sábado, 11 de janeiro de 2014

Lágrimas de Deusas (Pedro Drumond)





Lágrimas de Deusas (Pedro Drumond)
As lágrimas mais sublimes
Que regam o que guardo de melhor na alma - o amor -
Escorrem por um simples mortal
Que desmereceu o seu mérito
De ter-me transformado em uma deusa.

As lágrimas mais sublimes
Que me escorrem no silêncio da dor
Pranteiam alguém que não me levou a sério,
Que simplesmente me tratou com a gentileza
Com a qual dedicava a qualquer outra pessoa,
De modo sempre descompromissado e indiferente.

Ninguém desperta o amor em outro ser
Simplesmente assim, sem mais nem menos, por quer.
O amor se trata mais de uma graça do que um grande poder.
A deusa que destruiu impérios, que castigou os tiranos,
Que salvou inúmeras vidas, orientou tantos perdidos
E por fim foi incumbida de controlar a magia do tempo,
É a mesma deusa que no seu invejável palácio
Sente-se mais desabrigada que um mendigo.
Sente-se frágil, amargurada e esquecida
Como uma geniosa obra de arte
Que termina seus derradeiros dias
Desprezada no fundo de uma lixeira.

A cada vez que encontro
Um novo sorriso teu estampado em fotografias,
Choro infantilmente, por não poder ser a razão
Da tua aparente felicidade.
Choro por nem por poder me iludir, por um instante,
De seres tu, amado meu, a vasta razão
Da felicidade que não é minha.

Certamente lhe fui mais uma dessas almas que a vida,
Sem aparente motivo, coloca em nossos caminhos
E sem que que percebamos retiram-nas de nosso viver
Assim - sem mais nem menos,
Sem justificativas, sem previamente avisar.
Que diferença isso faz, ora bolas?!
Que espécie de dor isso haveria de lhe causar?
Nenhuma... Nenhuma...
É meu amado, melhor do que ninguém eu sei...
Nenhuma!

Mas digo que sou uma mortal, disfarçada de deusa,
Que inegavelmente tantas almas marcou,
Conseguindo por um breve momento
Ser e fazer a diferença na vida.
Essa mesma diferença nos apresentou
Sem deixar, todavia, de negar a sua incompletude,
Pois para a tua alegria, para a tua tristeza,
Para a tua mais sutil veleidade e loucura,
Não fui motivo, não fui pretexto,
Não fui sequer presença, quem dirá a certeza?
Não fui a deusa que é só tua.

A deusa fatalmente não deixará revelado
Para os seus futuros adoradores
A verdadeira tragédia e o único sentido da sua vida.
A deusa que maneja a magia das constelações,
Contemplando as estrelas, cujo intenso brilho lhes são atribuídos,
No final sente-se tão só, sem céu, sem portos-seguros, sem sonhos,
Incapaz de defender-se da miséria daquele mortal maldito
Que nem ao menos merecera uma poesia de sua autoria,
Quem dirá as suas lágrimas turvas... Ah, deusa! Ah, deusa!

Outrossim a deusa se rende, a deusa conforma-se.
Sabe que nada pode fazer, pois ao deserdar-se
Do seu dito venerado, a deusa, tão mulher que é,
Tão sensível e igual como todas as outras,
Sedenta de princípios, chora suas lágrimas de saudades
(Lágrimas de deusas), lágrimas sedentas de cura.
A deusa chora as lágrimas mais sublimes...
Sim, meu caro, a deusa, também como as mortais,
Chora por amor suas lágrimas mais impuras.

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