sábado, 6 de abril de 2013

Corações Destituídos



Corações Destituídos
(Pedro Drumond)

Compungido e sem qualquer piedade
Passa vivendo meu coração
E se eu chegasse a confessar que falta-me o ar, o ar da vontade
Desta angústia, certamente, inviável seria a razão

Mas logo eu, amante da coragem,
Acorrentado às grades da esquiva liberdade, quem diria?!
Corro mais perigos aquecido ao inverno do meu quarto
Do que enfrentando meus náufragos interiores,
Destes que até então tenho sobrevivido

Não me é estranho, portanto, tal pressentimento
Lançando-me a essa vida que me cobram
Conhecerei os símbolos do castigo

Pedem-me o parecer:
D'onde está o vigor próprio da minha mocidade?
Absurdo! Até quando evitarei os princípios que devo honrar?
O que justifica a ausência desse desespero
Do desespero que tornam belos àqueles sequiosos de viver
Ou ser alguém na vida? O que perco por esperar?

Acreditem, é verdade, por vezes espremo-me em labirintos
E sem jamais ter saído do lugar, eis-me aqui, mais que perdido
Já a causa disso tudo
É que não consumo da própria fonte que transbordo
Tirana é minha paz, o meu maior furto, que somente não invoco

Para o mundo não passo de um tosco
Que orgulhosamente ilustra a sombra da sua covardia
Mas daqui onde estou, no chamado "lugar de ninguém"
Observo toda essa gana que empobrece a vida

Consoladas pelos sonhos dos quais são desprovidas
Almas como a minha põe-se a voar, mesmo dentro de seus cárceres
Afagadas pelo drama de verem suas únicas ilusões, tudo o que lhes dão sentido 

Findando em fartos corações, corações destituídos.

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