terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Morcegos Inquilinos



Chego desgastado, como que mortificado nos trilhos de um trem sem caminhos. Reparo na passagem inimicíssima dos vales o contraste que as flores de cores sangrias fazem a um céu aspemo, em nuvens transparentes que tão bem declaram a obscuridade do mundo, luzido em caos.

Da minha vida, inexistente em germens asquerosos do ciclo natural das coisas, perco o restar das inconfinadas energias do sexo viril, pois vejo-me arrebatado por um espectro de capuz negro cobrindo-lhe as faces, a espreitar minha chegada até um bosque perdido, fazendo-me perder as lancinastes jóias do meu corpo virgem de tão desgastado que foi.

Deito-me na cama, sangro. Um gemido orgástico se faz. Preciso rir mediante a tortura por ter o péssimo hábito de querer ver tudo no lado positivo das coisas, no lado das fantasias que tão bem não inventaram, mas me fez acreditar na vida.

Adormeço. Esmorço. Outono das folhas sem cor, sem dor, sem luz. Era tarde e noutra notívaga cerimônia dos céus eu também não adormecera. Estou viciado no veneno contido do ato de respirar desairosamente. Já vinha-me morto, pois minha escolha de suicídio é o excesso de viver. Mas tão logo cedo desperto.

Nova relfa, outra dimensão. Não é dia, não é noite e a madrugada eu nunca soube reconhecer. Tal como não sei a diferença de ironia para sarcasmo. Seriam dois graus de um mesmo entendimento? Hecatombes!

Falso. Amor e Ódio, graus de polaridades diferentes, uma só temperatura. Desperto no momento em que a vida encontra-se estática; tudo vivente na matrix ficcionista do agir sombrio.

Minha janela está escancarada e novamente me deparo com os extraterrenos cujos os olhos profanos são incapazes de me enxergar. A lua é um vórtex de chamas beligerantes. Só eu fui amaldiçoado com a penosa clarevidência da alma interna. Não há corvos, mas morcegos moram, celebram e dizem que nunca mais sairão da minha janela.

Pedro Drumond

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