sábado, 25 de fevereiro de 2012

Insólita Fé (Pedro Drumond)



Insólita Fé (Pedro Drumond)

Os céus abriram-se diante de minha visão pacata
Olhei diretamente nos olhos da divindade
A distância não se faz capaz de penetrar em nada
Foi o que contornou as íris de Deus numa néscia simplicidade

No oceano catedralesco
Um redemoinho de desquitada especulação
É fruto da artimanha de um gavião soberbo
As folhas grisalhas mostram-me o verdadeiro espelho da vida
E o homem que pelos embargos de seu coração ainda mantém-se preso
Raramente ver-se-á refletido e desafiado a adentrar nas águas divinas
Pois até que não se aperceba de que a vida é uma orquestra silenciosa
Não dissolver-se-á na fagulhada alma dos cosmos
Tornando-se doravante um cadáver na supressão do aqui e agora

Por isso meu grande amor não foi. Meu grande amor é
Meu grande amor não começou nem terminou em alguém
Meu amor é mais que meu. O amor sou eu
Vigo da minha insólita fé

Logo após entronizar-me no vórtice sumbrado da constante expansão
Numa visão esférica percebo um mendigo a comprar um trono de ouro
Acordo e olho de soslaio que no plexo lunar esvaziei todo meu intrínseco choro
Na realidade crucial, o amor timbrado torna-se arte de venerada lápide
A espera de uma vida ainda não inventada
A tua presença, meu amado, faz-se portanto tão descarada
Que até mesmo na minha obsoleta solidão não me deixa experimentar a falta

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