quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Condolências (Pedro Drumond)



Condolências
(Pedro Drumond)

Céus, meu amado!  Acaso tão cedo já conheceste
O árduo fel da morte de alguém próximo a ti
Com quem já dividira os mistérios do destino?
Céus, meu amado! Que posso então lhe dizer?
Sentir muito, sentir pouco?

Ah, quão inúteis e implacáveis são nossas condolências!
Elas de nada valem aos espinhos cravados nos nossos corações.
Elas de nada abafam o nosso desespero trincado.
Elas nem injetam na alma melhores emoções...
Que hei de fazer?

Céus... E logo eu que numa ilusão presunçosa
Certo dia pensei ser capaz de lhe proteger de tudo!
Proteger-lhe de todos os percalços da vida,
Proteger-lhe dos variados perigos que vêm lá de fora.
Por mim, eu desceria até o Hades
Quantas vezes fossem necessárias,
Somente para poupar-lhe destes trágicos designos.

Ah, como eu queria que tu não conhecesses
Nenhuma das torturas e padecimentos
Que nos cobram as angélicas leis impostas pela vida.
Como eu criaria uma eterna dívida com os anjos
Se eles lhe impedissem de prantear qualquer vale de dor,
Assim pelo menos teu destino seria brisa, seria felicidade...
Teu destino, quem sabe comigo, seria mais amor!

Infernos, meu amado... Como hei de dormir agora
Sem sequer participar da tua vida
Quando mais careces de um abraço?
Como puderas ter-te ido embora
Se agora tudo o que mais precisas
É do silêncio consolável de um grande amor?
Eu poderia impelir para longe de ti a solidão
Que petrifica os nossos sonhos e planos,
E por fim ser-te leal sem hesitação
Justo nesses árduos momentos do agora.

Infernos, meu amado... Nem sequer imbuído
No recrutamento da dor mais severa
És capaz de chamar-me pelo nome,
Pois sabes serias respondido.
Nem posso culpar-te.
Talvez tenhas te esquecido de mim,
Então como convencer-te de que não fora eu
Quem cheguei ao fim?

Que a vida te seja mais amena, assim espero...
Que ela te empurre para o fundo da prateleira
Só para não lhe agraciar nas primeiras auroras do dia
Com mais tempestades e granizos de tristeza,
Cuja queda, lamentavelmente, não posso eu combater.
Estejas certo, porém, de que os equilíbrios perfeitos podem ruir
Apenas eu, pelo menos por ti, não deixarei de estar aqui.



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