quinta-feira, 27 de março de 2014

Vírus Sentimental (Pedro Drumond)





Vírus Sentimental (Pedro Drumond)

Ah, meu coração que já foi tão sufocado
E por pouco escapou de morrer de amor!
Hoje, vive a procura da sua dor,
Perambulando em esquinas duvidosas
Na certeza de prosseguir ao encontro das correntes
Que outrora haviam-lhe paralisado.

Ah, meu coração que agora é uma bela pluma ao céu,
Faz-me sentir o estranho fato de ser livre
Quando em outros tempos, claustrofóbico,
Tivera mais aconchego. Meu coração, antes injustiçado,
Hoje em dia daria tudo para voltar a ser réu,
Para amar com desespero.

Por que me entristeço à toa?
Sou poeta, meu caro - lamento -
Se eu não tiver alguma tristeza
Sem problemas, eu invento!

Passamos nossa vida em busca de tudo
Que nos preste a gentileza
De trazer o sabor da "primeira vez".
Amar, meus amigos, é sempre um ato inédito
Pouco importa quantas vezes venha a ser repetido.

Como se nada já fosse familiar,
Nossas outras tentativas fortuitas de doação
São apenas o que temos para desperdiçar,
Já que o nosso vírus sentimental
Jamais se vê esgotado do deserto que é existir.

Ah, meu coração... Ah, meu coração!
Amanhã por causa do amor
Sonharei em ser réu
Voltado a uma pena sem fim,
Enquanto isso tudo o que tenho
Permanece restrito e velado
Por ora não passo de mais um
Ou menos outro amante injustiçado.

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