sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Versos Truncados (Pedro Drumond)



Versos Truncados (Pedro Drumond)

Forjei o meu sorriso e fiz disso uma profissão
Tampei os brios da mágoa e deixei de molho
O que desagou meu coração

Isso é outros daqueles truques que bem o faço
Pois quem me vê radiante, dançando, cantando
Desconhecem quem sou no escuro do meu quarto
Eu, que tenho de parar em alguma hora do dia
Sem ter nada mais que me impeça
E por fim desatar em miúdos os nós da agonia

- Ajoelha no chão, menino, e reza
Não há necessidade para quem fingir mais
É sua consciência quem fala agora
Se mecha, jogue essa máscara fora
E vá dormir em paz!

Meus erros nada mais foram
Que os verdadeiros acertos que eu tivera na vida
Meus acertos foram nada menos que erros modificados
Pois desde que silenciei minha alma, parei com meus versos truncados
E hoje permito que a existência seja a minha poetisa

O ar que me falta oriunda-se duma saudade sufocada
E afugentada minha alma secara, já não pôde mais chorar
Vastos foram os martírios das minhas estradas
Que hoje se apresentam a mim sob formas de alegoria
Constato o quão por nada já muito chorei um dia

Vejo-lhes quando me ponho debruçado sobre minha janela
Chego até a ascenar-lhes com certa simpatia
E me pego olhando a vida passar
Enquanto não passo de vez por ela

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