domingo, 4 de março de 2012

Mago Poeta de Rosas & Bilhetes



O poeta gosta de explicar a tristeza. Tristeza que possui seu nome no Livro do Julgamento. O poeta gosta sim de versejar sobre lágrimas. Lágrimas que tomam formas de letras. Letras códigos de tristeza.

O poeta aparece na janela, no alpendre, no caramanchão. O poeta é o mago que invade o quarto da dama em solidão. Envolvida, nua, de corpo e alma (desfeita) ele a assusta. Cobre ela seus lábios e deixam à mostra somente seus olhos. Dois mares turvos, dois infernos onde Deus não põe a sola dos pés. Ela acha que aquela figura é mais um dos fantasmas vindo de sua mente.

O poeta se aproxima. Indefesa, ela não tem por onde escapar. O poeta que na penumbra do canto do quarto aparentava-se um réprobo, se desmascara na medida em que o plenilúnio lhe serve de ribalta. O poeta traz dois olhos que também choram.

A dama em desespero inenarrável já sente as dores de uma invasão proibida, seu ventre vibra. Mas o poeta só encosta suas lágrimas em seus marejados olhos. O rosto da dama serve de escudo para a cachoeira que se forma. Lágrimas de dois pares diferentes se beijam. O poeta agora modifica seus olhos. Eles afundam-se e finam-se com a alegria. O poeta tira da sua capa uma rosa e um bilhete. Uma rosa e os versos que desmistificam a tristeza e a rosa. Beija-a levemente. A dama em sobressalto finalmente acorda.

Pedro Drumond

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