segunda-feira, 29 de abril de 2013

Nosso amor é um buraco negro...


Cantamos a mesma canção, seguida à risca do próprio amor silente a rasgar nossas turvas almas, que padecem do mesmo suplício, fixando suas últimas percepções de vida nos olhos da exata besta que as encara, sugando-lhes o ardor, assassina da suas paz e de nossas venturas.

Confesso que adoro e lamento ao mesmo tempo, o instante em que declaras alguma máxima de tuas confissões, extraídas de uma vida sem sentido pessoal, usando da mesma naturalidade inocente com que a luz acena para o sol, condizendo com precisão ao que seria o mesmo que eu tenha a dizer, a sentir e a principalmente defender. A mudar o nome dos personagens que nos açoitam, em suma diria que somos o mesmo coração.

Cibele, nosso brilho é cadente, qual as estrelas da mesma estirpe. Ele passa com a rapidez de um piscar de olhos, assim como o amor que nos fora oferecido, com a seguinte instrução de fazermos à ele um desejo inconfessável, que se realizasse magica e subitamente. Ah, se soubéssemos que a sua maior diversão é debochar com altivez de nossa entrega logo em seguida de vibrarmos exceptivamente  como um velho que desdenha dos jovens ávidos de vida e esperanças... Ah, se cogitássemos tal tramoia...

Ao fundo desse cenário onde percorremos quais estrelas cadentes, é a escuridão entre-aberta do nosso céu notívago de cá e o resto do universo pálido de lá que nos abraça. Quando o amor nos testemunhar, que ele não peça nada de nós, pois estamos isentos de tudo. Apenas que ele se preocupe com quão profunda foi nossa queda e quão insignificante se comprova nossos ferimentos e segredos.

Nosso amor, minha querida, não passa de um buraco negro.

Pedro Drumond



sábado, 13 de abril de 2013

O ESPÍRITO DA ARTE




O ESPÍRITO DA ARTE : VIVA A ARTE, A ARTE VIVA, VIVA ARTE!



Não existe na vida nada que mais transcenda o homem, com seus pensamentos, limites e emoções, do que o silêncio apaziguador, eterno, universal, do espírito da arte. O espírito da arte é a mais nobre, mais verdadeira, mais acalentadora forma de amor e divindade que edificamos na vida. As rochas choram e emudecem o seu duro trato. As águas se solidificam mais, assim sendo as lágrimas, por sua vez, são transformadas em diamantes, cristais, pérolas.

A arte é o silêncio de Deus. É uma história parada no tempo e que incessantemente nos conduz para um fim melhor ou mais confortável. A vida, se possui algum sentido ou não, pouco importa, mas a arte, de todo tipo e qualidade, desde que pura, verdadeira e essencial, essa sim nos dá o sentido.

A arte não nasceu para ser criticada nem elogiada por nós. Não nasceu para ser analisada, conivente a padrões ou a utopias. Não nasceu para os nossos aplausos nem vaias. A arte nasceu para dar vida à alma, no silêncio dos nossos corações. Para paralisar o nosso congestionamento interno de vez. Para nos deixar apenas inertes, a golfar de sutis vibrações.



Sentir é cessar o processo mecânico de apenas respirar, sem nada que inspire seu ser a sonhar e ser livre, nem que seja por um momento. Esse é o sentimento da arte. E num momento sequer que você tenha a sós com ela, saiba, você navega nas asas da sua interna eternidade.

Muitos se queixam de serem sós no mundo. Não, ninguém é só, cada um é único. Ainda mais com a arte por aí. Vejam, valorizem, sintam, respeitem sua mensagem, seus mensageiros, seu acalanto. Dentro do espaço que nos ocorre, pode existir uma só obra que agrega milhares de personagens em um único entendimento, em um único coro de almas. A arte é a melhor religião da vida. É a mais autêntica celebração do humanismo, uma vez que une tantos seres fragmentados numa justa forma de verdade, explodida de embriaguez mágica.

Viva a arte, a arte viva, viva arte!

