sábado, 10 de março de 2012

Débeis Distrações (Pedro Drumond)

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Débeis Distrações (Pedro Drumond)

Fazia-se mais um cálido dia
Onde um céu nublado, prateado, envolvente e pasmoso
Abria alas para mais uma dessas chuvas finas
Não obstante eu já despertara
Com a minha mente a fazer-me mais uma de suas exigências malditas:
- Por que estar aqui? - questionava
- Não me pergunte, não quero saber - retruco - Por favor, não insista!

Olhos de ressaca, cabelos devastados
Requentando meu café amargo na companhia de uma dócil cadela
Sabendo que um nobre cavaleiro chegará em instantes vindo dos altos montes
Somente para trazer-me nada mais que um cigarro, feito de jasmim
Esse alpendre sinuoso mais parece um belo convite ao suicídio
Mas tristeza mesmo é saber que não me-há fim!

O mais curioso da liberdade
É que o homem não sabe sê-lo sê fragmentado, desconexo
O frescor das límpidas águas cai-lhe rente à pele em brasas demasiado
E o ardor das frêmitas paixões instantaneamente torna-o gélido

O mais intrigante da saudade
É saber que permanece outrossim vivo
Algum sentido de nós que acontece perdido
E ao pousar os secos olhos em quaiquer pérolas da natureza
Pergunta-se assim: "Aqui, cá entre nós...
Será que lá do seu orbe, aonde quer que ele seja
Também caem-lhe gotas de mesma tristeza?"

O mais doloroso da saudade
É estar aqui e permanecer a respirar
Sabendo que a vida abre igualmente suas asas
Aquecendo nossos amados num lar desconhecido
Enquanto que em meu interior das galáxias só me chegam o vazio

As pessoas não querem o amor como dizem
Elas querem sim é livrar-se da dor
As pessoas vivem uma vida inteira e estupidamente mortas
Mortas de medo, mortas de preocupação
Mortas de cansadas, mortas de alegria
Mortas de saudades ou mortas de paixão

Creio eu que assim sendo
Essas supostas dores que existem "aparentemente" na vida
Sejam apenas débeis distrações que os elfos nos pregam
Afim de que fiquemos no oceano com nossas faces submersas
Atentos à morte cá de dentro e ignorando a vida que há lá de fora

Pois se alguém nos puxa pelos cabelos
Trazendo-nos à margem do aqui e agora
Deveras não faltará quem de nós dirá: "Ó Deus, passou-se o tempo!
Já podes me levar embora".

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