segunda-feira, 31 de março de 2014
HEY, TIO, VOCÊ É SOZINHO? (Pedro Drumond)
HEY, TIO, VOCÊ É SOZINHO?
Hoje eu tive um sonho um tanto quanto diferente e especial. Por sinal, um belo sonho. Um sonho poético. E ao mesmo tempo um sutil tapa na minha cara dado pela minha alma, por suposto. Pois bem, comecemos...
Eu estava em uma cerimônia, um reunião eventual, dada num lugar aberto, árido e botânico. Haviam muitas pessoas incluídas nessa ocasião, palestrando sobre coisas diversas. Não as reconheço como meus conhecidos. Eu só podia mesmo era ouvia o cochico de suas vozes. Eu, me encontrava na verdade tutelando uma garotinha. Minha atenção e os meus cuidados eram totalmente voltados à ela. Sim, era uma linda menina aparentando uns cinco, seis anos de idade. Uma boneca! A garota, que me inspirava um profundo instinto paterno (o que definitivamente não possuo) era portadora da Síndrome de Down. Reconheci isso nitidamente. E nesse sonho, que talvez fosse um escárnio do destino para com a minha realidade, a linda garota conseguiu a proeza de silenciar todos os então presentes naquela cerimônia, inclusive eu, dirigindo-me a seguinte pergunta:
- Hei, tio, você é sozinho? - soltou tal questão de modo tão despreocupado.
- Sozinho, eu? - nervoso sorria, sem entender - Sozinho, você quis dizer? - perguntei de modo carinhoso.
- Sim, tio, isso mesmo, sozinho. Você é? - repetiu a garota de modo ainda mais angelical.
- Bom, querida... - nervoso - Eu acho que não... Não! - firme - Mas por quê a pergunta?
Todos estavam atentos ao nosso diálogo. De modo descarado e ao mesmo tempo ansioso.
A garota então respondeu com propriedade e pureza:
- Bom, eu estranhei o seu silêncio, pois você é o único por aqui que não fala de amor!
O único por aqui que não fala de amor...
O único por aqui que não fala de amor...
E esse foi o sonho que a fábrica onírica e pertubada da noite reservou para mim.
Seria essa passagem, esse devaneio, um mero sonho ou a mais lúcida expressão da minha (ou da sua) realidade?
Eu sou sozinho?
E você, é sozinho?
Bom, vamos falar de amor?
- Pedro Drumond
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