sábado, 3 de março de 2012

Amigo dos Céus (Pedro Drumond)



Amigo dos Céus
(Pedro Drumond)

É tarde singela. O mundo lá fora baila ao som de uma vangloriosa orquestra
Mas cá deste salão reparo minuciosamente nas pessoas
Estão todas muito bem adornadas, mas com sorrisos pouco ou nada convincentes
Minha taça de champanhe grita meu nome, olho-a soslaiamente
No fundo dela um intrigante filme se passa...

A solidão tem uma forma de convite
Um convite sujo de lama
Mas sua mensagem é bem clara
Diz que foi preciso assim ser para disfarçar
Sim, essa solidão que apresenta-se na forma de um mau-trapilho
Na verdade diz tratar-se de uma venerada imperatriz
Diz ela que sua identidade foi feita especialmente para mim
Portanto somente eu poderia lhe aceitar

Diz que lá fora a vida também está nos bosques, sozinha
Pede-me com que eu repare no grande vácuo entre o Céu e a Terra
Pergunta-me se eu não me disponho a ir lá invadi-lo
E prestar a vida igualmente companhia
Bom... nada custa tentar...

Assustado, dou umas tantas piscadelas
"Será que já estou embriagado?" - penso
Mas do canto do salão reparo que ninguém nada percebeu
O mundo deu cambalhotas e só quem sentiu fui eu?
De certa forma concordo e ponho-me a sair

Lá fora tudo é um deserto
A noite ingrime é um convite à meditação
Reparo que eu sou um micro dentro de um macro
E assim dentro de mim também existe um oceano
Onde nele vejo que igualmente deságuo

- Outro surto, meu Deus! Estou eu ficando louco?
Até há pouco tempo acho que estava num subúrbio
Como vim parar aqui há tão pouco?
E por dizer em estadia, onde será que estou? Que lugar é esse?
Estou... estou... estou imerso no mar?
Mas como?! Como isso é possível? Céus... eu posso respirar!

Reparo que meu corpo ganhara certas tonalidades
Cores e raridades que partem de mim
- Que será que está havendo? - cá penso
Nado... flutuo... e sinto-me mais etéreo
- Uai, virei alma penada?
Sigo indo, não sei o que espero...

Depois de certo tempo já enfeitiçado pelas águas que percorria adentro
Sem prever com qualquer noção, sou embalado por duas melífluas mãos
A água discorre do meu corpo
Se aquela maravilha lá era o que chamavam de morte, quem ousou me tirar dela?
Mas calma aí, não estou vendo ninguém...
Fui conduzido ao que seria uma paradisíaca ilha, mas por quem?

- Hey, hey! Tem alguém aí?! Hey, hey!
- Pare de gritar tolinho, veja, estou aqui!
Bruscamente me viro. Quem seria aquele anjo de cabelos anelados?
Esboçou-me um puro sorriso, sorriso esse que clareou toda minha história
Reconhecia nele um conhecido amigo, mas onde estaria ele até agora?

Novamente ele usa de suas mãos, deslizando-as com mansuetude sobre meu rosto
Não entendo o que me dá e eu lhe dou um impenetrável abraço
Ele sorri e como sorri!
Enquanto estou eu debulhado em profundo choro

Não entendo, minhas lágrimas soam diferentes
Choram de alívio? Mas enfureço-me rapidamente
Por que este luzido homem sorri assim tão descaradamente
Enquanto eu brigo com soluços? Sacanagem...
Mas seus olhos negros, negras órbitas, me perfuram os escudos
Parecem ler-me o pensamento
Ali me vejo repartido por dentro e com total ingenuidade

- Não estou entendendo nada pra falar a verdade - explico-me
- Lembra-se de quando revelava às estrelas - por sua vez indaga -
que sempre sonhava em ter um amigo dos céus ao seu lado?
Alguém que não lhe visse, mas te conhecesse de cor e salteado?
Alguém que te completasse em seu caótico vazio
Que nem mesmo você saberia reinventar tantos "Obrigados"?
Pois então, Deus não aguentava mais sua tenaz insistência
E decidira me mandar.

- Mas... (fantástico) como te chamo? - timidamente pergunto - Você que mais parece um anjo
E possível aniquilador de todos os ceticismos! Mas é... é você mesmo, o meu tão sonhado amigo!
Mas como chamar essa que quiça seja a melhor obra que Deus já tenha inventado?
Mas responda-me - pergunto ainda incrédulo - isso tudo é de verdade mesmo?
Não é de jeito maneira algum delírio... devaneio... alguma espécie de fantasia?

- Claro que não! É a mais pura verdade, caro fidalgo, creia!
E bom, como queira, chame-me de Thiago.
- Thiago? Uau, Esse é o nome do anjo que pedi à vida?
- Sim, e melhor dizendo - galanteia-se - chame-me quando por completo, Thiago C Silva!

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