quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Marés Inconstantes de Emoções & Vazios (Pedro Drumond)





Marés Inconstantes de Emoções & Vazios
(Pedro Drumond)

Estou digerindo, aparentemente com dificuldade,
O medo que se desfigura no meu ácido estomacal.
Sim, mais parece que engoli um buraco negro
Que a tudo suga, que a tudo absorve.
Tudo o que aliás está fora do meu controle:
Os fantasmas, as previsões,
Os prelúdios, os devaneios.

Estou com medo... Não me acudam, de nada adiantaria.
Estou simplesmente com medo!
Sou um ser envenenado pela racionalidade
Pela frieza, pelo calculismo,
Pela reflexão, pelo olho nu e cru.
Com isso trago comigo toda a espécie
De sonhos, ilusões, deslumbres e fantasias,
Que causam esquizofrenia à alma, à mente.
Trago comigo a servidão ao absurdo!

Que adianta então ser dotado de certa inteligência
E viver como um ignorante, um bitolado,
Nos limites de um burro de cargas?
Que adianta ser tão profundo
E viver nos limites da superfície?
Que adianta ser uma pessoa potencialmente amável
E viver como segunda opção, servindo de amante?

Meu pior medo se concretiza - ser uma pessoa
Modificada na sua natureza pela vida:
Nascer otimista, morrer pessimista.
Nascer pessimista, morrer otimista.
Nascer nada, morrer tudo.
Nascer tudo e morrer como um mero nada.

O que me falta? Boa pergunta!
A vontade, a força, o impulso...
Quem sabe o demônio na alma?
Me falta sim um grande motor
Que me faça seguir adiante nesse tráfego,
Entretanto, por mais que seja veemente
O meu chamado, dirigido às forças do destino,
Sou completamente ignorado pelo que busco.
Sinto-me como se gritasse para o fundo de um poço
E só recebesse os ecos de minha própria voz
Como um sacrifício elegante da lei do retorno.

Muitas vezes apenas o silêncio
É o que queremos como resposta.
Sábio daquele que sabe como dizê-lo
Tal qual o prazer sentido pelo regresso
Que supera a tristeza deixada por qualquer partida.
Estou de partida... Sei que estou...
De partida... Sim... Quase definitiva...

Não saber o que fazer da vida, estando ciente disso,
É pior do que viver ignorando o que faz.
Qual será a diferença, portanto,
Entre a tristeza que nos assombra
E a felicidade que apenas nos rondeia?
O que será que não haveremos de jamais permear?

Talvez ir-me num único dia do céu ao inferno
Em marés inconstantes de emoções e vazios
Para depois dormir como se fosse no espaço
Uma ameba que flutua sem rumo,
Sem direção, sem sentido,
Seja o efeito colateral de fatalmente existir
Sonhando tão alto como as próprias estrelas.
Sonhar alto no ponto mais minúsculo do chão,
Sabendo que nada está ao controle de extirpar-se,
Mesmo que eu seja o único que deslumbre esse todo,
É o fato principal que prestes chegará ao seu fim.

Fim? Que isso!
Vai começar tudo de novo, meu amigo, isso sim!
Se ilude não, seu moço. Ah, e ouça só o que estou falando
Olha só o futuro que nos aguarda... Sim, o futuro...
Isso, ali... Repare... Nele é com amor e por amor
Que estamos milagrosamente findando.

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