quinta-feira, 27 de março de 2014

Esquecimento, O Signo da Vida (Pedro Drumond)






Esquecimento, O Signo da Vida
(Pedro Drumond)

O que há de mais irritante na vida
É saber que tudo o que nos rouba o eixo no dia a dia
Futuramente poderá ser recordado
Como um signo de imensa saudade!

O que chutamos porta afora,
O que tanto renegamos,
Um dia pode vir a ser
O nosso rarefeito elixir da existência,
Tornando-se por fim
O nosso clamor por piedade!

Pudessem as pessoas esquecerem-se
De todos os deuses que veneram,
Outrossim esse tal Deus energúmeno
Pelo qual - sem muito convencimento -
Permanecem precavendo-se.

Pudessem as pessoas esquecerem-se
Desses tantos anjos e demônios alados
Que por aí - não sei como - bem espalharam,
Já que uma vez, esses pobres coitados
Não possuem nenhum pouco de sossego,
Nem sequer têm aonde morar!

Pudessem as pessoas esquecerem-se
De toda e qualquer ilusão
Seja de tempo, espaço ou matéria,
De toda e qualquer distinção
Seja de bem ou de mal,
Como se ambos não fossem
Nada mais, nada menos,
Que o valor de uma mesma e incalculável moeda.

Pudessem as pessoas não mais apoiarem-se
Sobre as suas seculares e primitivas muletas
Até que deixassem de acreditar
Que ainda existam grandes diferenças
Entre o que hajam-lhes trazido felicidade ou tristeza.

Pudessem as pessoas fazerem
Uma pomposa marcha fúnebre
De modo que ocorram-lhes
Uma completa lavagem cerebral
(e ao mesmo tempo cardíaca!)
Ao afogarem-se nas profundas águas transparentes
De suas essências ocultas, de suas ideias cristalinas.

Pudessem as pessoas desconsiderarem
Tudo o que quer que ainda precisam atender,
Seja por superior ou inferior
(a ordem é sempre uma desordem!).
Quem sabe assim elas não seriam mais humanas?
Quem sabe assim elas não seriam regidas pelo signo do amor?

Pudessem as pessoas esquecerem-se
Do que não seja apenas elas mesmas - só para bastar! -
Pudessem as pessoas simplesmente
Se esquecerem de esquecer,
Já que o signo do esquecimento,
Ascendente daquilo que nos ensina o mundo,
É a maior lembrança da sabedoria do universo.

Já saibam que a vida não é perfeita
Por isso há de ser tão sublime.
A vida é uma jovem, velha bêbada,
E de moral deveras duvidosa,
Pois acredito que é justamente isso
Que faz o signo da existência tornar-se,
Sobretudo sóbrio e confiante,
Sendo que a vida nos responde pela eternidade,
Pois ela não passa de um simples instante,
Portanto, podemos respirar aliviados...

Atenção: O signo da vida lhe alerta, não se esqueça!
"Sorria, pois a morte pode estar ao seu lado."

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