quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Fuga da Vida Mesquinha & Barata (Pedro Drumond)




Fuga Ligeira da Vida Mesquinha & Barata
(Pedro Drumond)

Recusando a vida mecânica
E tão presumível que me oferecem,
Me desvio do peso dos ditames
Que ao homem tanto corrompe, tanto padece.

O preço que se paga por existir sem querer
É maior do que apostar naquilo em que se quer ser.
Me deram todos os truques do xadrez da vida
E eu não aceitei ser pião, ser cavalo,
Não aceitei ser nem rei, tampouco rainha,
Pois não quero ter uma alma condenada
Ao estilo dos destinos marcados.
Não quero correr o risco de perder
Todo o meu universo interno de criação
Em prol de um modelo de vida venerado e vazio
Que por trás da sua máscara nunca deixou de ser
Desesperado e insípido.
.
E o peso de ser leve como uma pluma,
Tão cheio de brios e sonhos,
Mas sem qualquer objetividade,
É o pior castigo que se alastra
Por entre as vísceras das entidades.
É aquilo que mesmo me proponho
Sem a ninguém poder culpar, sobreposto que sou
A mais longa espera de mim mesmo
E eu nunca me chego... Eu nunca venho me resgatar.

Como consequência de não ter aceito
Nenhuma das propostas que me foram feitas
Para ser aceito e bem quisto,
Como razão de ter sido tão imperfeito
Preferindo não morrer de tédio e horror admiráveis,
A única chance que possuo aos poucos vai se esvaindo.
Ensinei tanta coisa aos outros,
Tanta coisa sem nada ter aprendido.
Dei para alguns outros certo sentido, certa sobriedade,
No entanto a minha própria obra de arte
Foi pela que menos trabalhei.

Eu posso partir sem nenhum amor, sem nenhuma glória.
Eu posso chegar a viver faminto
Tanto de matéria como de espírito,
Mas a melhor postura de um general de si mesmo
É não curvar-se perante os resultados
Profetizados pelos seus próprios medos.
Só o fato de nascer já é um desaforo
Ao mesmo passo que uma lisonja,
Ambos impossíveis de distinguir.

Sim, meus passos são muito lentos,
Mas estou em fuga ligeira da vida mesquinha e barata.
Sei que nada posso esperar mais de mim.
Vou fugir para a terra-de-seu-ninguém, vou fugir!
Vou me consumir, não me detenha, vou me matar!
Vou de uma vez por todas começar o meu fim
Vou o meu fim para sempre começar.

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