Pedro Drumond


A Melhor Morte (Pedro Drumond)




A Melhor Morte
(Pedro Drumond)

O amor não é humano. Não poderia sê-lo.
Ele encontra-se aquém de qualquer história
Além de qualquer desejo

O amor diz-se eterno, porque não é vivo
Seu sentido, muito longe de ser encantador
Não passa senão de um crivo
Para despertarmos de um longo sonho
Em que não lembramos de nada

Como seres sentimentais que somos, por mera ficção
Nosso amor é um pensamento longínquo e presente
Envolto naqueles que nem sabem o que pensam
Não aceitam o que sentem, nem descobriram
Porque o amor é mais dissonante
Que o lamento do mar

Viva-o, profundamente, mesmo que só lhe caiba a superfície
Pois amar, meu caro, é a melhor morte
Que podemos experimentar






sexta-feira, 12 de abril de 2013

Embalo dos Derrotistas (Pedro Drumond)




Embalo dos Derrotistas
(Pedro Drumond)

Jogue seus sonhos na lata do lixo
Para que de lá eles saiam
Teimosamente reciclados, realizados
Em suma, purificados de sentido

Desista de guerrear
E serás insistido pela vitória
Saiba que o tempo não foi ali, nem acolá
Seu tempo não passa de agora

Assim como o amor
Ausente no embalo dos derrotistas
Amar é simplesmente uma exaltação
Própria dos que vivem além da vida

Mas veja só... que sombra estranha
Essa que me persegue
Quando desapegada de mim
Em função de um contato brejeiro com a luz
Trata de convencê-la que sou sua marca autêntica
Sou a prova da sua clara direção ao que me sugere
E principalmente a quem não me conduz

Genuína Confiança (Pedro Drumond)



Genuína Confiança
(Pedro Drumond)

Confiança... Segredos...
O porquê de minha inconstância
O porquê dos meus silêncios

Não é desconfiança, não é medo
Não é um muro que me protege por dentro
Simplesmente não posso aquecer tantas almas
Sendo meu próprio alento

Me é ilícito compartilhar
Com a mesma destreza com que me dirigem
Casos e acasos, forças e fraquezas
Só podemos misturar a verdade
Nas ilusões que a vida nos impõe
Camuflando-a, enquanto a vida não obtém a sua certeza

Não direi de onde vim, para onde vou, com quem estou
Por ser desconhecido de mim
Narro minha vida interna
Para um universo sem começo nem fim
Não passamos de fantasias sem pretexto
Já a confiança, a genuína confiança
É dada às graças a quem não sabe o seu preço
Mas isso é ó... segredo!

sábado, 6 de abril de 2013

Corações Destituídos



Corações Destituídos
(Pedro Drumond)

Compungido e sem qualquer piedade
Passa vivendo meu coração
E se eu chegasse a confessar que falta-me o ar, o ar da vontade
Desta angústia, certamente, inviável seria a razão

Mas logo eu, amante da coragem,
Acorrentado às grades da esquiva liberdade, quem diria?!
Corro mais perigos aquecido ao inverno do meu quarto
Do que enfrentando meus náufragos interiores,
Destes que até então tenho sobrevivido

Não me é estranho, portanto, tal pressentimento
Lançando-me a essa vida que me cobram
Conhecerei os símbolos do castigo

Pedem-me o parecer:
D'onde está o vigor próprio da minha mocidade?
Absurdo! Até quando evitarei os princípios que devo honrar?
O que justifica a ausência desse desespero
Do desespero que tornam belos àqueles sequiosos de viver
Ou ser alguém na vida? O que perco por esperar?

Acreditem, é verdade, por vezes espremo-me em labirintos
E sem jamais ter saído do lugar, eis-me aqui, mais que perdido
Já a causa disso tudo
É que não consumo da própria fonte que transbordo
Tirana é minha paz, o meu maior furto, que somente não invoco

Para o mundo não passo de um tosco
Que orgulhosamente ilustra a sombra da sua covardia
Mas daqui onde estou, no chamado "lugar de ninguém"
Observo toda essa gana que empobrece a vida

Consoladas pelos sonhos dos quais são desprovidas
Almas como a minha põe-se a voar, mesmo dentro de seus cárceres
Afagadas pelo drama de verem suas únicas ilusões, tudo o que lhes dão sentido 

Findando em fartos corações, corações destituídos.