domingo, 19 de fevereiro de 2012

Penumbra Meditativa



Já se faz tarde...
A noite molhada e fria abraça sombras fantasmagóricas num silêncio cúmplice indiscutível!
A lua tranquinar, buliçosa caminha e sem qualquer pressa desfila pelo céu vazio de nuvens. Ignorando estrelas, me espia através da folhagem de árvores próximas a minha janela...
Um pássaro noturno, também sozinho, solta arrulhos, nada poucos melancólicos... O tic-tac de um relógio comum agride minha expectativa de sono tranquilo com sonhos de ontem e hoje. As horas são sempre denodadamente iguais. Cansaço. Lágrimas...

Pessoas antigas não têm o privilégio de escolher lembranças, mas guardam o beneplácito de abraçar-se àquelas que lhe são mais caras. Nesta meditação compulsória, acessoada pela solidão que me contém as noites mal dormidas, crio  imagens de sossego, acalanto e até pequenos murmúrios fazendo-me adormecer.

Faço preces, imagino reencarnações cármicas, destinos, Vontade Maior...
Com uma pontinha de inveja, quase saudade, chegam-me retratos de ocasiões em que vivi intensamente várias atribulações e desânimos.

Valeu a pena? E como!..
Valeu a parceria? O tempo não me deixou analisar...
Podia ter evitado? Não saberia dizê-lo...
Amanhã quando tudo se acomodar, a própria rotina dar-me-á motivos bem solutos para sorrir de todos esses males que não são fáceis, mas também não podem ser considerados como difíceis.

Lá fora a noite se tornou mais fria e pareceu-me ouvi-la cochilando no vento.
A lua, para não ser indiscreta, acenou para mim com uma nuvem pequena e se aconchegou na maciez de suas curvas. Um pio agudo da avizinha triste acompanhou o bater de asas e o silêncio esparramou-se em mim e em toda outra forma de escuridão, de uma só última vez.

Pedro Drumond

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