quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Mau de Mim (Pedro Drumond)






Mau de Mim (Pedro Drumond)

Era uma tarde tão serena
Que de minha parte seria ingrato, mera blasfêmia
Querer abrir mão da vida, da essência
Se tudo isso não incluísse você

Os olhos verdes de um, o silêncio tímido de outro
O ser que não pertence a sonho nenhum
A paixão leviana que condoída do amor
Dispõe o seu consolo

Se toda vez que eu me embriagar de êxtase
Não me der conta que o amor do mau de mim sofresse
Eu irei passar junto às rosas
O que restar da minha sombra de alma
Pois sou um oco casulo, cuja a esperança
Apartou sem destino toda magia, toda calma

Dois cacos de fonte percorrem abismo
Que as metáforas não figuram
O que sou? O que restou? Pra onde vou?
E a vida fingindo que não me escuta

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Celos de Artista (Pedro Drumond)





Celos de Artista
(Pedro Drumond)

Renuncio ao mundo, renuncio a mim
Desafio a vida, provo-lhe o seu fim
Minh'alma vai aos poucos desfalecendo, encontro-me na coxia
Na dimensão dos palcos em instantes estarei crescendo
Silêncio! Das profundezas do meu ser
Há alguma entidade que urge...
Oh! Celos de artista

Eis um ofício, que na verdade é um abismo
Do mais complexo, simples e não menos espiritual:
Ao surgir do intérprete, o personagem íntimo,
Não é que o bobo da côrte lucra acima do seu direito?!
Pois duas chuvas numa mesma gota é um mar colossal

Caço dentre mim a voz que nas cavernas há de ecoar
Caço dentre mim a outra vida - sentido da narrativa -
Sabe-se lá quantas almas eu tenho?!

Distancio-me de mim, nada temo. Ah... que prazer!
Sou apenas a testemunha vulgar do meu agora condutor
Esse espírito... Esse espírito... O que de mim fará esse espírito?
Sim... Ele... (trombones) Eis o trovador!

Disfarce. Verdade. Eternidade.
Espírito da arte, embriague-se de mim!
Roube-me! Desgrace-me!
Corte-me! Quebre-me!
Viva-me, mate-me!
Passe por cima desse meu cadáver

Ah, Invada-lhe! Consome-lhe! Estupre-lhe!
Provoque o meu "Não-ser" para existir logo de uma vez
Sob o estado "Grã de Magia"
Celos, celos... Oh, quantos celos... Celos de artista!

No multifacetado, cada personagem encarnado
É uma vida a parte dentro da sua vida
Cada canção é um destino que segue além do seu trajeto mundano
Cada vez que o palco lhe chamar, ele há de fitar aqueles olhos de Medusa
Da arte viva!

Deu-se o salto final, escorrem-se os aplausos
Ouçam! Vejam: A perfeição ali animando minha roupagem
E eu aqui, espionando-a envaidecida
Já que as luzes se apagam
E eu embora permaneça sendo nada mais que uma miragem,,,

Ora, cale-se, farrapo!
Ouçamos "Celos de artista!"


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Poeta Pálido (Pedro Drumond)





Poeta Pálido (Pedro Drumond)

Poeta Pálido
Cuja vida roubou os tons da alma
Cuja vida só lhe pôs no espaço
Para sufocar-lhe, esvaindo-se o pouco que restava

Poeta pálido
Que me dá a liberdade de ser
De escutar e principalmente...
Com sublinhas de intencionar o sentir

Poeta pálido
A quem se revela o passado
Visto que há de relembrar outras cores
Analisando qual frio redator
Dores aquelas que não passaram de amores

Poeta pálido
Quem me dera um abraço
Se na brisa eu também não evaporasse
Se de tão longe, meus versos aconchegam-se ao seu lado

Temo, dentre tantas confessas crises existenciais
Que o tema de temor desencarnasse uma verdade
Por ter vindo à superfície das palavras
Caso todo amigo, todo navegante
Só por ficção, utopia
Indubitavelmente te amasse

domingo, 4 de novembro de 2012

Verdades Inconfessas (Pedro Drumond)




Verdades Inconfessas (Pedro Drumond)

Paradoxo
Infernal, celestial
O açúcar, o sal
A secura, a umidade
De dois olhos fitando um único abismo

Que é encantador pelo seu infinto
Preenchido quanto mais vazio
Entendido quanto menos respondido

Por mim passaram as verdades inconfessas
Por mim que viu o limite do eterno
Por mim nada resta
Um parto para cada poesia
Um sacrifício para a nova vida

Do amor que sobreveio à margem
Somos seres que foram despertos por outros
O sabor, a essência, a alma
Não é nossa por dentro do corpo

Guiado pela luz de outro caminho
Que sempre me ocultará meu verdadeiro destino
Eu sigo o rastro da fragrância jamais do meu
Mas de outro até mais avesso espírito - o Amor

sábado, 3 de novembro de 2012

Sangue numa Página em Branco (Pedro Drumond)





Sangue numa Página em Branco
(Pedro Drumond)

Se eu sei para que me surgira o amor?
Não descobri ao certo se para me expandir ou reduzir
Mas de fato seu único intento fora silenciar minh'alma
Instalá-la ao silêncio
Nada de guizos nem glórias
Apenas... e só apenas, sentimento

O amor fora tão primordial na minha vã história
Que por se tratar de sangue numa página em branco
Não tivera qualquer impressão, tradução
Portanto só me restara ser meu próprio significado
Meu único alento

Mil fantasias de um lado
Já d'outro a previsível dor
Nada que antes não tivera sido passado
Na goteira jazente e asfixiante da realidade, fez-se amor

E se for para falar de algum privilégio, confesso
É muito mais cômodo, pois nada custa ao hesitante aprendiz
Ser-se mais um infeliz na vida

Pois quem, sem maiores intensões
Reanima as brasas da felicidade
Assim como quem ama, preza mais o que semeia
Contrariando o que cativa


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Arte, pura arte!




Sabe o que torna a vida compensatória? Sabe o que a torna válida? Consegue me dizer o que dá sentido a tudo isso? Qual seria o estado mais belo, profundo, singelo, divino ou celeste que reúnem os homens, transcendo-os e os purificando?

A arte!

A arte é um amor evoluído e o amor é um artista boêmio embriagado de humanidade, ou seja, de grandeza pelos seus mínimos e autênticos representantes.