quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Carta A Um Jovem Artista (Pedro Drumond)





Carta A Um Jovem Artista

Então o ser humano torna-se um servo da deusa, Arte. Assim faz-se um deus, ora vindo do acervo secreto das pérolas do Olímpio, ora supostamente sendo apenas mais um escolhido que em meio a multidão, destacou-se com o seu brilho próprio.

Cuidado com as ninfas ou os elfos, chamuscados pelos seus doces cantos de seduções quase irresistíveis. O humano que deu vida para a sua divindade só pode vibrar com o silêncio das deusas ou deuses da mesma estirpe que por acaso esbarrarem no seu caminho. Cuidado com os bajuladores, os que estão ao seu lado apenas na hora da glória - um humilde súdito da arte só conhece os grandes espetáculos da vida e dos seus bastidores solitariamente. A arte será o fundamento pelo qual se vive, se morre, se eterniza com o poder do próprio fim. A arte, assim como o templo da vida - o até então teatro - não será apenas uma arena para o exercício da vaidade, mas sim uma dimensão superior para p exercício da espiritualidade, da humanidade intrínseca e potente que haja em ti.

A arte não fora feita para o grã público da realidade, mas sim para os pequeninos desbravadores da fantasia! Ao receber críticas ou elogios, não enxergue aí algum resquício de diferença - para o artista nem um, nem outro, são impressionantes. Dessas direções o artista não pode depender. A arte foi feita para causar o espanto, o absrudo, o despreparo, o inusitado e máximo silêncio dos reflexos distribuídos. Hás de ensinar várias coisas para todos, criar, quem sabe, uma grande obra viva, mas ao único qual nada conseguirás ensinar algo será a ti mesmo, pois serás o único que vais desconhecer a própria obra de arte por ti proclamada. É preciso desconhecer. É preciso o mistério. É preciso o insondável. Ter um contato mais puro com a arte é como ser surpreendido por alguém que invade meticulosamente seu quarto altas horas da noite. Alguém que faz amor com você. Alguém que lhe provoca o maior dos orgasmos. Alguém quem reverbera o seu corpo, os seus instintos, as suas emoções, o seu espírito no mais elevado do extremos. Alguém quem lhe faz tudo isso, sem que se possa saber quem é, pois seu rosto estava mascurado e esse alguém fugiu pela janela sem dizer sequer uma palavra.  Assim é o preço que se paga sem nada possuir quando nos lançamos aos percalços do mundo rumo a tudo o que a deusa, Arte, tenha a nos oferecer.

Tu que trabalhas com a vida dos personagens e suas palavras - sejais um deus do silêncio! Sobreposto que em silêncio haverás de perceber quem verdadeiramente lhe ama ou ardentemente lhe amou (passando despercebidamente pela sua inocência); hás de reconhecer o desafio promissor e principalmente a verdade que abrigas sem consciência dentro do seu inigualável ser interior. Tu, servo, se escolheres a arte para se fazer mais humano, assim como os outros, terá total majestade na alma!

Abraços de uma sombra...
Pedro Drumond

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