terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Vagão Cósmico (Pedro Drumond)




 Vagão Cósmico (Pedro Drumond)

O Sol pode enxergar a Alma do Mundo
Este por sua vez absorve suas ondas
Ambos se comunicam, fazem as plantas crescerem
E as ovelhas se aliviarem no manto das sombras
De onde o Sol está - E olha que é muito longe, todos podem perceberem - ele aprendeu a amar
Sabemos também que caso ele se aproxime um pouco mais da Terra
Tudo o que há nela morrerá e a Alma do Mundo deixará de fluir
Portanto o Sol e o Mundo de longe se contemplam, se querem
Por causa do Sol, o Mundo recebe vida e calor
E por causa do Mundo, o Sol tem uma razão de existir

E assim é comigo
Sou muito ligado ao amor, distante do meu amado
Pois para ele a vida desvelou outros princípios
Contudo, no vagão cósmico, o etéreo nos é consignado
De longe nos contemplamos, nos queremos
De longe nos desejamos, pode ser que até nos amemos
Mas sê perto, somos drasticamente extintos
Aprendi, porém, a ventura de amar como o Sol
Aprendi sim a amar, e se acaso eu for amado, permaneço só

Mas uma mulher do deserto sabe bem como esperar o seu homem
A partir daquele momento o deserto passa a ser-lhe mais importante
Mergulhada no vazio caótico e o Sol escandecendo
Tudo o que se experimenta agora é um resultado do que se produziu antes
Fremidamente ordena ela que seus beijos sigam a caravana dos ventos
Pois sabe que eles lhe desembarcam no coração amado de forma rompante, granida
Lhe recordando, deveras, que do lado outro de cá, há uma donzela pelas espreitas, ainda viva
A espera do seu homem, que partira em busca de sonhos
Ou seja lá o tesouro que for
Por isso apoiou cônscia de antemão o seu pedido de adeus
Lembrando-lhe que as dunas podem mudar com o vento
Mas o deserto ainda permanece o mesmo
E assim é o meu amor

Sou um homem em busca de sonhos e tesouros
Um digno, bravo e fiel guerreiro
Mas também sou uma mulher no oásis
A espera da real chegada ou ansiado regresso de seu companheiro
Na companhia das tremeiras, poços beligerantes
Na solidão do mundo vivendo estou
Assim sendo do céu desponta uma estrela cadente
Já é tarde, vai vigente
Ó, minha flâmula de dor!

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