quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mulher da Vida (Pedro Drumond)



Mulher da Vida
(Pedro Drumond)

Prazer, dama de rua!
Se coração de mulher é abrigo de palhaço
Coração de homem é terreiro de puta
Entre indas e vindas jamais fui nem serei esquecida
Vejam só aquela boneca de pano
Sou eu gingando bem lá no antro das perdidas

Mulher de asfalto
Leviana, molambo
Beirante dos cais, escandalosa
Farrapo

De dia traiçoeira, a noite vulgar
Para uns mera sobremesa
Mas d'outros um apetitoso banquete
Que ainda sim mais se quer saciar

Ando pelas vias do suicídio
A noite somente a lua me contempla, me guia
Meu olhar é perdido, vazio
Estático num mundo onde todo prazer
Me restaura também me impedindo toda alegria

Minha alma? Vendi na noite!
Nas esquinas da vida foi que encontrei meu itinerário
Assim pertenço ao ladrão, ao mendigo
Ao barão, ao político
Ao solteiro, ao casado

Com moedas sujas é que pago o pão do meu filho
Mas também não sou só isso não
Danço, canto, encanto, fantasio
Certa vez um cliente até me dissera que muito bem poetizo
Pois bem, sei que ao fim de cada espetáculo
Sou plenamente aplaudida de pé

- Senhores &  camundongos,
Recebam aqui  em nosso humilde prostíbulo
A mulher de "Lucifér!"


Abandonada pela família
Cuspida na cara pelo amor
Assim tornei-me "mulher da vida"
Gemo um falso prazer encolhida de dor

Sob as vestes de vermelho e negro
Minha marca especial é um cigarro manchado de batom
Largado ainda aceso sobre um pálido cinzeiro
Descobri que para algo tenho dom

Dizem que sou vagabunda por querer
Dizem que sou alma suja
Suja, mas ainda assim capaz de viver

E nesse mundo de almas toscas
Onde o que não falta são condenamentos
Sou amaldiçoada por uma legião de esposas
Ainda mais por aquelas que levam Deus até no nome
Pouco importa - Faço de qualquer uma delas, meus os seus homens

Assim sou trépida e perigosa, cruz e a caldeira
Oscilando entre os poderosos e mulambentos
Eclipse Solar e divina Lua Cheia
Por isso posso dar-me o desfrute de uma triste gargalhada
Sou da vida porque da vida não sou nada!

3 comentários:

  1. esse poema ficou muito, muito demais! eu não consigo uma palavra pra definir! parabéns!!!
    tudo que você escreve vale e muito a pena ler, só quem sente é que sabe!

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  2. Obrigadíssimo, querido John.

    Já lhe disse o quão significante me sinto ao perceber esse valor que me delegas.

    Mais uma vez, obrigado!

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  3. Pedro, sem palavras para descrever o que li e reli. Você está na alma das pessoas e sabe descrevê-las como poucos.

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