sábado, 22 de março de 2014

A Única Novidade do Amor (Pedro Drumond)





A Única Novidade do Amor
(Pedro Drumond)

Tu que me deixas para viver de outro amor
E me encarregas de enterrar a nossa história
Até as suas derradeiras quimeras.

Tu que me deixas,
Posto que outro amor lhe chama,
Hás de por outro destino trilhar
Sem, contudo, se deparar
Com o mesmo coração elegido
Com a alma que no começo dizia-se certa.

Tu que me roubas tuas vestes, tuas tralhas,
Tu que me limpas os armários e o ninho bélico
No qual juntos, em sonhos diluvianos, bem nos amávamos,
Perdes o nosso lar, agora sem fascínio
Sem sequer pensares nas causas
De terminares a vida dentre em breve
Como um andarilho dos sentimentos.

Tu que me deixas para viver outro amor
Surpreso que estás por não ter de mim qualquer reação,
Respondendo por mim digo que estão
Apenas essas lágrimas densas e internas
Ao som de profundo infindo silêncio.
Não sabes tu, ora ,meu Orfeu, ora  meu Jasão,
Quão inútil é travar uma guerra no coração
Entre aquele que ignora o propósito de ser feliz
Para matar quem fica à míngua de sua tristeza.
O amor não morre, pois ainda sobrevive após o fim.

É certo que estás de partida,
No entanto antes mesmo de teres ido
Não foste tu quem me fugiu em tua ida sem volta.
Não há o que me desagrade nesse ciclo.
Digo sim que fui eu, quem descobri
O que é a liberdade do amor - algo chamado Adeus.

Sou condenado a vê-lo voar
Para bem longe do meu ninho.
Cria-se o mundo, deseduca-se o lar.
Aliás, já foste, querido?

Entre alegrias e tristezas
A única novidade do amor
É que nele não há mais surpresas.
Entre alegrias e tristezas
A única novidade dos humanos
É que suas mentiras são suas certezas.

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