segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Anjos & Demônios (Pedro Drumond)






ANJOS & DEMÔNIOS (Pedro Drumond)

Enquanto na vida houverem belas histórias para se contar havemos de viver com paixão a realidade, inspirados a superar e transformar todo e qualquer o horror que por ventura encontremos nos nossos caminhos, pois  afinal de contas, o horror não passa de um simples pesadelo. Assim como os sonhos, não há pesadelos eternos! Hoje trabalhemos madrugadas sobre a luz da lua, lançando nossos sonhos sobre a terra nua. E se por acaso dormimos antes de chegar o arrebol, uma nova geração colherá o fruto do nosso trabalho - um novo sol!

O vazio de não há de possuir mais nem a dor para nutrir o coração. O vazio deixado pela liberdade do nada na alma é uma coisa terrivelmente assustadora! Há dias em que você sente até uma doce saudade da tristeza, por mais que lhe tomem por louco acaso certa vez ouse revelar tal disparate. Mas você sabe do que eu estou falando. Sim, a tristeza ao menos era um canal, mesmo que bruto e denso, mas uma ponte, que bem servia para te conectar ao amor. E quando até mesmo a tristeza te abandona, como acha que pode se sentir? Quando não há mais nada - nem a dor, nem o prazer, nem os sonho, os pesadelos, quem dirá a realidade - quando só há o vazio de um terreno que outrora foi um palco de palácios e hoje, abandonado, aparenta nunca ter sido habitado, como se sentir? Havendo apenas a escuridão do útero estéril, como viver? O amor é fascinante porque é um trabalho de parto, delicado, arriscado, porém de um ganho incomparável a cada vez que se ousa orquestrá-lo. Muitas vezes nascemos desse parto do amor; Crescemos, edificamo-nos, até que chega a hora em que sentimos os ventos e nos desfarelamos brutalmente. Outras vezes morremos no processo de gestação ou na hora de ir ao encontro da luz da vida, resta-nos apenas a metade do caminho. Amar é brincar de ser Deus. Viver de amor é uma infantilidade. Morrer com amor no coração, simplesmente é ter conseguido ser humano, justo no momento mais importante da vida - o da morte.

Repare numa criança que é incapaz de realizar os grandes feitos de um adulto - construir um império, resolver problemas, tecer complexos, amar, desamar e por aí vai ... - observe uma criança, "inferior" pela sua capacidade de poder responder. A criança limitada, muitas vezes é mais livre do que o adulto, tido por ilimitado. Com certeza o adulto repara a criança inocente e pura com um certo desapontamento, uma certa pontada de inveja. Por que temos que nos curvar diante do tempo? Por que temos que travar batalhas com os seres mesquinhos que influem mais no mundo do que a alta patente dos deuses? Os deuses também sofrem. Imbuídos de poderes e potências super-humanas, eles dispendem o olhar banhado com o sentimento de injustiça de não poderem ser humanos. Seria tão mais fácil! Quanto mais se pode voar, mais o solo aparenta ser o seu melhor abrigo. O adulto não pode mais retornar e se dar o luxo da brisa fresca que decorre daquele estado - o da infância do espírito, o estado da recém geração do ser. Mesmo que pequeno, o ser infantil contém um infinito bem maior do que aquele que se possui ao crescer, pois quanto maior se torna o homem, mais o tempo lhe diminui.

Um anjo é capaz de fazer mais absurdos temidos do que um demônio. Entre um anjo e demônio talvez eu escolhesse tomar uísque com o demônio à um chá das cinco com um anjo. Um demônio é capaz de amar verdadeiramente, operar milagres e ser mais confiável que um anjo divino, do qual tudo se espera, menos o pior. Assim são os seres humanos. Quantas vezes não chamamos as bestas, as feras truculentas, as espécies mais perigosas, de "Totó"? Não confio em águas rasas, plácidas, porque de  suas profundidades sempre podem emergir catástrofes. Já das poças de lamas mais profundas sou capaz de extrair as entidades mais límpidas, corretas, preciosos diamantes do Olímpio. Oh, céus, que os anjos nunca me escutem!

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