sábado, 5 de abril de 2014

Missiva (Pedro Drumond)





Missiva (Pedro Drumond)

Sei que tu procuras, querido,
Os motivos mais banais e acessíveis
Para venturosamente sorrir.
Tu procuras o começo
Enquanto eu, por minha vez,
Perco-me no fim!

Tu vais atrás dos que contam piadas,
Vais atrás das falhas engraçadas,
Das ironias, das comédias, das sátiras.
Vais atrás de tudo aquilo que te arranque
O mais rapidamente possível os sorrisos.

Talvez assim acreditas na tua missão
Afim de esqueceres que sozinho
Particularmente não há nada que te faça feliz.
Eu, pelo contrário, me alimento do pranto.

Saio, quase que como uma guerreira medieval
Imponente sobre seu cavalo de sangue nobre
Em busca, não de ti, príncipe encantado,
Mas de todo drama, de toda tragédia,
De todo lirismo que o mundo ouse derramar
Com a acidez do amor mesclado em dor
Nesse meu receptáculo que outrora me deste,
Batizado de coração.

Tu te alimentas da alegria
Para que tua tristeza seja sanada.
Vais em busca dos outros
Para sanares nossa mesma solidão.
Eu, por teimosia de ser diferente de ti,
Já me alimento da poesia sombria
Do que sangrar com máxima tirania a minha alma,
Do que arrebentar com crueldade, com raiva,
Com melancolia, com sôfrego penar,
As represas das minhas lágrimas,
Pois só assim sano com a minha felicidade
Que talvez seja um defeito meu de nascência.

A vida é uma irrevogável comoção!
Convivo com a verdade dos jubilosos de espírito
Que descobriram o prazer da felicidade
Nos lamaçais do sofrimento, pois banharam-se sozinhos.
Assim não é de causar-me grandes estranhamentos
O que mova a tua vida - uma alegre ilusão.

Dessa forma, mesmo sem precisar-te buscar,
Satisfeita adormeço, pois trago-te no coração
E não preciso sonhar-te, mesmo para amar!
Por isso como uma guerreira sem voz
Teu nome eu já não chamo.

Não preciso mais dos sonhos, querido príncipe encantado,
Pois por impossível que seja, te amar, eu já te amo!

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