terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Triste Censura (Pedro Drumond)






Triste Censura (Pedro Drumond)

O amor não tem fundamento, pois não tem um doutorado.
A prova de sua envergadura é mais que um sentimento.
Amar é se instruir na vida que não passa de um jardim de infância.

A dor uma hora se esquece.
O fantasma que toma a forma do amor
E para às nossas vistas se apresenta,
Qualquer dia qualquer hora, desaparece
Para quê então ao sofrermos tendemos clamar pelo fim?
Pelo fim da nossa vida, pelo fim do nosso amor,
Pelo fim da nossa angústia, pelo fim do nosso tormento, por quê?
Quando num belo dia em que esse bendito fim nos chega
E se instala irrevogavelmente em nosso coração,
Nos damos conta de como o ar de nossas almas
Fica impregnado por uma estranheza sem remoção.

Sim... Como é estranho não sentir mais tristeza
Depois que finalmente fizemos amizade com a dor.
O tempo passa e de repente sentimos
Sua leveza tão saudosa para o peso d'alma.
Quais viajantes sem destino, seguindo estrada,
Depois que o amor já antecipou-se de nós
E abriu os nossos caminhos sem sombras nem rastros,
Percebemos que nossos sonhos foram-se indo, indo...
Foram roubados os nossos sonhos, o nosso canto de ninar.
Foi roubou o nosso coração, a nossa vontade de ficar.
Foram-se indo, indo...

Mesmo assim, meu caro, uma hora
Haveremos de amar novamente, não tem por onde escapar!
Cumpramos então sem resistência
Essa necessidade inerente do ser humano que é a de amar.
Não percamos nosso precioso tempo de vida
Erguendo muros em volta de nossos corações
Com a desculpa de não querermos mais ser incomodados
Nem por novos amores, nem por novos destinos,
Pois do contrário depois não mais conseguiremos
Sair de nossas celas, dos nossos ninhos, escapando para o lado de fora.
Nos tornaremos detentos da própria prisão que mesmo construímos
Ao ponto de termos jogado num boeiro, leviana e impensadamente,
As chaves, sem cópias ou reservas, da nossa única liberdade - o amor.

Portanto deixemos de lado tudo e todos.
Libertemos os dramas, os traumas,
Os medos, as ilusões, de uma vez libertemos!
Amar é um suicídio, hesitar o amor torna nossa vida em vão.

Quer saber então qual foi o ato mais corajoso da minha vida?
Foi na aurora da juventude, ter dito inteiramente "Eu te amo!".
É, isso mesmo... Que foi? Acha isso besteira?
Pois foi... Foi ter dito um "Eu te amo" cheio de convicção,
Mesmo já prevendo a pena que essa revelação
Iria me impor para cumprir pelo resto existência.
Não importa, arrisquei, dei a cara a tapa, pois nunca fui paciente.
Pelo menos disse... Disse com gosto, unicamente...
É... eu disse... Disse, "Eu te amo!",
Da forma como nunca mais se repete, se sente.
Até que nada mais se diz. O que resta é o silêncio.

Ter dito que amava foi o meu maior desafio,
Pois não é fácil dizer uma verdade
Que por sua vez é muito rara de se pronunciar
Quando se trata da sua alma tida por dados de jogo.
Disse sim, "Eu te amo!", sem nada sequer esperar
Embora a poesia, em troca do amor,
Seja o sonho secreto de todo poeta.

E ao arriscar a fazê-lo - dizer que amava -
Eu tinha plena consciência de que tudo poderia perder.
Podia ter sido exposto, sido debochado,
Podia ter sido mau compreendido, sido repudiado
Por aquele que enfim me testemunhou.
Não fui, porém em compensação, nada disso.
A resposta recebida foi a mais imprevisível - um longo e seco silêncio.
Depois veio o teatro da indiferença :
"Vamos fazer de conta que nada aconteceu?
Você nada disse. Eu nada ouvi, combinados assim?"

Mesmo assim o amor foi causa mais nobre
Que eu mais soube defender na vida,
Pois aprendi que enquanto amasse
Meu dever seria o de sempre honrar os meus sentimentos.
Honrá-los não pelo outro...
Honrá-lo por ninguém mais, por ninguém menos
Do que simplesmente por mim mesmo!

Depois disso consegui me sentir
Mais digno perante o meu próprio ser.
Essas coisas mui pequeninas influem (e como!)
Ao longo do trajeto de nossas vidas.
Por isso o mais prudente será jamais descartá-las
Uma vez descartando estamos na verdade a nos trair
Sendo que o mínimo que podemos nos prometer
É a própria lealdade de não nos boicotar.

Mesmo não passando de monstros alados,
Sim, temos que nos amar - monstros alados quem somos -
Sabendo que existem criaturas angelicais
Habitantes mais do inferno do que do céu.
Existem mais curvas na estrada de Santos
Do que uma conclusão profícua a se chegar
A cerca do amor de qualquer espécie, de qualquer ser  humano.
A cerca principalmente do amor pelo qual morreremos
Com a triste censura de expressar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário