terça-feira, 16 de julho de 2013

Ópera dos Céus (Pedro Drumond)



Ópera dos Céus
(Pedro Drumond)

Certa vez fitei diretamente o Sol
No exato momento em que a ópera dos céus
Anunciava a glória trágica do seu crepúsculo
Intimamente tive a impressão
De que Deus, com ternura sorria à mim, por toda eternidade
Quisera eu, se possível, ter devolvido tal semblante à Sua entidade
Todavia me restava ficar apenas banhado
De toda minha humanidade espúria
Inquieto por condenação, procurando equilibrar-me sobre o lodo da vida,
Aonde fazemos nossas travessias
Como meros seres infantis, dotados de toda sorte de crueldade

Desta orquestra ecoa gravemente o som do silêncio
Que por mais preenchido que o fosse, manteria-se inexequível
No seu espírito sempre impassível, vago
Se soubéssemos que somos pequenas sobras de um orgasmo
Da Origem, da Criação
Despejos do ápice que enlaçou a realidade, por intermediária,
Junto à vida e a morte
Concordaríamos, por fim, em quão inútil é todo esse joguinho
De decifrar, lutar, surtar, vibrar, transcender descontroladamente

Louvado seja aquele que jubila-se, mesmo torturado na guerra
Dizendo que sua vitória fora finalmente inexistir, passando a viver só por amar
Louvado seja esse homem perfeito, que nem saiu do papel
Está lá... amaçado, rabiscado,visto que a vida rejeitou a proposta
De fazer de nós impecáveis robôs
Apenas vamos louvar tudo aquilo que não nos é consignado
Pois quando eu assistia ópera dos céus, não era Deus na verdade quem me sorria
Era apenas a escuridão do universo que disfarçadamente
Um cortejo havia me feito
Por fim... jaz aqui mais um poeta endiabrado

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