segunda-feira, 5 de março de 2012

Tristeza (Pedro Drumond)

  


Tristeza (Pedro Drumond)

A tristeza é uma forasteira perdida
Anda tanto por aí, pulando de galho em galho
Mas ela confessou-me que sente saudades de um abrigo
E é com aconchego que ela acanha-se junto a minha vida

Ah, tristeza
Você não cresce nunca, menina!                                            
Tão risonha, tão tristinha
Vai, se perde e sonha
Que na realidade você será sempre minha

Existem tantas coisas nesse mundo
Dentre as quais não posso dizer que discuto
No entanto tenho pensado
Como tanta gente faz questão de fazer da tristeza um fardo
Não, não, tristeza também é beleza, por que não?

Caminhando na relva noturna
Converso mentalmente com a também solitária, Lua
Ela diz que só brilha no escuro porque a tristeza a fascina
Diz que cada estrela trata-se de suas lágrimas
Que também lhe prestam companhia

Ouço um chamado, apago o cigarro, tocam a campainha
É a tristeza novamente
Lhe convido a entrar, cordialmente
Sim, meu peito é abrigo para tudo
E nada deixa de ser perfeito nesse mundo
A própria dor é tão magnífica quanto o prazer
Ambas em suas faces estamos debulhados, aptos a viver

E  eu lá sou besta de fechar a porta  pra ela na cara dura?
A tristeza também é bem esperta, vai acumulando, acumulando
Escondendo-se ao nosso redor
Até que numa distração qualquer ela entra de uma vez só
Divertindo-se da sua torpe vingança e ventura

Assim sendo eu lhe pergunto: Tristeza, por que rejeitá-la?
Se ela sempre traz um novo sentido de alegria
Não obstante ainda assim uma amiga, só que magoada
Que anda tantas vezes por aí em quartas de cinzas pela rua
Tristeza, tão querida
Quem dirá que não será ela quem nos atura?

Nenhum comentário:

Postar um comentário