sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pomar da Vida




POMAR DA VIDA

Uma vez eu assistia o sol em pleno amanhecer. Conseguia fixá-lo sem nenhuma contração nos olhos. Sua fronte me parecia ser nada mais que uma capa, um pouco mais escura e bruxuleante. E em sua volta, percebia-o como um aro fulminante e fragoroso, tendo sua luz circulando em inequívoco disparate. O céu parecia um quadro certamente de um pintor excêntrico - Azul era o fundo chambre das tímidas nuances alaranjadas, que sutilmente traçadas e bifurcadas eram anagramas espasmos e dourados de esplendor. Foi um lindo e bárbaro espetáculo.

A natureza é interessante, não é mesmo? Ela nos dá várias lições, mesmo sendo tão silenciosa...

Por exemplo, na minha janela falta entrar uma grande árvore que me viu crescer. A maioria de suas folhas é de um colorido escuro e pasmoso, um verde melequento ou menos luzido. No entanto, no meio de algumas, há um cadinho aqui e outro acolá de folhas mais verdes e cintilantes.

Isso sutilmente me remete às pessoas na vida, onde a maioria encontram-se em profundo estado torpor, sonolento, inconsciente. Todas essas pessoas meramente pacatas são pedregulhos para seus próprios caminhos. Outras, no entanto, como as folhas  mais verdejantes possuem um mistério mais luminoso, consciente e vívido. Irônico, não?

Esse contraste é uma simples ressonância. No entanto se você separar um grupo do outro, ambos se tornarão insignificantes. Se você retira da árvore, do Todo, o verde mais pálido e escuro, que sustentáculo teriam o êxtase e a celebração das outras folhas cintilantes? E se você acaba com essas folhas tênues, como podemos identificar a culminância das outras sombras, essas mesmas que estão em processo de iluminação?

Isso tudo parece a alma humana - Feita de luz singular, porém, incomensurável, infinita acompanhada, outrossim, de milhares de outras sombras dentro e ao redor de si. Penumbras dissipantes e limitadas por natureza.

Todas fazem parte de uma mesma obra. Todas acentuam um mesmo significado.

Todas são duais caminhos que te conduzem a uma só chegada, a uma só conclusão.

Todas, porém, são oriundas das mesmas raízes, o mesmo tronco as protege, os mesmos galhos as enlevam.

Todas são cortinas e baluartes artísticos dos mesmos sabiás, das mesmas borboletas dançarinas. Todas recebem a mesma chuva, o mesmo sol e são bravamente despidas no mesmo outono.

 Todas são todas e todas ainda assim são nenhuma. Diferentes entre si até como nós somos e não obstante seguidas de um mesmo brilho e significado!

Pedro Drumond

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