terça-feira, 15 de abril de 2014

Destituindo Os Mitos do Amor (Pedro Drumond)






Destituindo Os Mitos do Amor
(Pedro Drumond)
Se quero destituir os mitos do amor
Começo por dizer que ninguém
É capaz de esquecer outro alguém!
Esquecer alguém como se gostaria
É de fato lembrar-lhe o máximo possível
Até as últimas estâncias!
Ser feliz também é saber chorar
Nem que seja além da última lágrima,
Pois toda superação é um fim do esgotamento.

Mas se as pessoas reconhecessem
A preciosidade de seus tormentos
Jamais haveriam de rejeitá-los
A ponto de desesperadamente
Quererem imputá-los ao fim.
O que de rompante parece ser o certo
Num desenlace prova-se um triste equívoco,
Meus amigos, sei do que digo... Acreditem em mim!

Como é torturante o esforço que assumimos
Afim de tonarmos um amor, finado
Nas regiões insondáveis de nossas almas.
Isso é decompor-nos a tal estado
Que para todo resto do além-túmulo
Se abrem os abraços dos paraísos malogrados,
Logo do absurdo, somos o grande cúmulo!

Como diz o maldito clichê: "O tempo tudo cura!"
Sim... Infelizmente isso acontece...
Estranhamente se perdem as dores,
Se perdem as lágrimas,
Se perdem as lembranças,
Se perdem os desejos,
Se perde tudo o que era propriamente nosso
E o pouco que ainda nos resta é o juramento de outrora
Que amanhã já não é mais nada!

Se quero destituir os mitos do amor
Digo que alguém de coração verdadeiro
É capaz de amar quantas pessoas lhe aprouverem
(Exceto o mundo inteiro!)
Amar, se for o caso, uma, duas, três, mil...
E é bom que assim seja, pois todo aquele
Que movido por uma tosca vaidade
Se vangloria dizendo ter amado uma só vez,
Na verdade só soube usar a sua vida
Para ser um amante empobrecido
Até o dia do seu acabamento - perdido e inválido.

Tudo é irrelevante - incluindo o meu protesto -,
Porém repito, talvez seja improvável, no caso,
Amar dois seres - distintos e separados - ao mesmo tempo.
Considero a hipótese de estar enganado,
Mas por ora percebo que a natureza dos sentimentos
É extremamente absoluta, sem, contudo, ser axiomática.
O amor só percorre em almas que estejam inteiras - nuas e cruas.
O que nos impede de encontrar um verdadeiro lar
Que acabe culminando entre dois mundos rivais.
Amar - conclui-se - é um ato intermediário e não caprichos banais!

Se quero destituir os mitos do amor
Tenho que obrigatoriamente lhe separar do sexo
E o alforriar das chantagens fantasiosas,
Assim como dos falsos princípios,
Com os quais as pessoas bem o enlaçaram.
Sim, pois o que a maioria de nós soube
Só fora tornar o amor um subterfúgio indigno,
Declarando, sem o consentimento do mesmo,
Sua versão manipuladora através do que é sagrado - os nossos instintos.

Se quero destituir os mitos do amor
Tenho que isentá-lo de qualquer virtude ou defeito
Que forem usados para justificar
O ser  humano e os seus atos, a princípio.
Se quero destituir os mitos do amor
Tenho de saber que o eterno
Não significa o mesmo que infinito.

Agora se quero lamentar os indícios do amor
É só me recordar que ele não seja substituível,
Que ele não possa anular ninguém,
Embora uma vez, quando ele se auto-anula,
Nos deixa de cortesia todo um rastro de vazios,
Cuja espécie não mais se devota fé qualquer.

O fato de que não amamos ninguém, exceto a nós mesmos,
Uma vez que nos reconheçemos em almas alheias,
Me diz que estamos numa eterna busca pessoal
E encontrá-la é deparar-se com o seu fim - o outro.
Aproveitando a deixa, portanto, mando um recado
Para um amigo dos velhos tempos - o nobre senhor, Albert Einstein:

Não sei, meu caro gênio,
Se por acaso chegaste a pensar por esse ângulo,
Porém a verdade é que ninguém
Que tenha amado uma só vez também,
Retorna ao seu tamanho ou estado original.

De que nos serve a ciência, a política, a religião,
A filosofia, a arte, se esse nosso complexo interno - o amor -
Simplesmente não encontra-se nem acima, nem abaixo,
Não encontra-se nem sequer ao meio
Do que tendemos a chamar de bem ou de mal?

De que vale a vida se o amor é a morte
Da qual jamais se decompõe ao todo o individuo
- Inclusive o enverniza junto ao seu elo perdido
Como justificativa inquestionável
De sua a primeira e última existência fatal.

Meu caro amigo, humildemente pergunto-lhe:
Antes e depois de tudo isso, nesse exato e fatídico instante,
De que nos valemos afinal?

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