sexta-feira, 23 de março de 2012

Do AMOR - O Profeta Khalil Gibran - Rosacruz AMORC

Razão de Viver (Pedro Drumond)



Razão de Viver (Pedro Drumond)

Eu não vim a essa vida para ser um missionário
Não vim a esse mundo para descobrir a luz ou sair do escuro
Para saber de Deus nem tampouco para livrar-me de mim

Eu não vim a esse mundo para me purificar ou deixar de ser sujo
Não vim com o intento de salvar a humanidade
Não vim para conhecer os segredos da noite nem do dia
Da vida  e da morte
Não vim para ganhar nem perder algum valor
Eu não vim a esse mundo viver a vida para falar a verdade
Eu vim a esse mundo só com um único intento em vista - sentir amor!


É preciso esquecer-se para reconhecer-se
É preciso livrar-se do nosso único vício
Não falo de tóxicos, falo de dor
Por que precisaria a vida ter algum sentido?

quinta-feira, 22 de março de 2012

Felicidade, Por Onde Foi?



Saiba antes de tudo que a real felicidade não consiste em razão. É como querer que a lei do raciocinio prepondere sobre a lei da emoção. Ponha e reconheça na sua mente que você já é feliz, que você já tem tudo o que precisa, quer e procura.

Não ponha obstáculos para abraçar a felicidade. Esses obstáculos eu chamo de sonhos/metas/razões/motivos. Tanto a felicidade quanto o amor acontecem independentemente deles. Assim como se você cair num rio ele não parará de correr, continuará fluindo. Assim é a vida, com ou sem você. Só você tem o direito da escolha inteligente de fluir com a vida, ao invés da escolha das trevas, da ignorância. Motivos para sorrir você já tem e de sobra, você simplesmente EXISTE, o que você quer mais?

Não interponha mais nada no seu caminho, essa é a chave para a verdadeira obtenção de nossos anseios. Mas somente aqueles que estão preparados para isso podem atestar o que digo. Passo essa mensagem porque você certamente já está mais do que na hora de sair do ponto. Se não está, ponha-se! Todos podem por suas faces e enxergarem as plácidas margens de um rio, no entanto somente poucos podem, a partir do mesmo lugar, enxergar a sua real profundidade. Olhe para o seu interior e enxergue-a!

Pedro Drumond

sexta-feira, 16 de março de 2012

Porto da Tristeza (Pedro Drumond)



Porto da Tristeza (Pedro Drumond)

Eu existo na vida e você vive em mim
Digo que o amor na minha alma reside nos vácuos, nas lacunas não preenchidas
O amor se encontra naquilo que não enxergo, que não palpo
Naquilo que não seguro, nas minhas lágrimas escorridas

Eu sou o canto da vida e você é a poesia em mim
Dói-me ter a sua tamanha importância
E saber que essa distância não revelar-te-á a essência
Não revelar-te-á que você é o amor que não deu conta de si
Por ir além de minha presença

Sei que não existe mais um "eu" para que eu possa discorrer
Sei que morto não posso falar de mim quanto mais de você
Sei que dissolvi-me na vastidão do universo
Sei que não existo mais, por isso agora vivo
Sem ter onde chegar, já estando
Sem ter por que chorar, mas no porto da tristeza perambulando
Onde finjo que te espero, onde acredito que estou te amando

Aqui na minha vida me sinto dicotômico - quem saberá que aconteço bi-locado?
Quem saberá que caminho no mundo na falta do ser amado?
Quem saberá que quando em silêncio esfumaço no que seriam suas palavras?
Quem saberá que quando em sorrisos suponho que você esteja em lágrimas?

Na escuridão sorrio, na claridade não te sinto
Se em meditação sou presença, em solidão por onde andará sua ausência?
Percorro no mundo, mas estranhamente sem sonhos
Nessa prosa em que me conto, nessa minha simultaneidade
Quem saberá que sou um pedaço de amor incluído com o dissabor da saudade?


quinta-feira, 15 de março de 2012

Voz do Silêncio (Pedro Drumond)




Voz do Silêncio (Pedro Drumond)

Confesso, não deixo de apreciar a voz do sentimento que for
Mas para ser sincero eu gosto mesmo é de produzir os meus próprios ecos
Visto que a expressão do som torna-se mais adornada que os dizeres da palavra
O que expressa-se no som das admoestas fadas trata-se da voz do silêncio
Outrossim daquilo que em parte sou

Portanto caminhando agora pouco
Notei o quão o infinito finda-se por onde vou
Avistei rostos à procura de quem deveras não conheço, mas sei que espero
E só me falta uma coisa... não, falando a verdade, não está faltando nada!

