segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Balé da Tristeza (Pedro Drumond)




Balé da Tristeza
(Pedro Drumond)

E se viver foi uma grande mentira
Que a morte seja a conviva mais querida
E se a dor foi tudo de melhor que pude receber
Por um dia só ter dado amor
Não há mais argumentos a serem ditos
Por aqui não há mais o que fazer

Mas não se surpreendas quando de mim se lembrares
Pensar que fui tal qual o rio
Trasbordando um amor vadio que às pedras vivesse acariciando
Enquanto a correnteza de sua pessoa, meu amado
No balé da tristeza vivesse às espreitas
Com outras tantas demais sereias
Ordinariamente se agarrando

E não se surpreendas, pois se na eternidade te espero
Vivo hoje como um silêncio gélido
E se pensares em voltar um dia para me buscar
Este pobre caco ao chão não haverás de encontrar
Não haverá nova vez para nele pisotear
Saberás então que fui varrido pela compaixão da vida

Vida essa que não suportou permanecer-se quieta
Observando o quanto eu vinha me definhando
Portanto generosamente restitui-me o coração
Oferecendo-me outro mais intacto, puro, belo
Mas essa minha alma que já era há um tanto cicatrizada
Fez-me ir logo me retratando
Não querendo ser um ingrato confessei
Por desencanto ainda te espero

Estive por aqui de volta
E nas vielas desse mundo permaneci te procurando
Morte certa mesmo seria banhar-me do sol
Sem sequer poder estar te contemplando, venerando
Sem poder viver o restar dos meus dias simplesmente te amando!

Nenhum comentário:

Postar um comentário