sexta-feira, 21 de março de 2014

Garganta Assassina (Pedro Drumond)




Garganta Assassina
(Pedro Drumond)
Sacos de areia,
Incêndio que permeia,
Arranhões, farpas,
Cacos de vidro, veneno corrosivo,
Garganta assassina, garganta benevolente,
Garganta traquina, garganta conivente.

É pela garganta que meu espírito vai se esvaindo
É pela garganta, instrumento dos meus suplícios,
Que de uma vez por todas esqueço de tudo e morro.

Silêncio, forçado, que dói até as entranhas
Silêncio, sagrado, que alivia a peste que tanto me sangra.
Regurgitar tudo o que engoli da vida
Até esvaziar-me, passivamente assistindo
Tudo o que a morte lentamente me tira.

Vou morrer pela garganta é nítido!
Já que meu coração tantas vezes
Veio parar nela. A vida não vale
Os seus resgastes, as suas reviravoltas,
Tampouco o preço que mensura
Pelas sequelas que dela são acarretadas.

Lá fora, o majestoso tempo, por sua vez
Deslancha-se numa tormentosa tempestade.
Pelo meu degrau também surgem alguns raios de sol.
Estou morrendo discretamente
No meio de uma multidão, sem chamar atenção.

No entanto, junto aos sonhadores e descrentes,
Pertenço para a nossa existência anfitriã
Ao mesmo rol daqueles que nunca tiveram
A sábia sorte de poderem para si mesmos mentir,
Afinal de contas, que importância me convence
Da necessidade de estar aqui?

Sejam os outros apenas os meios
Pelos quais nos fragmentamos
Na ilusão de nos perpetuarmos.
Seja por nós mesmos
Quem iniciamos nossa jornada
Mais atraídos pelos caminhos descobertos
Do que pelo nosso anseio já conhecido.

A verdade é que sozinho vim ao mundo
E será justamente sozinho de modo secreto,
Repentino e impactante, que dele hei de partir.
Simples assim...
Fim!

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