Uma bala pode sim passar por mim, mas não me atinge
Estou além dela e nunca cheguei a dar ouvidos às minhas meras crendices
Portanto ela se trata de quem desfalece no meio caminho
Não me corroendo doravante em falsos lamentos
Logo após despenca-se no abismo pênsil
Dos meus insólitos e recônditos sentimentos

Assim sendo nesse silêncio com o qual você me lê
Crie suas próprias forças para só depois pensar em se esbanjar
O verdadeiro sábio jamais provém daquilo que sabe que  é
A força está contida naquele que nem capaz é de nela penetrar-se
Por isso Deus não precisa das migalhas de minha fé

O silêncio faz-se totalmente distinto da hesitação
Vejo muitos que por aí vagueiam
Não sei realmente o que pretendem experimentar
Por onde anda a vida? Por onde anda a verdade?
Possuo eu mesmo um digno coração?


sábado, 10 de março de 2012

Débeis Distrações (Pedro Drumond)

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Débeis Distrações (Pedro Drumond)

Fazia-se mais um cálido dia
Onde um céu nublado, prateado, envolvente e pasmoso
Abria alas para mais uma dessas chuvas finas
Não obstante eu já despertara
Com a minha mente a fazer-me mais uma de suas exigências malditas:
- Por que estar aqui? - questionava
- Não me pergunte, não quero saber - retruco - Por favor, não insista!

Olhos de ressaca, cabelos devastados
Requentando meu café amargo na companhia de uma dócil cadela
Sabendo que um nobre cavaleiro chegará em instantes vindo dos altos montes
Somente para trazer-me nada mais que um cigarro, feito de jasmim
Esse alpendre sinuoso mais parece um belo convite ao suicídio
Mas tristeza mesmo é saber que não me-há fim!

O mais curioso da liberdade
É que o homem não sabe sê-lo sê fragmentado, desconexo
O frescor das límpidas águas cai-lhe rente à pele em brasas demasiado
E o ardor das frêmitas paixões instantaneamente torna-o gélido

O mais intrigante da saudade
É saber que permanece outrossim vivo
Algum sentido de nós que acontece perdido
E ao pousar os secos olhos em quaiquer pérolas da natureza
Pergunta-se assim: "Aqui, cá entre nós...
Será que lá do seu orbe, aonde quer que ele seja
Também caem-lhe gotas de mesma tristeza?"

O mais doloroso da saudade
É estar aqui e permanecer a respirar
Sabendo que a vida abre igualmente suas asas
Aquecendo nossos amados num lar desconhecido
Enquanto que em meu interior das galáxias só me chegam o vazio

As pessoas não querem o amor como dizem
Elas querem sim é livrar-se da dor
As pessoas vivem uma vida inteira e estupidamente mortas
Mortas de medo, mortas de preocupação
Mortas de cansadas, mortas de alegria
Mortas de saudades ou mortas de paixão

Creio eu que assim sendo
Essas supostas dores que existem "aparentemente" na vida
Sejam apenas débeis distrações que os elfos nos pregam
Afim de que fiquemos no oceano com nossas faces submersas
Atentos à morte cá de dentro e ignorando a vida que há lá de fora

Pois se alguém nos puxa pelos cabelos
Trazendo-nos à margem do aqui e agora
Deveras não faltará quem de nós dirá: "Ó Deus, passou-se o tempo!
Já podes me levar embora".

quarta-feira, 7 de março de 2012

O Pior dos Vilões



Futuramente, ao relembrar esta presente encarnação, direi que fui uma flor desabrochada na aurora boreal dos cosmos, semente de inexpressíveis nebulosas. Certa vez, ao cair da noite, espinhos que rodeavam meu solo petrificaram-me numa prateada e pálida rosa, que morri sendo.

Direi que não fui ladrão, que não fui milionário, que não fui padre, que não fui político, que não fui prostituta. Direi que fui sim o pior dos vilões, que não obstante inventara de querer ter o coração de Deus, visando num equívoco surreal ou total ausência de sobriedade, brincar nas poças movediças das mais complexas emoções - O ser que amou de alma pura!

