domingo, 17 de março de 2013

De tempos em tempos...




De tempos em tempos...

O tempo na verdade é algo irrelevante. No fundo o que lhe for irreal é seu maior objeto viável.
Já o amor, por sua vez, é a considerável água dos desertos, onde a vida é derretida em decorrência
do contato constante com sua própria solidão - que é bem maior que a nossa e de nós mesmos, os ditos sonhos que a vida cria para não delirar sozinha.

Há quem note de tempos em tempos incontáveis anciões que vivem morrendo. Sem jamais trazerem consigo a verdade do ser. Ao passo que tanta juventude por aí se acaba por morrer vivendo. Levando de nós o segredo comprometedor da vida, que não passa senão de uma pura piada da inexistência perene e imutável do nosso cenário passageiro e deixado em telas brancas.

Se há alguma verdade para se descobrir, certamente não é sob a orientação de regras e metas. Alguém pode tê-la em suas mãos de forma totalmente espontânea e despreocupada em cinco minutos, como levar décadas para ser possuído pela mesma e ainda assim passível de um equívoco vindo duma busca irrefutável ou inútil. Encontre sem a busca vulgar de explorar.

Apenas esbarre, contemple, deixe aonde estava e siga seu caminho. Não a roube para si, nem seja hipócrita de levar para os demais. Ela te acompanhará eternamente, caso você prossiga segundo os passos de um infinito limitado com a ligação do contato consigo mesmo, ao contrário de uma preposição.

O grande mistério é fugitivo. Quanto mais procurado, mais temido. Quanto mais louvado, mais ignorado e previsivelmente esquecido.

Dirá o tempo que a sua maior duração pertence àqueles que diluem-se até se esgotarem, experimentando o sabor de uma migalha de existência como se fosse o banquete de um paraíso oculto. Não terão tempo de contarem-se como referências da vida àqueles que a tem como mero critério de observação distanciada, sem qualquer tipo de entrega mais profunda e visceral.

Já perdi as contas de quanto tempo já não habito mais em mim e perdi todo o meio para me receber. No entanto o tempo permanece o mesmo, com seu silêncio testemunhador de tudo que há ao meu redor e no interior de cada natureza vibrante, sem sequer convidar-me a relacionar-me um pouco mais além que superfícies rasas. Sou uma pessoa emocionalmente profunda que alcançou seu abismo por estar (tomara que temporariamente) limitado a sua cadeia de exteriores, de terras pequenas, mas contendoras de passos grandes e distantes. Um dia serei vingado por esse silenciar. Esse dia é hoje em que sou o que nunca estive - meramente um silêncio que foi, ficou e está prestes a voltar de novo.

Pedro Drumond