drumond)

Eis-me lá - Grande para o mundo
E eis-me aqui - Pequeno para mim...
Que tortura é essa de sair lá fora
Afim de me transpor nas distorções impostas, nos absurdos
E permanecer exilado, no mundo interno da esquizofrenia espiritual,
Quanto mais posso abrir as câmaras da minha mente e coração
Mais por de trás das celas passo a viver, na verdade...

Cadê o impulso da vontade, da fibra, própria dos desbravadores?
Não, não... não existe espaço para covardia
Nem nas fantasias, tampouco nos terrores
Por acaso existirá um espaço logo para mim?
Que base sustentaria uma alma povoada de silêncio
De olhar vago, gestos trépidos, perdida ao horizonte das suas ideologias?

Findo-me neste teu campo de concentração, oh vida!
Conheço bem os teus mistérios, tuas fórmulas, tuas magias
Tudo só de murmúrios, pra variar...
E mesmo que fosse o contrário, da onde que logo a tua soberania
Decairia-se sobre mim?
Existe sensação mais andrógina que mencionar
Os milhões de pessoas espalhadas por ai,
Com seus sonhos, suas chagas, suas estórias,
E minusculamente ver-se dissipado de uma atenção maior?
Existe sentido em exigi-la?
O que é meu grito ao lado de um coro? Pode ser que nada seja
Todavia é de suma importância que eu nunca me cale
Mesmo que venha a ser silenciado pelos precipícios que mesmo elaboro

Que tapa mais ardente é o da morte em nossas faces
O que mais nos corrói a respeito desse fato,
Não se trata das percas nem separações
É ver toda uma história, uma vida,
Toda uma alma, um ser que sobrepô-se durante a brevidade a si mesmo
Reduzido a um simples espaço, esdrúxulo por sinal
(os ocos de madeira ou as fugacidades do pó )
Eis a morte, uma grande necessidade da natureza,
Por que não se dizer benção?
Mas justo sendo um princípio de fim...
Escarniante, irônico, audaz, hediondo

Hilário é viver nestas celas, nestas distorções, nestas zonas
E ser nada de nada... nada de nada... e é tudo...

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