Pedro Drumond

Coração Maduro (Pedro Drumond)


Coração Maduro (Pedro Drumond)

É, tenho que aceitar, meu coração cresceu
Mais forte, mais seguro, mais pulsante
Mais amor, mais tudo! Menos eu

Fazem-me desfilar no jardim das flores virgens
E não me tiram você da memória
Falo dessas constantes oscilações lunares

Embora agora eu deva admitir
Que em meio a tantas vertigens
Descobri que nunca serei na sua vida
A mais pura das saudades

Meu coração não diz que te esqueceu
Mas também alçou longo vôo, dizendo-me até adeus
Meu coração que agora está separado de mim
Cuja tantas lágrimas eu mesmo lhe fiz destilar
Provoca imensa paz nos corações desesperados, perdidos
Mas nem mesmo me apóia na mera ilusão ou capricho
Onde ancorado no desfiado nó da risonha crença
A vida faria todo sentido
Se acaso aqui eu estivesse vivo, disposto somente a te amar

segunda-feira, 5 de março de 2012

Tristeza (Pedro Drumond)

  


Tristeza (Pedro Drumond)

A tristeza é uma forasteira perdida
Anda tanto por aí, pulando de galho em galho
Mas ela confessou-me que sente saudades de um abrigo
E é com aconchego que ela acanha-se junto a minha vida

Ah, tristeza
Você não cresce nunca, menina!                                            
Tão risonha, tão tristinha
Vai, se perde e sonha
Que na realidade você será sempre minha

Existem tantas coisas nesse mundo
Dentre as quais não posso dizer que discuto
No entanto tenho pensado
Como tanta gente faz questão de fazer da tristeza um fardo
Não, não, tristeza também é beleza, por que não?

Caminhando na relva noturna
Converso mentalmente com a também solitária, Lua
Ela diz que só brilha no escuro porque a tristeza a fascina
Diz que cada estrela trata-se de suas lágrimas
Que também lhe prestam companhia

Ouço um chamado, apago o cigarro, tocam a campainha
É a tristeza novamente
Lhe convido a entrar, cordialmente
Sim, meu peito é abrigo para tudo
E nada deixa de ser perfeito nesse mundo
A própria dor é tão magnífica quanto o prazer
Ambas em suas faces estamos debulhados, aptos a viver

E  eu lá sou besta de fechar a porta  pra ela na cara dura?
A tristeza também é bem esperta, vai acumulando, acumulando
Escondendo-se ao nosso redor
Até que numa distração qualquer ela entra de uma vez só
Divertindo-se da sua torpe vingança e ventura

Assim sendo eu lhe pergunto: Tristeza, por que rejeitá-la?
Se ela sempre traz um novo sentido de alegria
Não obstante ainda assim uma amiga, só que magoada
Que anda tantas vezes por aí em quartas de cinzas pela rua
Tristeza, tão querida
Quem dirá que não será ela quem nos atura?

domingo, 4 de março de 2012

Mago Poeta de Rosas & Bilhetes



O poeta gosta de explicar a tristeza. Tristeza que possui seu nome no Livro do Julgamento. O poeta gosta sim de versejar sobre lágrimas. Lágrimas que tomam formas de letras. Letras códigos de tristeza.

O poeta aparece na janela, no alpendre, no caramanchão. O poeta é o mago que invade o quarto da dama em solidão. Envolvida, nua, de corpo e alma (desfeita) ele a assusta. Cobre ela seus lábios e deixam à mostra somente seus olhos. Dois mares turvos, dois infernos onde Deus não põe a sola dos pés. Ela acha que aquela figura é mais um dos fantasmas vindo de sua mente.

O poeta se aproxima. Indefesa, ela não tem por onde escapar. O poeta que na penumbra do canto do quarto aparentava-se um réprobo, se desmascara na medida em que o plenilúnio lhe serve de ribalta. O poeta traz dois olhos que também choram.

A dama em desespero inenarrável já sente as dores de uma invasão proibida, seu ventre vibra. Mas o poeta só encosta suas lágrimas em seus marejados olhos. O rosto da dama serve de escudo para a cachoeira que se forma. Lágrimas de dois pares diferentes se beijam. O poeta agora modifica seus olhos. Eles afundam-se e finam-se com a alegria. O poeta tira da sua capa uma rosa e um bilhete. Uma rosa e os versos que desmistificam a tristeza e a rosa. Beija-a levemente. A dama em sobressalto finalmente acorda.

