domingo, 5 de janeiro de 2014

Lágrimas Saudosas (Pedro Drumond)





Lágrimas Saudosas
(Pedro Drumond)

Não importa o motivo,
A tragédia não significa o corpo, mas sim a alma.
Dentre as coisas aparentemente
Menos importantes do mundo,
Hoje confesso que pude chorar... Chorar, eu pude.
Depois de muito tempo sem ser visitado
Pela lavadora de almas,
Pela amiga "non grata" - a famosa, Tristeza -
Apenas o que eu sentia de leve
Era aquele seu perfume de alfazema,
De rosas murchas, de fel e de sal,
Em algum beco qualquer por onde eu perambulasse.
"Ela está por perto!" - eu pensava - mas eu não era,
Nem jamais fui, capaz de alcançá-la.

Há tempos sem um pranto embriagador,
Daqueles que colhem e recolhem o pranto acolhedor,
Eu já me tinha como alguém sem vida,
Uma fonte seca, vazia, sem profundidade.
Um solo sem fertilidade, um útero estéril.
Me via profundamente incomodado de não reverberar
Com as alegrias do inferno nem com os tormentos do paraíso.
Engasgado o desabafo, a verdade é uma completa mentira
E mentirosa também se faz a minha verdade.
A vida é isenta de princípios e esse é o seu único sentido.

O ser que trago aqui dentro de mim,
É um prisioneiro no meu calabouço,
No meu escuro em meio aos meus entulhos.
A besta feroz e angelical que vingo disfarçada
É meu ser abissal que me acompanha como sombra
E do qual sou incumbido de preservar a cada estrada que cruzo.
"Solidão, solidão... Solidão..." - ela adora cantar.

Ela, a besta, a fera, emerge à superfície
Das minhas saudosas lágrimas
Tão especiais que o são para mim.
Fazendo-me sentir novamente humano
Nas mais apoteóticas revelações
Da minha fraqueza, da minha pequenez
E do meu enorme sentimento
Pelo tudo e pelo nada.

O pranto que há muito tempo me abandonara,
Retornara com tudo! Lavou meu ser, lavou minha alma,
Mas também deixou seus espinhos, suas adagas.
Guardarei interminavelmente
Depois de secas as minhas lágrimas saudosas,
Cada lembrança justificada pela suas marcas.

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