sábado, 25 de janeiro de 2014

Profanei Minha Alma (Pedro Drumond)




Profanei Minha Alma
(Pedro Drumond)

Profanei minha alma.
Houve uma hora em que quis parar de negar
Tudo o que a vida postava no meu caminho.
Por mais que eu achasse tudo aquilo fascinante,
Sem sentido e completamente tentador,
Pensava eu que me enclausurar
Na falta de contato com maiores paixões
Seria a melhor forma de superar
O que me deflagou por sua vez o menor dos amores.
Talvez eu estivesse enganado
Quando na verdade, tudo o que eu precisava mesmo
Era me lançar aos braços dos sequiosos da carne,
Do desejo e do gozo, afim de me esquecer
Daquilo que realmente me vale,
Do que me pariu para mim mesmo,
Do que aliás, não passou de um profundo desgosto.

Profanei minha alma, pois como dama
Me guardei imaculada, ignorando a passagem do tempo
Para quem jamais viria beber da minha fonte.
Donde o meu amor rarefeito ainda se esconde,
Donde tudo o que mais sinto,
Preservo a profunda sede de ser feliz!
Antes que fosse tarde demais
Eu tomei o próximo navio rumo as ilusões
E nunca mais voltei, nem sequer olhei para trás.

Entreguei todo o meu ser, antes angelical,
Para o desfrute dos homens de todos os tipos:
Do mais singelo ao mais banal - com ou sem princípios.
E se eu for parar o tempo afim de procurar arrependimentos
Der nada irei me valer. Na alma o que me subjuga
Não são os lamentos. O que de fato me corrói
São apenas os sentimentos - esses sim
Pelos quais esperei viver e não morrerei levando-os comigo.

Profanei minha alma, profanei a alma que é minha.
E até que me tornei mais puro, mais inocente
Mais honesto com o meu ser humano
Do que antes, quando mais queria.
Mais uma vez quis caminhar nas estradas vazias
E hoje em dia são os ecos dos vácuos mais sombrios
Que percorrem o meu mundo interior.

Agora, só de sacanagem, quero voltar a me romantizar.
Quero me enojar dos machos que me tocam,
Quero ser donzela, quero castrar a fêmea em mim.
Porém uma vez solta, jamais essa força volta a se aprisionar.
Tomara então que a próxima curva que me encaminhar para o desvio
Não me faça encontrar nem amores e nem paixões.

Gostaria de ir para além do que me permite o destino.
Estou querendo me perder no próprio labirinto do universo
E fazer com que ele nunca mais torne a me reencontrar.
Agora exijo com que a vida prove do seu próprio veneno!
Que eu me atire no buraco-negro mais próximo
E que ela fique a se matutar eras a fio por onde eu deva estar.

Lembre-se de mim - escrevi num bilhete -,
Porque de ti jamais hei de querer recordar!

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