Pedro Drumond

sábado, 3 de março de 2012

Amigo dos Céus (Pedro Drumond)



Amigo dos Céus
(Pedro Drumond)

É tarde singela. O mundo lá fora baila ao som de uma vangloriosa orquestra
Mas cá deste salão reparo minuciosamente nas pessoas
Estão todas muito bem adornadas, mas com sorrisos pouco ou nada convincentes
Minha taça de champanhe grita meu nome, olho-a soslaiamente
No fundo dela um intrigante filme se passa...

A solidão tem uma forma de convite
Um convite sujo de lama
Mas sua mensagem é bem clara
Diz que foi preciso assim ser para disfarçar
Sim, essa solidão que apresenta-se na forma de um mau-trapilho
Na verdade diz tratar-se de uma venerada imperatriz
Diz ela que sua identidade foi feita especialmente para mim
Portanto somente eu poderia lhe aceitar

Diz que lá fora a vida também está nos bosques, sozinha
Pede-me com que eu repare no grande vácuo entre o Céu e a Terra
Pergunta-me se eu não me disponho a ir lá invadi-lo
E prestar a vida igualmente companhia
Bom... nada custa tentar...

Assustado, dou umas tantas piscadelas
"Será que já estou embriagado?" - penso
Mas do canto do salão reparo que ninguém nada percebeu
O mundo deu cambalhotas e só quem sentiu fui eu?
De certa forma concordo e ponho-me a sair

Lá fora tudo é um deserto
A noite ingrime é um convite à meditação
Reparo que eu sou um micro dentro de um macro
E assim dentro de mim também existe um oceano
Onde nele vejo que igualmente deságuo

- Outro surto, meu Deus! Estou eu ficando louco?
Até há pouco tempo acho que estava num subúrbio
Como vim parar aqui há tão pouco?
E por dizer em estadia, onde será que estou? Que lugar é esse?
Estou... estou... estou imerso no mar?
Mas como?! Como isso é possível? Céus... eu posso respirar!

Reparo que meu corpo ganhara certas tonalidades
Cores e raridades que partem de mim
- Que será que está havendo? - cá penso
Nado... flutuo... e sinto-me mais etéreo
- Uai, virei alma penada?
Sigo indo, não sei o que espero...

Depois de certo tempo já enfeitiçado pelas águas que percorria adentro
Sem prever com qualquer noção, sou embalado por duas melífluas mãos
A água discorre do meu corpo
Se aquela maravilha lá era o que chamavam de morte, quem ousou me tirar dela?
Mas calma aí, não estou vendo ninguém...
Fui conduzido ao que seria uma paradisíaca ilha, mas por quem?

- Hey, hey! Tem alguém aí?! Hey, hey!
- Pare de gritar tolinho, veja, estou aqui!
Bruscamente me viro. Quem seria aquele anjo de cabelos anelados?
Esboçou-me um puro sorriso, sorriso esse que clareou toda minha história
Reconhecia nele um conhecido amigo, mas onde estaria ele até agora?

Novamente ele usa de suas mãos, deslizando-as com mansuetude sobre meu rosto
Não entendo o que me dá e eu lhe dou um impenetrável abraço
Ele sorri e como sorri!
Enquanto estou eu debulhado em profundo choro

Não entendo, minhas lágrimas soam diferentes
Choram de alívio? Mas enfureço-me rapidamente
Por que este luzido homem sorri assim tão descaradamente
Enquanto eu brigo com soluços? Sacanagem...
Mas seus olhos negros, negras órbitas, me perfuram os escudos
Parecem ler-me o pensamento
Ali me vejo repartido por dentro e com total ingenuidade

- Não estou entendendo nada pra falar a verdade - explico-me
- Lembra-se de quando revelava às estrelas - por sua vez indaga -
que sempre sonhava em ter um amigo dos céus ao seu lado?
Alguém que não lhe visse, mas te conhecesse de cor e salteado?
Alguém que te completasse em seu caótico vazio
Que nem mesmo você saberia reinventar tantos "Obrigados"?
Pois então, Deus não aguentava mais sua tenaz insistência
E decidira me mandar.

