terça-feira, 1 de abril de 2014

Deserto dos Amores (Pedro Drumond)






Desertos dos Amores
(Pedro Drumond)
Hoje estou pairando nos desertos
Nos desertos da vida, da alma.
Nos desertos das esperanças abastadas,
Nos desertos dos amores.

Ouço o canto das sereias,
Ouço o canto dos deuses,
Ouço o canto das areias
Que varrem as minhas dores.
Ouço as orações do infinito silêncio
Que povoam essas minhas inóspitas,
Insólitas e insondáveis regiões.

A mulher coberta pela burca negra,
Os véus das dançarinas endeusadas,
A flauta, junto a todo o som
Advindo dos gemidos da lua,
O calor árido, derretido à maldade sombria,
As cores, os cheiros, as jóias,
O passado eternamente presente.

As danças, as valsas, e até mesmo
A própria devoção ao religar.
Sou eu, estou eu, sinto eu...
O deserto e eu... Sou um amor para desertar.

Porém algo nesse meu deserto desapareceu:
É o meu tesouro perdido!
Vagarei mil anos a mais, uma noite a menos,
Morrerei finalmente no Egito,
Embalsamado com o meu amor,
E a minha estrela guia, Gizé, será a minha guarda
Enquanto todo meu segredo
Será absorvido pela fome das areias movediças.

Te espero nos desertos
Onde quer que você esteja.
Você que nem sei quem é,
Você que nem sei se existe,
Você que nem sei se é humano
Para minha vaga certeza.

Mas seja lá você quem for,
Nos desertos a sua espera já estou.
Amor da minha velha vida
E da minha jovem morte!
Não se esqueça, querido... Nos desertos...
Isso! Com todo o meu amor.
Um dia nos juntos estaremos,
Seja por destino ou seja por sorte.

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