quinta-feira, 3 de abril de 2014

O Grande Sábio da Dor (Pedro Drumond)






O Sábio da Grande Dor
(Pedro Drumond)
Lembro-me como se fosse ontem...
Eu era ainda uma alma juvenil,
Inocente e pura. Ainda encantada pela vida!

Fazia-se alta madrugada
E havendo-me recolhido ao grande silêncio,
Poderoso protetor na escuridão do meu quarto
- O qual eu jamais iria imaginar, naquele período,
Como meu futuro recinto de solidão -,
Eu, ainda tão jovem, ainda tão moço,
De coração tão frágil e menino,
Resolvendo que era chegada a hora
De me entregar ao repouso do corpo
E aos diversos sonhos do espírito,
Resolvi dedicar uma franca conversa à vida,
Algo que eu não costumava evitar,
Pois tinha para mim que os meus anseios
- Fossem eles quais fossem -
Tratavam-se das as coisas mais importantes do universo.

(Que presunção essa minha, confesso... Não preciso disfarçar...)
Eu achava que realmente era
- As coisas mais importantes do universo, os meus anseios -
E quer saber qual é o meu real defeito, quer? Eu ainda acho!
(Agora diz ai, isso é para rir ou chorar?).

Este velho que hoje enamora
Com sincera ternura o oceano do seu passado,
Naquele instante rogava uma espécie de prece
Especialmente à essência que lhe assistia - a vida -
Nessa época, muito embora resguardado,
Eu ainda confiava nela.
O menino, que nem sabia direito quem era,
Pedia à vida que finalmente lhe adiantasse
As respostas dos grandes homens.
Que o fizesse, finalmente, conhecedor do amor
(Se soubesse o quanto essa gradeza lhe tornaria diminuto...).

Conhecedor do amor, quis ser o menino.
Se soubesse como seria fácil tal intento
Devido ao fato ainda não ter sido
Pelo mundo corrompido,
Jamais teria ousado proferir tal anseio,
Se tornando ainda mais cedo que o devido
O grande sábio da dor.

"Cuidado com o que se pede, pois pode-se conseguir"
Se ele tivesse escutado os conselhos de sua avó!
Hoje, ainda moço vistoso,
Não teria prematuramente chegado ao seu fim.
E nesse labirinto deserto o que mais o atormenta
É o fato de não poder nem mais associar-se
Àquilo que aprendeu a chamar de amor,
Algo que hoje também comprova-se
Não ser mais a sua dor primordial.
Seus sentimentos e suas extremas chagas
Agora são vertentes de outros tempos
Já bem ultrapassados - fazer o quê?

E a vida, naquele momento, curiosa me escutava!
Não é que a danada realmente preferiu atender-me,
Dando-me o amor solicitado,
Exceto da forma como eu imaginava?
Eu queria viver uma história romântica,
Assim como normalmente vivem todos os outros,
Mas o que a vida reservou-me foi um verdadeiro legado,
Nutrido de sentimento, de recolhimento,
De prazer ingênuo e um realístico senso,
De um inconfessável desgosto. (É...).

A vida não deu-me o amor que eu pedi,
Mas por sua vez deu-me o amor
Que urgentemente eu mais precisava!
A vida não deu-me o amor pelo qual amando
Eu poderia gloriosamente morrer,
Sendo que o mínimo que eu pude ter
Bastou para descobrir que eu poderia viver tragicamente
Mesmo sem saber como, mesmo sem saber por quem,
Mesmo sem saber pra quê!

Hoje em dia, mesmo velho,
Tenho profundos receios de revelar
Os meus sonhos mais genuínos à vida,
Já que o tempo fez-me um pouco esperto.
Mesmo assim sei que eles - os meus sonhos -
São tudo o que menos posso ocultar
(Da vida? Não... De mim!),
Pois o que um dia foi a minha grande surpresa
Não salvou minha pobre alma
De ter-se esquecido da tristeza.

Da tristeza de não poder mais ser triste,
Da tristeza de não poder mais poder chorar,
Da tristeza de mesmo sem ter amor,
No estoque de suas reservas
Continuar fornecendo seu doce amar!

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