- Mas... (fantástico) como te chamo? - timidamente pergunto - Você que mais parece um anjo
E possível aniquilador de todos os ceticismos! Mas é... é você mesmo, o meu tão sonhado amigo!
Mas como chamar essa que quiça seja a melhor obra que Deus já tenha inventado?
Mas responda-me - pergunto ainda incrédulo - isso tudo é de verdade mesmo?
Não é de jeito maneira algum delírio... devaneio... alguma espécie de fantasia?

- Claro que não! É a mais pura verdade, caro fidalgo, creia!
E bom, como queira, chame-me de Thiago.
- Thiago? Uau, Esse é o nome do anjo que pedi à vida?
- Sim, e melhor dizendo - galanteia-se - chame-me quando por completo, Thiago C Silva!

sexta-feira, 2 de março de 2012

Tímido Elo (Pedro Drumond)



Tímido Elo (Pedro Drumond)

Um amor assim florido
Um amor que mais parece um jardim
Esse amor que tenho comigo
Esse amor que quando inverno
Jamais se agasalha ao fim

Esse amor que é tão singelo, tão distante, senão até bonito
Esse amor tão bem podado, mesmo que por ti não fôsse regado
Por que razão haveria de ser então esse meu amor tão intrínseco
Somente tua perfídia indiferença ou mero desconhecido?

Queimo-me por tantas vezes no impulso covarde dos meus cigarros
Por já estar morrendo no infinito que jaz-me tão latente
A felicidade não se criou em qualquer momento
No convívio do nosso pequeno espaço
Sendo assim desfaleço
Sem ter comigo sequer levado teu doce beijo

Ah, esse teu maldito beijo que jamais ungira
A fronte virginosa e até abortada
Dos meus rubros e não menos tristes lábios

Todavia ainda é saber que existimos
Pelo menos no mundo dos meus sonhos
E a próxima, meu amado, que hei de aprontar-te... ah, essa nem te conto!

Pois não foi a morte como resignação
Que ao tornar-me cônscio por vivo
Tivera eu, logo de imediato, havido de aceitar

Mas sim a minha única, senão mais penosa condição:
Visto que no longo devir, estaríamos separados
Minh'alma por mais que relutasse
Não poderia fazer nada contra, inútil ser-me-ia rebelar

Seja lá como for, antes mesmo do prelúdico momento
Onde nosso tímido elo tornar-se-ia desquitado
Por favor, meu bem...
(Ai... não sei se me calo, se espero, se aguento...)

Ah! Saiba que com a ânsia não posso mais
Revelo o que aqui me apraz:
Já que o amor condenou-nos tão visceralmente
Pouco aparentando perdoar-me
Ou fazer-te disposto a voltar atrás
Não permita que tudo termine no passado
Dai-me uma doce lembrança tua...
Posso ter-te ao menos o forte abraço?


quinta-feira, 1 de março de 2012

Flor de Zeus (Pedro Drumond)



Flor de Zeus (Pedro Drumond)

Era uma índia, a morena curvilínea dos pântanos mais timbrosos
Tinha olhos de felina, negros como o buraco da inexistência
Olhos de paixão, olhos de remorsos

Desfez-se das algemas que lhe escravizaram secularmente a alma
Ninguém podia conter o vôo da deusa Iansânica
Deusa das minhas ilusões insanas e mais incautas

Quis provar a si mesma a inexauribilidade do seu amor
Como o cientista que nos umbrais infernosos se convence de que Deus existe
Quis provar o amor, mas aquela cabrocha possuía olhos tão tristes
Quis provar o amor, mas era uma feiticeira que movia incêndios
Fazia dos homens apaixonados, reles decaídos, encantados, até os mais ascensos
Possuía um sorriso que sempre abriu-se ao mundo, mas fechava-se para si
No seu trono, vestida à moda angelical, ressuscitava com seu canto as rosas murchas
Era uma cabrocha de ternura, mas medievalmente só andava às escuras

Era meu carinho mais desfarelado
Juntou-se ao deus dos trovões e me concedeu a vida
A deusa das agruras, das fretas, das chuvas
Me baleou numa divina cachoeira
Sou sua filha solicitada à vida e o seu filho que o vento tempestuou
Sou eu parte da morena curvilínea
Sou eu uma marsigna do seu amor

Mas quem será essa que nas pedreiras tanto chorava?
Quem será a índia que de paixão não morria, mas por amor matava?
- Conta-nos de onde vens, insalubre poeta?
- Da essência da mãe divina, ora essa! A flor de Zeus mais venerada
A lendária, protetora das virgens, Yole Sorayonara...