sábado, 14 de abril de 2012

Emocionar, Eis a Missão



Emocionar é algo muito mais emocionante que ser emocionado.

Provocar lágrimas ou simples marejas que fazem o canto de outra alma novamente ressoar é mais tangível e deslumbrante que tudo aquilo que você mesmo possa vir a experimentar, visto que por conta disso possuímos certa acentuação para sermos dissolvidos pelas nossas débeis distrações e apagões de consciência, nos lautos acordeões do tempo ancião, abdicando portanto do nosso verdadeiro êxtase de Ser, justamente nos exatos momentos que haveriam de nos ser eternos.

Tal qual os rastros deixados nas areias do deserto, nada de fato permanece sem a nossa impressão. Tudo se eterniza e não obstante vemos rasurados e implícitos  pelas superfícies dos ventos adunais as nossas secretas nostalgias. É vero que quanto mais nos aprofundamos na vida, mais esta nos prova ser pura e virgem e de todo modo impenetrável. Por que então não assumimos então  a nossa singela inocência?

Pedro Drumond

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pomar da Vida




POMAR DA VIDA

Uma vez eu assistia o sol em pleno amanhecer. Conseguia fixá-lo sem nenhuma contração nos olhos. Sua fronte me parecia ser nada mais que uma capa, um pouco mais escura e bruxuleante. E em sua volta, percebia-o como um aro fulminante e fragoroso, tendo sua luz circulando em inequívoco disparate. O céu parecia um quadro certamente de um pintor excêntrico - Azul era o fundo chambre das tímidas nuances alaranjadas, que sutilmente traçadas e bifurcadas eram anagramas espasmos e dourados de esplendor. Foi um lindo e bárbaro espetáculo.

A natureza é interessante, não é mesmo? Ela nos dá várias lições, mesmo sendo tão silenciosa...

Por exemplo, na minha janela falta entrar uma grande árvore que me viu crescer. A maioria de suas folhas é de um colorido escuro e pasmoso, um verde melequento ou menos luzido. No entanto, no meio de algumas, há um cadinho aqui e outro acolá de folhas mais verdes e cintilantes.

Isso sutilmente me remete às pessoas na vida, onde a maioria encontram-se em profundo estado torpor, sonolento, inconsciente. Todas essas pessoas meramente pacatas são pedregulhos para seus próprios caminhos. Outras, no entanto, como as folhas  mais verdejantes possuem um mistério mais luminoso, consciente e vívido. Irônico, não?

Esse contraste é uma simples ressonância. No entanto se você separar um grupo do outro, ambos se tornarão insignificantes. Se você retira da árvore, do Todo, o verde mais pálido e escuro, que sustentáculo teriam o êxtase e a celebração das outras folhas cintilantes? E se você acaba com essas folhas tênues, como podemos identificar a culminância das outras sombras, essas mesmas que estão em processo de iluminação?

Isso tudo parece a alma humana - Feita de luz singular, porém, incomensurável, infinita acompanhada, outrossim, de milhares de outras sombras dentro e ao redor de si. Penumbras dissipantes e limitadas por natureza.

Todas fazem parte de uma mesma obra. Todas acentuam um mesmo significado.

Todas são duais caminhos que te conduzem a uma só chegada, a uma só conclusão.

Todas, porém, são oriundas das mesmas raízes, o mesmo tronco as protege, os mesmos galhos as enlevam.

Todas são cortinas e baluartes artísticos dos mesmos sabiás, das mesmas borboletas dançarinas. Todas recebem a mesma chuva, o mesmo sol e são bravamente despidas no mesmo outono.

 Todas são todas e todas ainda assim são nenhuma. Diferentes entre si até como nós somos e não obstante seguidas de um mesmo brilho e significado!

Pedro Drumond

terça-feira, 3 de abril de 2012

Por: Edvaldo Pereira Campos Nettos



PEDRO DRUMOND

O cheiro, o jeito, a flor
Encanto em pétala e luz
Cosmos em si reproduz
Beleza e força interior.

Um anjo despencado
Caído em tenro jardim
Solo fértil e um fim:
Broto da paz semeado.

Caule, folha e flora
Seduzindo abelha
Em sua boca de amora

Cítrica, sucosa, vermelha
É poema polinizador, Ora
Com riso da fruta à orelha.

domingo, 1 de abril de 2012

Lua, A Iluminada (Pedro Drumond)




Lua, A Iluminada
(Pedro Drumond)

A Lua sim é iluminada, vagueante das sombras
É venérea, é sagrada
Iluminando o caos das trevas dos homens
Sem nem sequer lhes exigir contas

 Seria então o Sol essa glória toda?
Mas que importância teria tal glória
Separada do cume de sua própria devassidão?

Há mais divindade nos turvos olhos
Do homem quem chora
Que do acomodado descrente
Do seu próprio coração

A Lua sim é gloriosa
Mas são de fato naqueles lunares
Tão subjugados pelos ditos "ascensos"
Que residem a egrégia completante da vida
No decorrer dos milênios
A Lua que candeia no escuro
É a mesma luz no fim do nosso túnel

O dia com seu astro maior realmente é mui belo
Mas se comparado à expectativa que temos da liberdade
A Lua, tímida em suas penumbras, cachoa - Oh, simples vaidade!

Não confio em um Deus no seu soberbo trono
Mas creio na Lua - real prova de amor da existência
Deusa que realmente nos revela o celeste que somos (em essência)
E que todavia é nossa verdadeira guia, melhor que qualquer cruz
Não aquela quem salva a vida
No entanto essa outra: A Lua, que em sombras nos conduz!