segunda-feira, 31 de março de 2014

Presente Estático (Pedro Drumond)






Presente Estático
(Pedro Drumond)

Estou diante da tão rarefeita lâmpada mágica.
Estou diante de um guloso buraco negro
Que pode me trazer à margem da realidade
Todo o imaginável e inimaginável disponível
Que eu bem queira e possa exigir.

E o que eu faço com isso? - você me pergunta.
Nada! Absolutamente nada! - tenho que confessar.
Não chego a lugar nenhum, tampouco
Venho me sentindo propício a um dia chegar,
Pois me é nítido que tudo já é o fim!
E mesmo que eu pensasse diferente - antes que me conteste -
Quer queira eu ou não, é assim... É assim sim!

Tenho um grande poder em minhas mãos,
Mas estou impedido de aplicá-lo, de saber usá-lo,
De até supostamente merecê-lo.
Estou como quem deveria da sua vida já possuir
Algum sentido que lhe bastasse,
Como se tal fosse a premissa de poder ser
- Quando for tempo de crises ou calmarias -
Melhor assistido, melhor incentivado,
Mas não... Ai de mim! Nada mais me inspira,
Eu nada mais aspiro. E é justamente isso o que deixa
Minh'alma ainda mais aflita!

Eu posso chegar a ter todas as respostas que bem quiser
Sim... Neste exato e fatídico momento
Tudo o que me aguçasse a curiosidade seria revelado,
Mas de que adianta? Estou congelado!
Estou petrificado por capricho do destino.
Veja bem, nessa minha alma,
Que outrora tinha-se por inquieta,
Não urge sequer qualquer temperatura,
Qualquer pergunta para sanar o meu vazio.
Céus, o que está acontecendo comigo?

Não me orgulho de nada que digo,
Mas também tudo o que expresso não lastimo.
Apenas contesto, confesso e constato.
Sei que expressar as minhas guerras
Não faz de mim um melhor ou pior soldado,
Mas sim, independente de sair vencendo ou perdendo,
Essas épicas batalhas internas fazem de mim
Alguém mais digno de ser considerado
Como um grande guerreiro
Ou mais provavelmente um fracote lutador.
Resumo da ópera:
Enquanto poeta, enquanto sentimento,
Posso me dedicar a tudo, a todos...
Mas hoje em dia, exceto ao amor.

Não me vem em mente
Algo qualquer a se alcançar no futuro,
Tampouco algo a se resgatar do passado.
Estou simplesmente no presente, estático,
Paralisado, vazio, sem princípios nem desvios.
Estou comprovando tudo aquilo
Dito pelos nossos antepassados:
- "O ápice da glória humana" -
Segundo os mesmos, difícil de de ser alcançado.
Para mim o intento ocorreu com a facilidade
Que se cai uma folha de outono.
Os rastros deixados por essa estação
Se acumularam como a pior consequência
De eu ter sido escolhido para o que não almejei.

Coube a mim, portanto, desiludir-me
No que diz respeito ao então grande sonho do mundo
Que vislumbro a acenar-me pelas janelas de um trem
Que segue a contra-mão do meu próprio tempo.
Lá fora um ditador criminoso ou um falho segredo
Significam para mim o que somente entendo
Como o meu grande pesadelo.

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